Capítulo 8: " Nenhum pouco Forte" - parte 2

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Louis e Júlia ficaram naquela discussão, até eu finalmente desligar o celular. Julia desceu as escadas e trouxe ao quarto a pizza que ela havia trazido.

Assim que eu olhei para a pizza, senti o meu estômago revirar, era bem verdade que eu havia comido de tudo há uma hora atrás, porém, quando senti o cheiro da pizza, da gordura eu quis vomitar sem nem querer vomitar. Julia me olhou preocupada e disse:

—Amiga, você está bem? — perguntou ela me olhando com atenção.

—Estou, só um pouco enjoada. — disse colocando a mão na minha barriga.

—Ué comeu algo de ruim? — perguntou ela me olhando com atenção.

—Deve ter sido. Minha mãe deixou o almoço e eu dei uma beliscada. — disse a ela e ela assentiu com a cabeça, seria até demais.

Com muito esforço, comi a pizza, eu realmente não queria comer.

E assim que terminamos, ela disse:

—Meu pai quer que eu trabalhe em meio período. E eu sinceramente, não sei se deveria.
Eu trabalhei lá na Califórnia, mas, não sei se estou pronta para trabalhar aqui. Fiquei todo esse tempo em observação e até ganhei uns trocados bons, porém, trabalhar aqui é como trabalhar em uma constante fábrica de estresse ambulante. Não temos paz em momento algum. —disse ela revirando os olhos.

—Eu gostaria de trabalhar também, investir nessa carreira. Porém, não sei exatamente e se eu aguento o tranco. — disse suspirando.

—Eu entendo. Tem a peça ainda né? — perguntou ela me olhando e eu assenti.

—Eu e Louis adiantamos bastante. Falta a costura e pronto. Porém, eu preciso desenhar exatamente como a professora quer, e isso é difícil. Ela me enviou os desenhos semana passada por e-mail, e francamente foi um desafio compreender. — disse sorrindo.

—Bom, porque não aproveitamos que estamos aqui fazendo nada e não agilizamos os processos? — sugeriu ela e eu assenti com a cabeça.

Enviei na minha impressora os desenhos da professora, já havia enviado alguns a ela e ela acabou fazendo algumas correções, ou melhor, alterou completamente o projeto e só manteve as cores e estampas.

Assim que todas as folhas foram impressas, Julia e eu pegamos a bicicleta e saímos pela porta em direção a escola. Eu estava indo com muita frequência naquele lugar, já estava quase me sentindo em casa. Assim que chegamos, peguei o kit costura e fomos direto para o teatro, e ali ficamos até horas e horas confeccionando.

Foi quando, o meu telefone tocou e cansada, eu atendi:

—Alô? — disse bocejando.

—Alô, por favor, é a Cassie? —falou a voz feminina.

—Sim. É ela mesmo. Quem gostaria? — perguntei com o coração já acelerado.

—Aqui somos do Hospital Sant Baron e o seu número estava no prontuário da Senhora Dayse Jackson O que você é da senhora Jackson? — perguntou a enfermeira.

—Filha. Eu sou filha. — disse me levantando desesperada. Julia levantou-se minutos depois, assustada e preocupada.

—Muito bem, Cassie. Sua mãe está internada no hospital, devido ao um coma alcoólico.
Por gentileza, gostaríamos que você viesse aqui e se for possível, trouxesse os documentos de sua mãe. Tudo bem? —perguntou a enfermeira com cautela, e gentileza.

—Sim, sim. Sem pensar. Estou a caminho. — disse e desligando o celular, corri em direção a porta do camarim e Julia, veio desesperada até mim e disse:

—Cass, o que aconteceu? — perguntou ela preocupada.

—Precisamos ir no hospital, agora! — disse com a voz empostada.

—Mas, porque? o que aconteceu? — perguntou Julia desesperada.

—Minha mãe, ela está no hospital. Em coma alcoólico. — disse desesperada e Júlia correu atrás de mim.

Montamos na bicicleta, e corremos em direção a minha casa.

Peguei a mochila com os documentos, e então, juntas disparamos em direção ao hospital. Minha mãe no hospital, em coma alcoólico. Eu sempre soube que esse dia chegaria, cruzamos a esquina do hospital, quando o meu telefone tocou. Por eu estar na rua eu não atendi, e então, eu cheguei desesperada no hospital, ofegante.

Assim que cheguei lá, avistei um homem de cabelo preto com as mãos na cabeça, ele estava olhando no chão, e assim que entrei ele me olhou e disse:

—Você é a filha dela? —disse ele desesperado.

—Sim. Eu sou a filha dela, e quem você é? — perguntei receosa.

—Eu sou.... bem... nós.... é.... — e ele parou e eu compreendi.

—Muito bem. Eu já entendi, nem precisa prosseguir. O que houve com a minha mãe? —perguntei e ele disse:

—Bem, nós estávamos no bar logo depois do trabalho. E ela começou a beber e a ficar bem.... — E ele parou e disse: — Alterada. E então, nós decidimos ir mais além do que parceiros de bar. Então, quando chegamos no quarto do hotel, bem, bebemos mais algumas bebidas e ela começou a passar mal. A vomitar e a ficar roxa. Eu chamei a ambulância e então, estou aqui desde a hora que ela entrou. Como não sou parente, vi no celular dela o seu número como favorito e coloquei no prontuário. —disse ele suspirando.

—Muito obrigada por socorrer ela. Agora em diante, eu assumo daqui. — disse firmemente e ele concordou com a cabeça.

A médica veio conversar comigo, explicou que o caso da minha mãe por hora estava controlado. E depois de alguns minutos, eu pude vê-la. Julia ficou na recepção, no aguardo de notícias. Assim que eu entrei no quarto, minha mãe estava entubada, respirando sob maquinas, e aquela cena chocou a minha mente. Assim que eu entrei, ela estava com os olhos fechados e então, eu disse:

—O que a Senhora aprontou mãe? Porque fez isso? — perguntei suspirando e segurei em sua mão.

Ela não respondeu, o que eu esperava? Que ela simplesmente respondesse? Eu ainda não sabia o porquê ela fazia isso, em parte eu achava que era pelo o meu pai, mas, em outra, eu sinceramente não compreendia o porquê ela fazia aquilo. Para mim, ela tinha algo a mais dentro dela querendo gritar.

Foi então, que eu me abaixei perto dela e disse:

—Nós duas estamos quebradas. Porém, nós duas precisamos lutar uma pela outra, por favor, quando acordar lembre-se disso. Você merece muito mais do que você pensa. Eu não tenho forças para lidar comigo mesma, mas, o que resta em mim, eu passo para você. — disse esfregando a mão no dorso da mão dela e o horário de visita acabou.

Sai em direção ao corredor frio do hospital, deixando um pedaço de mim lá dentro.
Julia me deu a mão, e juntas, saímos em direção para casa. Porém, eu estava sem rumo.

Além das Aparências - Veja além das suas AparênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora