Capitulo 5: "Humilhação" - parte 1

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Eu estava no chão, chorando no meio do corredor da quadra, eu queria ficar ali, me esquecendo de tudo que eu tinha visto, e vivido. Esquecendo de mim mesma, eu sentia uma dor imensa dentro de mim, ouvi o sinal tocar, mas não me importei, eu só queria sumir. Fiquei ali ajoelhada, chorando e sofrendo com a minha dor, quando recebi o toque de SMS no celular, eu só queria jogar o celular para longe e ficar ali. SMS:

JU:

—onde você está? Falta meia hora do Teatro....

JU

— 15 minutos depois

JU:

—CASS PELO AMOR DE DEUS CADÊ VOCÊ?

JU:

—CASS JÁ TENTEI CHUTAR O TRASSEIRO DO LOUIS, MAS, ADIVINHA, O CREDITO NÃO ESTA! CADÊ VOCÊ?

 35 minutos

 JU:

—EU JURO QUE QUANDO EU TE ENCONTRAR, EU VOU TE DAR UM SAFONÃO! Ali, ajoelhada no chão, eu só joguei o celular para o lado, e fiquei quieta, consumindo a humilhação.

A humilhação de ser eu mesma.

Fechei os olhos, e o meu celular tocou inúmeras vezes, eu ainda estava coberta com aquela gosma marrom, mas, eu não me importava, foi quando, ouvi passos atrás de mim, mas eu também não me liguei, e senti uma mão no meu ombro.

Eu olhei para cima, e vi que era a professora do teatro, ela me olhou, e disse:

—Finalmente achei você, Cass. O que houve? — perguntou ela se ajoelhando perante mim. Eu engoli a seco, eu não estava disposta para falar, nem mesmo tentar.

Eu olhei para o lado, e logo em seguida, Julia apareceu. Trêmula, de olhos inchados, ela veio ao meu encontro e nem pensou duas vezes, me deu um abraço.

—O que houve Cass? —perguntou Júlia com leveza, como se eu fosse de vidro.

Talvez, nesse exato momento, eu ainda seja de vidro, talvez e somente talvez, eu esteja sensível demais para mim mesma. Eu sinto que a qualquer momento, eu vou quebrar.

Eu olhei para os olhos de Júlia, e comecei a chorar, chorei até o meu peito inflar, ela fez carinho na minha cabeça, e a professora, falou:

—Julia, poderia nos dar um tempo a sós? — perguntou a professora e Julia me deu um beijo na testa e se levantou e saiu.

A professora, esticou a mão para mim levantar, mas, eu não demonstrei reação, porque na verdade, eu queria ficar aqui, queria ficar aqui no chão, e chorando.

A professora, com um sorriso largo e calmo, disse:

—Cassie, está na hora de ficar em pé. — disse ela sorrindo tranquilamente.

Com a voz embargada, eu disse:

—Eu não quero me levantar, nunca mais. — disse ainda sentindo aquela dor.

—Sabe, o chão pode muito bem ser o seu lugar. Tem uma boa visão, e até se torna confortável. Mas, o chão Cassie, ele não te faz subir em lugar algum, o chão, só te condiciona a ter uma vida em que o chão somente ele, é o seu conforto. Não fique no chão Cassie, porque, se você ficar, só vai colher o que rastejar por ele. — disse a professora, e estendeu a mão em minha direção.

Eu parei, e então, eu disse:

—Pelo menos o chão, não vai me fazer me sentir um lixo, ou, menos do que eu sou. Pelo menos o chão, é um lugar onde eu posso ficar, e ninguém jamais vai se importar. —disse ainda não estendendo a minha mão.

—Eu tenho algo para te falar Cassie, só existe uma única chance na vida em que podemos realmente ficar no chão. Quando partimos. Não tenha medo de ser quem você é, tenha medo do que você se tornará se não se levantar. Agora ande, você precisa se limpar, e assumir o seu posto nessa vida. Encontre o seu destino Cassie, lute, e saia do chão de cabeça erguida. Quando encarar a vida com força e destreza, você vai obter o seu destino. —disse ela me olhando sutilmente e estendeu a mão com mais ferocidade.

—A senhora não sente raiva as vezes? —perguntei olhando agora para ela nos olhos.

—Depende. — disse a professora.

—Raiva de si mesma? —perguntei abaixando os olhos.

—Eu vou te mostrar algo, prometa que não contará a ninguém. —disse a professora mudando a postura mas ainda com a mão reta voltada a mim.

—Eu prometo. —disse com firmeza.

A professora ergueu a sua saia longa, e ali eu vi o motivo dela usar saias tão longas, sua perna esquerda era uma perna robótica, que subia até o seu joelho, ela movimentou os pés e disse:

—Quando eu me acidentei naquele dia, eu achei que a minha vida fosse acabar. Nem sempre sabemos o porque coisas ruins acontecem conosco, mas, sabemos que, quando mais difícil foi a vida, mais aprendizado e sábios nos tornamos. Quando eu caí do alto a baixo no palco, naquele dia, eu achei que tudo perderia a graça. E ficou mais terrível, quando eu soube que minha perna havia pegado uma infecção tão forte que não tinha como mais recuperá-la, e eu tive que amputar. Quando vi o que eu tinha e o que foi me tomado, eu sentia nojo de mim. Sentia vergonha da pena que as pessoas sentiam por mim, e durante toda a minha vida, eu achei que aquilo que as pessoas pensassem de mim, era o que era. — disse ela com tranquilidade.

—E o que a Senhora fez? — perguntei a ela ainda olhando para a perna.

 —Eu me levantei, e passei a procurar o meu destino. Achei que eu ia parar de atuar nos teatros, achei que eu ia ter que abrir mão da minha vida que eu tanto amava, mas por incrível que pareça, eu descobri que, aqueles que falavam de mim, eram os primeiros que iriam me aplaudir quando uma peça terminassem. —disse ela sorrindo.

—E foi assim? — perguntei engolindo a seco.

—Exatamente assim. Aqueles que um dia, estavam me zombando e rindo da minha perna, foram os mesmos que trabalharam comigo e pediram autógrafos. Você entende o que na verdade, eu quero dizer? —eu fiz que não com a cabeça.

Ela sorriu e disse:

—Não importa o que falam de você, no final, lá no fundo, aqueles que fazem, são aqueles que mais tem desejo de ser como você, mas, não podem. E é por isso que eu decidi falar sobre isso na peça desse ano. Você compreende? —perguntou a professora me olhando com atenção.

Eu assenti com a cabeça, r então, ela novamente abaixou a saia e estendeu a mão e disse:

—Pronta para descobrir o seu destino? — perguntou ela sorrindo e eu respirei fundo e estiquei a mão para ela, ela sorrindo, agarrou bem forte e me colocou de pé.

Ela me levou até o banheiro, e assim, me fez pela primeira vez, me olhar no espelho, e disse:

—Não importa o que você tem por fora Cassie, o que realmente importa é o que você tem por sentir —disse ela colocando a não no meu peito, no sentido do coração. Eu sorri, e pela primeira vez em meses, me olhei no espelho.

A professora me entregou uma toalha, e me deixou remover aquela gosma. E enquanto eu ia tirando aquela gosma marrom, do meu rosto e cabelo, eu ergui a sobrancelha, e revisei tudo aquilo que a professora havia me dito. E não somente isso, mas,

Além das Aparências - Veja além das suas AparênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora