Capítulo 9: " Um Fantasma" - parte 1

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Eu estava deitado em minha cama, observando o teto e pensando em como seria a minha vida daqui há alguns anos, é bem verdade que, a minha maior preocupação é o ensino médio. Porém, eu gostava de pensar sobre o futuro, e muito mais sobre as coisas que ele poderia me oferecer, será que eu seria quem eu quero ser daqui há alguns anos? Duvido muito, afinal, nem sou quem eu sou no início do ano, acho que as pessoas são metamorfoses mesmo, e nunca são aquilo que realmente irão ser e isso é perfeitamente normal.

Foi então, que eu me lembrei do desfile, que daqui há alguns dias eu levaria Cassie, a menina mais incrível e única que eu conheci, e faria questão dela se sentir bem quista. Meu pai estava no escritório dele, e eu decidi perguntar se ele poderia revogar a opinião dele, e pelo menos, colocar Cassie como uma pessoa vista e talentosa.

Assim que desci as escadas, a porta estava semiaberta, e sem fazer muitos esforços, entrei, meu pai estava com uma garrafa de whisky em cima da mesa, e as mãos sob a cabeça, suando friamente, eu sabia que ele estava preocupado, ou melhor, desesperado.

As pessoas estavam cobrando-o pelo desfile, e não somente isso, queriam ver os figurinos prontos, e obviamente, com Cassie fora, ele estava preocupado porque justamente, não iria dar um bom resultado.

   Dei duas batidas na porta, e então, ele me olhou e disse:

—Filho, ainda acordado? — perguntou ele.  

—Não consigo deixar de pensar no desfile. — disse confessando. 

—E é o único pensamento na minha cabeça, o desfile tem me deixado careca. —disse meu pai e indicando a cadeira em sua frente. 

—Cassie me falou que o senhor a dispensou do desfile, só quis entender o porquê. — disse confessando e o meu pai soltando um longo suspiro disse: 

—Esse é o maior evento do condado, milhares de pessoas virão para prestigiar o nosso desfile e toda a verba será colocada no nosso grupo de desenvolvimento humano. —disse ele e eu fiquei parado esperando a continuação da linha de pensamento. 

— E o que Cassie tem a ver com isso? — perguntei ainda confuso.

  —Bem, milhões de empresas televisivas virão repercutir sobre o desfile Louis, não dá para simplesmente termo uma.... — E ele parou, engoliu a seco, fingiu que não queria dizer a palavra “Gorda”.

—Pode falar pai, pode dizer a palavra que o senhor engoliu pra não dizer. — disse tenso.

—Não é isso, veja bem, precisamos de uma boa imagem filho, uma imagem que propague o talento e boa visão da nossa cidade. Cassie é talentosa, e confesso que estou sofrendo sem ela, mas, a visibilidade é muito mais importante. — disse meu pai, tentando ser convincente. 

—Pai, Cassie tem um bom nome e uma boa fama e todos na cidade adoraram o que ela faz na sexta série e nos próximos anos como figurinista. Ela faz um bem para a sociedade e principalmente, para as pessoas ao seu redor. Não é justo tirar ela por que o senhor tem preconceito. — disse a ele, e o meu pai endureceu o semblante, eu sabia que ele iria fazer aquilo. 

—Não tenho preconceito com Cassie, Louis. Eu só simplesmente não acho adequado a presença dela no desfile. — disse ele abrindo as narinas.:

—E não sei se você se você se esqueceu, mas, você também não é amante da sua própria imagem, não é? os boletos da academia dizem que não. —disse ele e eu engoli a seco. 

—Eu posso ser um covarde por não me amar mesmo pai, mas, pelo menos, eu assumo isso. Ao contrário de você, que prefere ficar com o seu preconceito e passar vergonha em rede nacional. — E me levantei, e sai do escritório.  

Pouco tempo depois, meu telefone tocou, era Júlia, dizendo que Cassie precisava de ajuda e somente eu poderia estar com ela naquele momento. Eu havia decidido que, iria contar a verdade a Cassie, achava justo comigo, e justo com ela também. Afinal, ela era como eu, só que não era medrosa, ou covarde como eu. Sai pela porta, minutos depois de mandar mensagem para Julia, dizendo que eu estava a caminho. Então, passei na padaria, e fiz uma enorme cesta de café da manhã.

Cheguei no Teatro, e avistei tudo escuro, porém, vi rastros de água pelo chão do teatro, sorri quando ela atendeu o telefone e sorri mais ainda, quando ela apareceu pela porta dos fundos.

O café da manhã estava muito bom, Cassie havia amado, e eu disse:  

—Cassie, preciso te contar uma coisa. —disse e suspirei pesadamente, eu realmente estava tirando aquilo da minha alma.

   —O que foi Louis? —perguntou ela com atenção. 

—Eu... quando eu era menor... eu nasci gordo, cresci e fiquei sendo de corpo gordo por um bom tempo, eu tinha uma paixão, a fotografia. Eu era apaixonado por aquilo desde sempre, porém, algo ruim aconteceu, devido ao preconceito e tudo mais e eu desisti de fotografar. E foi aí que eu desisti de fotografar, e a minha paixão por mim mesmo sumiu. Cresci, e entrei na academia desde muito cedo, e decidi esconder o meu verdadeiro eu. Naquele dia que você se esbarrou comigo, eu vi você, desfilando com uma roupa incrível, e com um sorriso no rosto e querendo ou não, mostrou para mim a força que você tinha, e a força que eu também tinha. Te ver, sendo você mesma me deu força, me deu coragem para lutar, me deu ânimo para assumir quem eu de fato  era. Quando, naquele dia, eu me senti o cara mais babaca da face da terra, você estava lá, mesmo não me conhecendo, mesmo não entendendo, querendo me ajudar e eu acabei fazendo aquilo com você. Mas, na verdade, aqueles garotos pegaram o meu celular, viram o seu nome, e lançaram aquele trote, me obrigaram a ver você sendo humilhada daquele jeito, e eu fiquei por dias pensando que, se você uma garota tão incrível, não pudesse ser quem você era, eu que era tão babaca não poderia também. E então, eu fiz uma burrice mais ainda, fui tirar satisfações com o líder do grupo, e eu levei uma surra por você. —Cassie abaixou os olhos com lágrimas nos olhos e então, eu disse:

—Eu apanhei na escola, e apanhei em casa do meu pai, e mesmo estando surrado pelos dois, eu decidi que não queria ser parte do grupo de pessoas que não conseguissem respeitar e aceitar quem de fato eu era, e quem de fato, você é. —disse e ela secou as lágrimas.

—Porque está me contando isso tudo? —perguntou ela com a voz embargada. 

—Porque, o meu pai proibiu você de estar em um desfile por mérito seu. E te proibiu porque ele não gosta daquilo que ele vê em você, força mesmo sendo tão incrível e importante para ele. Ele não deixou você ir no desfile, por ser algo que eu sou. E se, ele não consegue te respeitar, a mim ele não vai também. Eu não podia te ver todos os dias, participar daquele grupo de apoio, e não te contar a verdade sobre tudo isso. Não podia ligar para você, estar com você, e esconder quem de fato eu sou. Esconder por vergonha de mim mesmo, eu precisava te contar, e quem sabe, aprender a lidar com o meu corpo, e deixar ele ser quem ele era. E você me deu essa força, força de ser quem de fato eu mereço ser. E passar essa força para quem quer que fosse. — disse e Cassie danou a chorar, e sabia que tinha essa probabilidade, mas, não dessa forma.

Além das Aparências - Veja além das suas AparênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora