Capítulo 24: "Tic- Tac"

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Assim que chegamos na sala, havia no mínimo umas 10 pessoas sentadas em volta de uma mesa longa e branca. Eu olhei desconfiada, e a menina que estava me conduzindo disse:

—Líderes, esta é a famosa Cassie. Cassie, esses sãos os líderes dos grupos de apoio da escola. —disse ela me apresentando, e eu sorri com timidez.  

 —Olá a todos, é um prazer conhece-los. —disse sorrindo com leveza.  

—O prazer é nosso. — disse uma das meninas de cabelo preso e cacheado escuro.

—Muito bem Cassie, vamos te explicar o que está acontecendo aqui. Por favor, sente-se.
—disse a menina que me abordou no corredor, indicando a cadeira.

Assim que eu me sentei, houve um silêncio meio constrangedor, e por fim, finalmente alguém decidiu tomar a iniciativa de dizer:

—Estamos enfrentando um momento delicado, a nossa presidente se formou ano passado e nesse estamos a procura de quem possa substitui-la. Geralmente, novatos não tem essa dadiva, mas, com base na sua fama e experiencia sinto que podemos abrir uma exceção para você ser a nossa presidente. — disse a menina com um aparelho odontológico na boca.

Eu olhei para todos, desconfiada, eu realmente esperava que fosse uma piada ou um trocadilho qualquer. Foi então, que como nenhum deles manifestaram a opinião deles, eu disse:

—É sério isso?! —perguntei incrédula. }

  —Sim Cassie, precisamos de um presidente. E você é a pessoa mais indicada para isso, e então, você topa? —perguntou ela me olhando com os olhos brilhantes.

E pensei, e então, disse:

—Se precisam de uma presidente, então, terão a presidente de vocês. Só precisam me ajudar com isso porque eu não tenho a menor ideia do que rola na presidência de grupos de apoio. — disse sorrindo e todos bateram palmas.   Carla, também estava presente, me deu um enorme abraço e ficamos ali conversando sobre o grupo e as responsabilidades, e quando tocou o sinal para irmos a classe, a menina de aparelho apareceu:  —Cassie, esses são os seus horários. temos encontro todos os dias depois das aulas, e as vezes, até quando temos aula livre nos encontramos. Você precisa fazer um discurso de apresentação, e tenho certeza de que será lindo. — disse ela sorrindo simpaticamente.

—É mesmo necessário esse discurso? — perguntei timida.  

 —É sim, você vai se sair bem. Tenho certeza, boa aula e até mais. — disse ela caminhando apressada pelo corredor, sumindo de repente.

   —Puxa, isso que é ter trabalho dobrado. — comentou Carla sorrindo, e eu sorri de volta.  

As aulas seguintes foram: Arte da costura, e postura de uma estilista.

Nem sequer sabia da existência dessas aulas, e achei um máximo as duas. E quando tocou o ultimo sinal, a garota de aparelho apareceu sorrindo e dizendo:

—E então? está nervosa? Já tem o discurso? — perguntou ela sorrindo de orelha a orelha para mim. 

 —Bem, como você se chama? —perguntei com delicadeza. 

—Tory. —disse ela sorrindo mais ainda porque eu me referi a ela :— quer dizer, Victoria, mas, todos me chamam de Tory. Você pode me chamar também,. -disse ela sorrindo e eu assenti lentamente com a cabeça.

—Eu não fiz nenhum discurso, vou improvisar. —disse sorrindo e ela me olhou assustada, como se não estivesse acostumada com isso. 

  —Você vai improvisar? — perguntou ela me olhando incrédula.   

—Sim ué, confia. Vai dar tudo certo. Então, é agora? — perguntei meia perdida.

—Sim. Vamos lá. —disse Tory ainda me olhando estranho.  

Caminhamos em silêncio até finalmente chegarmos na sala, ali haviam carteiras e cadeiras em circulo, e havia muitas pessoas sentadas , meus olhos nem conseguiram contabilizar de tão nervosa que eu estava. Assim que eu cheguei, houve uma surra de palmas, e então, eu apenas dei uma risada acanhada e tentei cumprimentar a todos.

