Além das Aparências - Veja além das suas Aparências

Capítulo 3: "Um Novo Ciclo" - parte 1

Quatro anos depois...

Eu estava fazendo aquilo de novo, ajoelhada em frente ao vaso, envergonhada de mim mesma. Eu estava me perguntando:

  " Onde foi parar aquela menina tão corajosa?"

E eu te me respondo: Ela morreu.

Desde aquele dia, ela morreu.

Eu me lembro de como tudo aconteceu...  

Eu estava sentada na carteira, era a minha primeira aula no ensino médio, como todos os anos, lá estava eu, sentada no primeiro lugar. Eu estava nervosa, mas, confiante em com o seria a minha vida a partir dali. Eu aprendi, que o ensino médio pode te fazer crescer, mas, também pode ser a sua ruína. Não era a escola e sim, as pessoas ao meu redor. Eu aprendi que a vida nem sempre é fácil, mas, temos que enfrentar a vida da forma como pudermos levar e enfrentar. Sentada na primeira carteira, olhando no relógio, e torcendo que o meu primeiro dia, fosse bom. A Sala foi enchendo de gente, e com tudo, eu fui me sentindo mais incomodada, parecia que todos os olhares estavam voltados para mim, e eu odiava essa sensação.

 —Com licença, posso sentar aqui no seu lugar? —Era uma garota sardenta e ruiva.

Eu olhei para ela, e falei:

—Porque? —perguntei revirando os olhos.

—Porque os outros não conseguem ver o quadro. —disse ela com simplicidade.  

Eu olhei para trás, e os alunos atrás de mim reviravam os olhos, eu suspirei, e disse:

—Está bem. —disse e peguei a minha bolsa, e fui nas carteiras de trás.

Eu estava gorda, eu sou gorda.

E o mundo de gordos não é mil maravilhas, as pessoas tem visão de que, ser gordo é ser feio.

Gordo é sinônimo de falta de saúde, falta de exercícios, e até mesmo, desleixo. Porém, o que as pessoas não sabem, é que isso é uma falta de informação, desde a 6º série, eu mudei muito.

As oportunidades vieram, e todas eu agarrei, agora, eu vou avançar para o meu próximo passo: 

Trabalhar no desfile da cidade.  

Durante todo meu ano letivo do ensino fundamental, eu havia tido várias oportunidades, e até que houve uma certa fama em produzir modelos de roupas, para o teatro da escola. E agora, eu só queria voar mais alto, fazer algo que realmente ficasse para a escola, e o desfile era a minha chance perfeita. Havia também, um sonho onde eu queria chegar: Cursar a faculdade de moda da Califórnia.

Um sonho que se tornou presente quando o meu estilista favorito anuncio que estava fazendo parceria com a instituição. Aquilo, foi a ponta para o meu sonho de ser estilista decolar.  

—Muito bem turma, sentem e prestem atenção: A cidade está levantando novos voluntários para o desfile de caridade desse ano. O tema é: Evolução da Cidade. O desfile terá fila de pessoas importantes que fizeram a Chesterville crescer. Por isso, qualquer aluno convidado tem a honra de participar, vou passar o papel e vocês anotem o seu nome e o que quer trabalhar. — disse o professor com cautela. 

A folha foi-se passando até chegar em mim, eu li e reli os nomes até anotar o meu.

"Cassie —Figurinista."

Assim que voltou a folha para o professor, ele leu e releu e disse: 

—Cassie, figurinista? Corajosa. —disse o professor, e eu olhei para baixo.  

Todos me olharam, a maioria debochou, outras nem ligaram. O meu coração estava na garganta, porque justo o meu nome ele tinha que ler? Ele me olhou por alguns segundos, e depois prosseguiu com a aula. Parece que, quanto menos você quer ser notada, mais você é. E isso me deixa incomodada porque, nem sempre queremos ser notados e visto. Uma ideia bem diferente quando temos 11 anos e estamos na 6º série.

Havia ficado sabendo que, houveram outros grupos de apoio as crianças, o que para mim, era uma coisa que me deixava orgulhosa. Mas, hoje, estou em outra escola, em outra turma, e hoje, é o primeiro dia de aula em uma escola diferente, e sinceramente, não sei se quero ser vista aqui. 

Muitas coisas mudaram em mim, eu não sou uma garotinha mais, agora, tenho 16 anos, e quero realmente fazer alguma coisa que me faça me sentir util. Já não uso roupas da moda tanto quanto antes, e agora, prefiro o meu pretinho básico do que uma cor vibrante, acredito que, quanto menos notada eu for, mais em paz eu estarei. A verdade é que, eu tenho medo, eu ouvi coisas belas na outra escola, mas, eu também ouvi coisas duras e pesadas sobre mim, e não quero mais ouvir. Decidi então, fazer um regime, e fazer exercícios, decidi em vir de bicicleta e não de ônibus escolar.

E entreguei um currículo para a lanchonete de tacos da cidade, tudo isso, para ter verba para fazer exercícios, e alcançar o peso perfeito! Eu sei que eu falei que eu era gorda, mas, eu estou cansada de ser. Eu não quero mais olhares para mim, eu não quero ser vista, ou até mesmo lembrada, eu quero que as pessoas se esqueçam de quem eu sou.

O sinal tocou, eu fui caminhando em direção ao meu armário, no meio do caminho, acabei trombando com alguém, eu sempre fazia isso. 

— Ai! —exclamei colocando a mão no ombro. 

—Cuidado por onde anda. —disse ele abaixando pegando os papéis.

—Me desculpe, eu estava...—e ele não me deixou concluir.

 —Distraída? É pensei que estivesse mesmo. —disse ele passando a mão nos cabelos castanhos, e recolhendo os papéis com pressa. 

—Me, desculpe. —disse sorrindo com leveza.

 —Preste atenção. —disse ele e me olhou.  

Quando eu olhei para aqueles olhos, eu perdi a noção do que eu estava indo fazer, seus olhos da cor de mel, chamaram a minha atenção, ele me olhou de volta, mas, logo abaixou a cabeça e disse:

—Eu preciso ir, tenho teste para o lacrosse. — disse e se levantando bruscamente, saiu apressado sem dizer mais nada.  

Ajoelhada sob o corredor da escola, eu engoli a seco com um desejo enorme de saber o seu nome, e algo estranho aconteceu: Eu estava sorrindo.

Me levantei depois de algum tempo ainda ajoelhada, e ouvi uma voz atrás de mim, um tanto quanto familiar:  

—Puxa, você adora fazer isso né? — disse a voz feminina atrás de mim. 

Quando eu me virei, eu abri a boca, mal podia acreditar em quem eu estava vendo.