Depois que a enfermeira trouxe o café da manhã, eu me senti realmente muito bem.
Era meio que obrigatório pelo que a enfermeira havia me dito, a refeição naquele horário, o que confesso que me deixou meia preocupada, já que, eu tinha sérios problemas com alimentação. O café da manhã tinha sido: um suco natural sem açúcar (foi horrível), e uma bolacha (O que foi péssimo) e uma maça (Foi pior ainda).
Nenhuma dessas opções eu teria comido, tipo, sério mesmo nenhuma delas (Literalmente, nenhuma), eu geralmente comia pela manhã. Foi então, que o doutor depois de 2 horas e meia, disse que minha mãe estava no hospital, e que me faria a primeira visita. O hospital prezava primeiramente, pelos familiares, e por último os meus amigos. Quando minha mãe entrou, o meu coração parou de bater, a frequência foi se diminuindo, e eu nem sabia como seria esse encontro, tensa, e com muita vergonha, minha mãe entrou com um belo sorriso no rosto, e então, disse:—Ah Cassie! — disse ela exclamando com um sorriso enorme no rosto.
—Mãe, que bom ver a Sra. — disse sorrindo fraquinho.
—Que susto que você me deu, minha filha. Eu achei que tivesse...— e ela engoliu a seco, naturalmente, não queria dizer “Morrido”.
—Pois é mãe, não foi dessa vez que a Sra. se livrou de mim. — disse sorrindo e minha mãe fechou o semblante, obviamente, zombar naquele momento não era legal.
—Cassie, porque não me disse sobre a Bulimia? — perguntou ela, e eu já imaginava aquela pergunta, mas, infelizmente, eu tinha as respostas.
—Bom, primeiramente porque, a Sra. estava tão mal quando eu te vi nesse hospital, enchia a cara a noite, e trabalhava durante o dia. Acredito que não tinha nem tempo para problemas fracos como este. —disse dando de ombros.
—Mas Cassie, isso não é verdade. — comentou minha mãe surpresa com a resposta: — Mãe sempre estará aqui para você. É bem verdade que eu andei meia desiquilibrada recentemente, mas, estou aqui, e seus amigos também. — disse ela me olhando nos olhos.
—Agora eu sei que vocês estão. Mas, no momento, achei que fosse um pecado, e que eu tinha que fechar a boca e lutar contra. Achei que não fosse importante, até porque, a vida inteira gritava pra mim a minha condição. —disse suspirando e os meus olhos se encheram de lágrimas.
—Mas filha, a vida é muito mais além das Aparências, as coisas são muito mais além disso. Já pensou se você morresse? — perguntou ela me olhando nos olhos.
—Então, tudo valeria a pena. Porque, para muitas pessoas essa é a solução mãe. — disse e ela arregalou os olhos de terror ou surpresa, não consegui decifrar.
—Cassie! não fala assim. —disse ela me repreendendo.
—Mas mãe, você precisa encarar a realidade. E esta é a minha realidade, eu estou doente mãe. E se, talvez eu estivesse morta agora, seria um peso a menos nesse mundo. — disse com os olhos marejados.
—Porque diz isso? — perguntou ela com os olhos cobertos de lágrimas.
—Porque ninguém gosta de pessoas diferentes, ninguém gosta de pessoas gordas.
Ninguém aceita a gente como somos, precisamos nos modificar. Sempre e sempre nos modificarmos, pra mostrarmos que somos diferentes, temos que fazer loucuras. Tem gente que até hoje faz dietas malucas pra perder o peso, EU já fiz isso. E o que a sociedade faz? —perguntei e a minha mãe ficou me olhando atônita: — NADA! É só mais uma pessoa doente, é só mais uma gorda tendo problemas pra ter atenção. É só mais uma gorda tentando se aparecer, tentando ser aquilo que jamais será, aceita. —disse suspirando, e o meu coração estava acelerado, eu não acredito que eu estava falando aquilo.—Cassie, eu sinto muito. Muito por tudo isso, mas, hoje você está viva e principalmente, bem. E pode lutar contra tudo isso que está dentro de você. E por falar em luta, poderia ter me dito que seu pai havia vindo pra asa também né? — perguntou ela, e eu parei por alguns minutos, quem estava surpresa era eu agora.
—Papai veio? —perguntei olhando a ela.
—Sim, e nem se faça de desentendida viu?! sei que vai fazer o vestido de casamento dele e da digníssima. — disse minha mãe revirando os olhos.
—Mãe, eu sinto muito. Eu a queria contar, só não sabia como. —disse suspirando e minha mãe deu de ombros.
—Tanto faz, não queria ficar sabendo disso mesmo. Só fiquei sabendo quando ele me disse que você não contou sobre a minha internação, por isso, eu sou grata e não vou exigir que você tivesse contado do casamento. Bom, eu acho que vou ter que encontrar um amor pra não ficar sozinha. —disse minha mãe suspirando.
—Como assim?! —perguntei confusa.
—Ué, seu pai tem a loira, você tem Louis, e eu? eu estou sozinha. —disse ela exclamando e revirando os olhos com desdém.—Pensa positivo, a Sra. está livre para buscar alguém, e não lançada. —disse e minha mãe sorriu, e eu sorride volta.
—Eu sinto muito por tudo isso filha, você é tão forte e tão corajosa, certamente vai sair dessa. O hospital tem um bom suporte, e certamente, a sessões lhe farão bem. Você já foi encaminhada. —disse ela me olhando e eu suspirei.
—O Doutor Henrique me disse. Inclusive vou conhece-la, Doutora Hellen. —Disse sorrindo fraco.
—Vai se sair bem, você vai ver. Trate de melhorar rápido para ir para casa viu? — disse a minha mãe ordenando e eu sorri.
—Muito bem meninas, é hora de dar tchau. A hora da visita acabou, mas, tem outros horários. — disse a enfermeira sorrindo a mim.
—Certo. Então, a Sra. vai vir aqui hoje ainda? — perguntei sorrindo de leve.
—Infelizmente não. Seu pai virá aqui te ver, combinamos que iriamos revezar. —disse ela suspirando, e me deu um beijo na minha testa.
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Além das Aparências - Veja além das suas Aparências
RomanceVocê já parou para pensar que suas palavras podem interferir na vida de outra? Não acredita nisso? Tem certeza? Pois eu vou te contar uma história de uma garota normal, que ela me fez pensar duas vezes antes de responder alguém ou até mesmo fazer um...