A menina que me abordou no corredor, sorridente disse:

—Bom, é com muita honra que eu apresento a vocês a nossa nova presidente. Ela tem um histórico muito importante para nós e para a nossa escola, e certamente, poderá nos ajudar a lidarmos com a nossa diferenças com amor e carinho. Por isso, gostaria que vocês ouvissem o que ela tem a dizer, e prestem atenção em tudo. —disse ela sorrindo, e cochichou para mim: — Pode dizer o seu discurso. — E eu assenti com a cabeça.

—Olá pessoal, eu sou a Cassie. — disse sorrindo fraquinho: — Fui meia pega de surpresa nisso tudo, até mesmo para entrar aqui. Bem, eu gostaria de dizer que, há muito tempo atrás, eu já estive sentada nessas cadeiras ouvindo alguém me dizer coisas que eu não conseguia acreditar.  Eu era Bulemica, e sofria de depressão e ansiedade. Para mim, era um monstro que lutava todos os dias, e esse monstro, ele crescia e crescia a cada vez mais. Eu lutei, mas não porque eu era forte, mas porque, eu tinha medo desse monstro. E eu perdi, eu perdi totalmente as minhas forças, totalmente as minhas esperanças, eu deixei o monstro crescer, eu o alimentei. E todas as vezes que eu me sentava naquele vaso e vomitava propositalmente com medo de demonstrar fraqueza, eu sentia ele gritar e me vencer a cada dia mais. Eu não lutava contra a Bulimia, eu lutava contra a mim mesma. Eu não praticava Gordofobia com o próximo, mas, cometia um dos piores pecados que eu poderia cometer, eu cometia a Gordofobia comigo mesma. E eu perdi, eu perdi de um jeito que não restou nada de mim. — e eu abaixei os olhos, já estava chorando: — Eu me perdi tentando me encontrar, me perdi tentando me acertar e isso e unão desejo a ninguém. Não dá para mudarmos quem realmente somos, não dá para camuflarmos quem realmente nunca vamos ser. Eu sonhava em ser quem eu não podia ser, e este, foi o meu maior pecado. Descontei em mim mesma, apanhei de mim mesma, e nessa luta absurda, eu perdi. E quando abri os olhos naquele hospital, em carne e osso, eu percebi que durante esse tempo todo, a minha luta foi comigo mesma, e o monstro apenas venceu. E hoje, olha onde eu estou, no mesmo ponto de partida de antes, aqui curada, olhando para vocês. Eu não sei como funciona essa coisa toda, mas, o que eu sei é que, se tem uma coisa que não podemos fugir é das nossas curvas, é de quem nós somos. Porque, não é nada de errado termos elas, não é crime amar quem realmente somos, não é pecado. A vida, vai muito além das suas curvas. Não precisa ter medo dela, não precisa se sentir menosprezado por elas, elas fazem parte de vocês, elas são os seus talentos, ela são quem vocês são. E todas as vezes, que a escuridão vier, que o medo, que o monstro que o pânico, que o desejo de acabar com tudo venha, lembre-se, tudo o que você mais tem é aquilo que está ao seu redor. Hoje, vocês têm amigos e esse grupo maravilhoso, certamente ajudam vocês a lidarem com tufo isso, e isso aqui é uma família linda que eu gostaria muito de ter participado e compreendido há um tempo atrás. Mas, tive que passar por tudo o que eu passei para estar aqui dizendo a vocês. Suas curvas são características e não defeitos, e sempre que precisar, eu estarei aqui com vocês. Vocês nunca estarão sozinhos. — E eu fiquei calada, e eu pude ouvir, cada pessoa ao meu redor, derramando lagrimas e suspirando de chorar, e consequentemente, veio palmas, gritos, e dali em diante, aquelas pessoas se tornaram a minha família, os meus amigos.

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