Capítulo 4: "Baixos e mais Baixos" - parte 4

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Julia segurou o meu braço, e me puxou de volta e disse:

—Não senhora, já colocamos o nome e vamos até onde vai dar. —disse ela com uma voz autoritária: —Pensa assim, deve ser algo para distrairmos. E lembra que em breve, virá notícias boas sobre o desfile da cidade. —disse Julia, e aquilo me convenceu.

Era verdade, eu precisava ter a mente leve para conseguir focar no desfile. Mas era impossível, talvez o meu perfeccionismo, ou possivelmente a minha mente ansiosa e insegura, me dizia que eu jamais conseguiria manter a calma. Mas, não custava tentar. Foi então, que eu deixei a proposta ficar, afinal, eu já estive em condições de estar no lugar de Sara, e obviamente, toda pessoa possível era aceito. A aula de Biologia voou alto, na verdade, foi devagar mas eu mal prestei a atenção, o teatro seria na próxima aula, e eu estava nervosa. Seria a primeira aula que iríamos conversar de fato, sobre a peça. Mas, o engraçado, era que mesmo fazendo a mesma coisa sempre, eu tinha a sensação de que, todas as vezes, eu teria a mesma sensação. Suor nas mãos, estômago frio, era como se inúmeras borboletas dançassem em meu estômago.

Era incrível essa sensação.

O sinal tocou, quando recebi um SMS, então, eu peguei no celular e vi:

SMS:

NÚMERO DESCONHECIDO:

—Cass? Você tá aí?

CASS:

—Quem é?

DESCONHECIDO:

—Louis. Poderia me ajudar? Problema, urgente. Me encontre na quadra, ala leste.

CASS:

—você não tem aula garoto?

LOUIS:

—Vem logo.

 Desliguei o telefone, e então, cochichei para Julia:

—Problema com o Louis. Se eu soubesse que seria babá, não teria aceito. — comentei revirando os olhos.

—Quer que eu vá com você? —perguntou ela baixinho.

—Não, eu estou legal. Só justifica para o professor. —disse, e me levantei de pressa.

Seja lá o que for, vindo de Louis, não seria boa coisa. Sai pelo corredor em direção a quadra, olhei na placa e tinha :

"Ala leste", segui as instruções.

A quadra estava com uma classe em ação, passei pelo corredor onde havia grades de arames torcidos, a quadra em si, era enorme, havia um chão verde, e gols brancos.

Continuei o percurso, até encontrar a arquibancada, e foi aí que comecei a ficar nervosa:

—Louis? Onde você está? — perguntei preocupada. Não houve resposta, havia uma porta entreaberta, coloquei a mão na porta, e então, eu disse:

—Louis? Você está aí? — chamei, e não houve resposta.

Empurrei a porta, a porta rangeu, e então, eu coloquei a cabeça dentro, a sala estava escura, havia varias portas, parecia o vestiário.

Quando coloquei o corpo todo dentro, eu ouvi uma voz familiar atrás de mim:

—CASSIE, NÃO! — Gritou a voz.

Tarde demais, alguém colocou algo na minha cabeça, tudo ficou escuro, senti o meu corpo rodar, e então, sem saber onde que eu estava, ouvi apenas risadas e alguém dizer:

—Sabia que ela viria, essa gorda não perde a chance de se aparecer. — ouvi no fundo. Mais risadas.

—Não basta ser gorda, tem que ser burra. —comentou outra voz. Mais risadas.

—E ela achou mesmo que o Louis viria até ela. — outra voz. O meu corpo estava rodando, minha mente estava tonta.

E eu senti algo meloso e líquido caindo sobre mim. Eu não sabia o que era, eu só sabia que tinha alguma coisa de errado. Mas que diabos era isso? E onde estava o Louis? Sem conseguir contar o equilíbrio, eu caí. E fiquei ali no chão por um bom tempo. Comecei a chorar, freneticamente e loucamente, com a mente agitada, coloquei a mão na cabeça, e então, senti que era um balde. Assim que o removi, eu vi um líquido grosso, e pastoso na minha roupa, era marrom. Assustada, e atordoada, olhei em volta. Havia uma roda de jogadores de lacrosse e líderes de torcida a minha volta, Louis estava ali, ele estava paralisado.

O meu coração, se encheu de fúria, me levantei mas escorrei no chão, eu me sentia humilhada, me sentia incapaz, me senti um nada. Quando finalmente consegui me conter em pé, eu peguei o balde, e joguei em Louis, ele me olhou com um olhar arregalado. Parecia não saber o certo do que fazer, mas, algo no fundo dos seus olhos, me olhou com um olhar que eu não soube interpretar. E então, sai escorrendo pelo piso. Lágrimas escorriam nos meus olhos, e eu jurei, jurei a mim mesma que eu iria me livrar daquela gordura. 

Eu odiava a mim mesma. 

Eu odiava tudo isso!

Além das Aparências - Veja além das suas AparênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora