Eu sempre fui um garoto tranquilo, porém, muito talentoso.
Minha maior paixão, era fotografar. Via através das câmeras a possibilidade de poder gritar sem usar a voz, e esse sonho, se seguiu até o primeiro preconceito bater na minha cara e desmoronar tudo. E esse trauma me seguiu até o início do primeiro ano, onde, decidi lutar contra mim mesmo. Isso mesmo que você leu, lutar contra o meu próprio corpo, a minha própria essência, tudo isso porque tive medo de encarar a minha realidade em frente ao espelho, pois, eu sabia que, se eu encarasse todas as outras pessoas me encarariam.
Então, comecei um trabalho logo depois da escola de meio período, com o salário paguei a minha própria academia e assim, fui perdendo o peso e quando cheguei na escola e vi que todos comentavam sobre mim no primeiro ano, como eu havia mudado tão rápido, e de, o garoto gordo e feio, fui subindo para o garoto gato do primeiro ano. E quando Cassie esbarrou pela primeira vez no corredor (tiveram algumas), eu me assustei com a minha antiga imagem refletida no espelho. E até cheguei a me perguntar, como ela tinha coragem de sair assim na rua, não por vergonha de si mesma, mas, como ela não podia ter medo do preconceito? E depois de ficar próximo a ela, compreendi muito bem, ou melhor, muito pouco. Pena que só percebi a força de Cassie, depois de tudo.
E logo depois de todo o sofrimento, finalmente peguei a câmera e tirei uma foto, e foi aquela foto que abriu fronteiras para mim, mudei de cidade, e fiz curso técnico de fotografia e dali até hoje, jamais parei. Agora, sentado na poltrona do avião, analisando tudo o que eu passei, posso ver o quão sortudo eu fui, e só percebi isso, quando conheci Cassie, e a sua força, me provou que era possível ser eu mesmo.
Ainda me lembro daquela vez, onde descobri a fraqueza de Cassie, foi horrível...
Julia, a sua amiga, estava em frente a porta do banheiro feminino, roendo as unhas e com a boca tremula, ela me olhou e fingiu um carisma onde, era nítido que estava sendo forçado. Assim que eu me aproximei, ela sorriu mais forte e eu disse:
—Oi, o que está fazendo aqui? — perguntei curioso.
—Hã... Nada! — exclamou ela um pouco eufórica do que o normal.
—Você mente tão ruim quanto o professor de filosofia dizendo que vai dar uma nota extra. — disse e ela suspirou e colocou as mãos no rosto.—Olha, isso não é fácil de se lidar. Nem eu sei como essa garota entrou nessa! —exclamou ela, falando sozinha.
—Bom, talvez, não precise lidar com isso sozinha. Que tal compartilhar? — perguntei insistindo.
Julia então, deu um longo suspiro e com as mãos no quadril, ela disse:
—Jura não contar para ninguém? — perguntou ela e eu revirei os olhos e disse:
—Alguém quem? O zelador? — falei ironicamente e ela disse:
—Louis é sério! Promete não contar a ninguém? — disse ela segurando no meu braço e eu assenti.
Julia então, segurando no meu braço, me empurrou para o armário do outro lado e disse:
—Cass está tendo alguns problemas... — disse ela e o meu coração se apertou.
—Que tipo de problemas? — insisti olhando em seus olhos.
—Bem, ela saiu do grupo de apoio e correu para o banheiro. Ela sempre faz isso, sempre quando ficar nervosa ou quando alguém fala com ela. — disse Julia pacientemente.
—Então, continue dizendo. —disse a ela e ela suspirou e disse:
—Então, hoje eu fui atrás dela, e abri a cabine. Cass estava vomitando Louis, vomitando tudo o que ela comeu. E aí eu percebi que ela fazia isso sempre, com frequência, por isso, que ela não come mais no refeitório. Por isso que ela sempre prefere jantar ou almoçar comidas leves. e quando é questionada, ou sobre a comida, ou sobre a sua aparência, ela faz isso Louis. Cassie tem Bulimia! — exclamou ela trêmula e com os olhos marejados.
Sem muito o que fazer, abracei Julia com força. O coração estava apertado, e o desejo de estar abraçando Cassie era muito maior agora.
Ainda abraçados, sentimos a presença de alguém do lado, e quando olhei era Cassie e rapidamente soltei Julia e limpei a garganta. Julia virou o rosto e enxugou as lágrimas e então, Cassie disse:
—Quem morreu gente? —perguntou ela sorrindo fraco.
—Ninguém. — disse rapidamente.
—Oras, ninguém. — Disse Julia se virando para Cassie. —Vocês mentem tão mal quanto o professor de Filosofia dizendo que vai dar nota extra. — disse ela erguendo a sobrancelha desconfiada.
Eu dei uma risada debochada, e então, Julia disse:
—Engraçado, Louis disse a mesma coisa agora pouco. — disse ela disfarçando.
—Vão me contar o que houve, ou eu vou ter que anunciar a “Garota do Blog.”? — perguntou Cassie erguendo a sobrancelha desconfiada ainda.
—Bom, sabe o que que é? o gato da Julia acabou de se perder. — disse sorrindo e Julia arregalou os olhos e disse:
—É. Isso mesmo, tadinho do circle. Eu acabei de saber, enquanto você estava no banheiro. —Disse ela evitando as próximas perguntas.
Cassie então, abraçou Julia e a consolou e então, disse:
—Muito bem, vamos no refeitório? — perguntei sorrindo.
—Refeitório? — perguntou Julia sem compreender.
—É ué, estamos na escola, e no período de intervalo. — disse sem compreender elas.
—Eu passo por hoje. —disse Cassie: — Tenho uma peça de teatro para realizar, ou melhor, temos. — disse ela olhando para mim e eu suspirei.
—Mas, e a comida? Você não sobrevive de vento. Você sabe né? — perguntou Julia olhando para a Cassie.
—Eu trouxe comida de casa. Não se preocupe. — disse Cassie sorrindo um pouco mais do que o normal e colocando a mão no ombro de Julia e sorriu fraquinho.
—Eu tenho que ir também? — perguntei suspirando.
—Ué você principalmente. Mesmo que tenha feito a enorme surpresa de ter feito os figurinos. Preciso de alguém para me ajudar no cenário. E você é voluntário. — disse ela sorrindo e me pegando pelo braço.
— Nos vemos por aí. — disse Julia sorrindo e indo em direção ao refeitório.
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Além das Aparências - Veja além das suas Aparências
RomanceVocê já parou para pensar que suas palavras podem interferir na vida de outra? Não acredita nisso? Tem certeza? Pois eu vou te contar uma história de uma garota normal, que ela me fez pensar duas vezes antes de responder alguém ou até mesmo fazer um...