Além das Aparências - Veja além das suas Aparências

Capítulo 7: "Quem sou" - parte 3

mesmo.

Era bem verdade, eu sou um completo idiota! Mas, não podia encarar isso. Me aproximei dela, e então, disse: 

—Cassie, vai no desfile. Pela nossa amizade. Tenho bons lugares VIP, comprei com antecedência em troca de resposta dos exames de matemática. — disse ela abriu um sorriso. 

Ela suspirou e então, assentiu com a cabeça firmemente e saímos da sala, e apagamos as luzes do teatro.

Julia se aproximou de nós segurando três latinhas de refrigerante, sorridente ela disse justificando:

—Pessoal, vocês não vão acreditar! Estão dando refrigerante de graça! Peguei para vocês. — disse ela colocando nas nossas mãos. 

Observei Cassie, que olhou para o refrigerante e deu de ombros, abriu e bebeu. Aquilo me surpreendeu, e Julia também, que lentamente abriu a sua garrafa e tomou um gole pequeno. Juntos, nos dirigimos em direção ao grupo de apoio, e Cassie parecia estar nervosa com a proposta:

—Julia, não sei se eu quero prosseguir com o grupo de apoio. A peça semana que vem vai iniciar os ensaios, e precisamos de foco e concentração. — disse ela com a voz trêmula. 

—Qual é Cassie, até parece que você está com medo. — disse Julia passando a mão pelo ombro de Cassie e Cassie respondeu:

—Bobagem! Eu não tenho medo você sabe disso. — disse ela retrucando.

  —Então, como funciona esse gripo aí? — disse curioso. 

—Ah, é um grupo para gordos. Você não entenderia. — disse Cassie respondendo.

  —E porque não? — perguntei confuso.
Julia então, cochichou algo na orelha de Cassie, e Julia respondeu:

—Você pode participar. — disse ela por fim. 

Cassie deu uma risadinha, e nós três caminhamos em direção a sala do grupo de apoio.

Na janela, havia uma placa escrita:

“Seja bem—vindo, aqui somos todos irmãos.”.

—O que é isso? grupo da irmandade? — debochei rindo.

   Julia revirou os olhos, enquanto Cassie dava risada. 

Cassie deu umas batidinhas na porta, e então, uma garota baixa abriu com um sorriso no rosto e olhou com um semblante de assombro para mim e eu percebi que eu a conhecia. Esta era a Sara, a menina líder de torcida que o pessoal zoou uma certa feita.

Ela havia sido reportada por não estar nos padrões aceitos, e por isso, o time de lacrosse fora acionado para dar um

“jeitinho nela.” 

—O que ele está fazendo aqui? — perguntou ela assustada.

—Ele veio assistir para ver se pode oficialmente participar do grupo de apoio. — disse Cassie com simplicidade.  

—Sinto muito meninas, mas, ele não é aceito por aqui. — disse Sara séria.

  —E porque não? — perguntou Julia séria.

   —Deixe meninas, eu resolvo isso. — disse e elas me olharam, Sara principalmente:

—Olha, eu sei que o que eu fiz com você foi errado. E nenhuma palavra minha pode justificar os meus atos. Porém, eu já aprendi a lição, e quero realmente me reconciliar com você. — disse sendo muito sincero. 

Sara me olhou do alto a baixo, e então, Cassie disse:

—Olha, não sei o que é que esse garoto fez. Mas, seja lá o que for, ele fez comigo também. E custou para mim perdoa-lo. Porém, ele realmente mudou e se esse grupo for de braços abertos, vai recebê-lo. — disse ela sorrindo com sutileza.

—Muito bem, ele pode entrar. Mas, qualquer brincadeira sem graça ele será posto para fora. — disse ela em um tom de alarde. 

Respirei fundo, aliviado por ter sido escolhido, sentei afastado das meninas.

O grupo era pequeno, e apesar disso, ainda recebia olhares nervosos, como se soubessem de todos os meus pecados. Sara ficou no meio da sala, limpou a garganta e disse:

—Olá pessoal. Sejam todos bem vindos, hoje, temos um visitante. E, como padrão, palmas para o Louis Wilson. — disse ela puxando as palmas.

Todos batem palmas, e acanhado eu dei um sorriso fraco e tímido.

   —Bom, hoje vamos dar sequência aquele treino do espelho. Louis quer um espelho? — perguntou ela me mostrando um espelho, eu assenti e ela surpresa me entregou o espelho e disse:

—Porque não começa? É só dizer sua característica, o que vê em bonito em você. —disse ela com simplicidade na voz.

Eu respirei fundo, e então, disse com calma:

—Tenho um belo par de olhos, e um nariz de batata charmoso. Uma pele oleosa que dá viço. — disse e todos deram risada: — também tenho uma orelha enorme, mas acho ela atraente. Tenho muitas coisas que eu quero dizer, mas, vai tomar o tempo de vocês. —E eles riram.  

Então, Sara com um sorriso no rosto simpático disse:

—Muito bem Louis, agora, vamos usar o exemplo de Louis e fazer mesmo. Que tal eu escolher alguém para nos incentivar? — Pude sentir o peso dos olhos dela e por fim, ela disse:

—Que tal, Cassie? — disse ela sorrindo tranquilamente. 

Cassie tentou falar que não, mas, não houve jeito.

E Cassie trêmula disse:

—Eu não consigo... Eu sinto muito! —disse ela jogando o espelho no chão:

— Eu não posso fazer isso! Não há nada demais em mim! Nada de belo! Eu sou gorda feia e Insuficiente e nada vai mudar. — E ela desabou, chorou silenciosamente, dolorosamente e como se quisesse há muito tempo gritar.

Um intenso choro de tristeza. Eu não resisti e fui abraça-la, eu quis tirar a sua dor, quis que aquele peso sumisse, mas, não pude e então, eu a envolvi em meus braços, e ela chorou, nós choramos. Julia chorou, e todos ficaram mudos, a reunião acabara ali.

O sinal tocou, e fomos para sala, e Cassie, ao banheiro. Deixamo-la ir, nada podia fazermos. E depois, não vimos ela, só no dia seguinte, com um outro ânimo, ou ela disfarçava muito bem.  

Cheguei em casa, e então, meu pai não estava em casa, para variar e minha mãe estava preparando o almoço, para variar, sozinha:

—Mãe, onde está o pai? —perguntei abrindo a geladeira e pegando uma maçã.  

—Oi filho. Na câmara, pra variar. E a escola como foi? —perguntou ela descascando o alho.

—Intenso. —disse sentando na cadeira ao seu lado.

—O time não te perturbou não né? — disse ela erguendo a sobrancelhas. 

—Não. Foi outra coisa —disse e contei sobre Cassie e minha mãe ouviu com atenção.

Minha mãe era incrível, porém, meu pai já era o oposto, duro, severo, rígido. E eu não esperava outra coisa, afinal, ele era o prefeito e tudo tinha que ter ordem e decência.