Assim que eu deitei na cama do hospital, eu estava mais calma. O doutor esporadicamente vinha me ver e conversava sobre o meu estado clinico, aparentemente a Bulimia ainda estava em ação. E eu podia sentir a presença dela dentro de mim, me deixando vulnerável, foi então, que eu respirava mais fundo do que o normal, e eu realmente não sabia se eu respirasse lentamente ela poderia acordar.
Para você entender melhor, a Bulimia para mim era como um leão que dorme quieto em uma jaula, a jaula no caso sou eu, e o leão a bulimia, e qualquer pessoa que passa pela jaula, corre o risco de acorda-lo e ele faminto nos devora. Por isso, a Bulimia para mim era como um leão, onde a qualquer momento, poderia acordar e fazer um estrago. A pior parte disso tudo, era os pensamentos, acumulados a cada minuto que se passavam, era como se vozes gritavam na minha cabeça constantemente, dizendo somente coisas depreciativas e negativas e com isso, o meu leão acordava. Pela manhã, minha mãe tinha vindo me visitar logo depois da sessão de terapia, e pela tarde, depois da visita do meu médico, uma outra médica veio me ver, o psicólogo. Eu sempre achei que terapia fosse para os fracos, sempre achei que fosse para pessoas que não fossem boas o suficiente, ou, fortes o suficiente. E foi só depois de ver o primeiro resultado positivo, eu pude mudar de ideia.
—Olá Cassie, é um prazer conhecê-la — disse o psicólogo esticando as mãos para me cumprimentar.
—Olá... — disse confusa e receosa.
—Deve estar se perguntando o porquê eu estou aqui sendo que já tem uma terapeuta. — disse ele, e eu somente assenti com a cabeça: —Bom, digamos que porque ser muito jovem e o caso é grave, fui recomendado a estar aqui como o seu psicólogo, já a Sra.
Hellen, é a sua nutricionista e a sua orientadora no seu distúrbio. — disse ele pacientemente, mas, a palavra distúrbio me fez ter medo, mexeu comigo.—Certo. E o que o Sr. vai fazer comigo? — perguntei erguendo a sobrancelha.
Ele deu um sorriso simpático e então, disse:
—Bem, primeiramente vamos conversar está bem? Há quanto tempo sofre? —perguntou ele me olhando e pegando um caderno de anotações.
Eu parei, e comecei a pensar há quanto tempo eu estava sofrendo com isso, foi então que eu disse muito sinceramente:
—Vejamos, eu não faço a menor ideia de o quanto eu estou passando por isso. O que eu sei, é que faz muito tempo e parece uma eternidade. — disse e ele concordou.
—E diga-me, o que você sente? —Perguntou ele me olhando com atenção, e por vezes, balançava os pés e parava.
—Com relação ao quê? —Perguntei confusa.
—Com a Bulimia, o que você sente com relação a ela? —perguntou ele a mim me observando e por alguns tempos anotava algo no caderno.
—Bem, eu sinto que ela é uma intrusa conquistando o seu espaço, sinto que a qualquer momento esse vírus vai me dominar e eu vou perder o total controle. Eu me sinto em uma linha invisível onde, a qualquer passo que eu der, ela arrebenta e eu caio dentro desse buraco que é a Bulimia. Ou seja, eu sinto que todas as moléculas do meu corpo pedem para isso. E minha mente, vive me dizendo que era necessário fazer. —disse suspirando.
—Uma boa descrição, e agora, me diga: Como são esses pensamentos? E o que você sente com relação a si própria? —perguntou ele com atenção.
—Eu me sinto feia, dispensável, não quista, a que não é do padrão de beleza. Ninguém gosta de pessoas gordas entende? —Comentei suspirando e os meus olhos se encheram de lágrimas:
— E sobre os meus pensamentos? bom, eles só me revelam exatamente isso, o quanto sou feia e totalmente não mereço ter nada, principalmente na minha área. — disse confessando, de certa forma, eu sentia que eu estava me aliviando.
—Sabe que isso não é verdade, não é? — perguntou ele me olhando com atenção, e eu neguei com a cabeça firmemente:
—Eu sei que é verdade, eu posso sentir dentro de mim. —disse com firmeza na voz e ele ergueu a sobrancelha e se levantou.
Ele caminhou em direção ao embrulho ao lado da minha cama e disse:
—O que é isto? —perguntou ele curioso e se virou, eu dei um sorriso tímido e disse:
—É o embrulho da Sra. Hellen. Presumo que ela vá fazer alguma coisa com relação a isso. —disse por fim.
—E não está curiosa de saber o que tem aqui? —perguntou ele indicando com o dedo o objeto.
—Não sei o porquê, mas, este objeto me deixa nervosa. —disse suspirando e o meu coração acelerou as batidas.
—Mesmo sem saber o que é? E se for algo bom? — perguntou ele me olhando e o som das batidas do meu coração aumentavam sob o meu peito.
_Bom, se for algo bom, ela não deixaria embrulhado, não é? — perguntei retoricamente, e o psicólogo sorriu e se virou e em direção para se sentar na poltrona.
—Muito bem Cassie, lhe deixarei uma lição de casa está bem? — perguntou ele sorrindo docemente: — Quero que escreva suas qualidades e os seus defeitos no papel, não precisa dize-los em voz alta. — disse ele gentilmente.
—E o Sr. só vai me pedir isto? — questionei sem compreender: —Eu nem sei o seu nome. —disse debochando.
—Prefiro guardar segredo, como este embrulho da Sra. Hellen. Espero que descubra no mesmo tempo em que, você descubra o que tem por baixo desse pano. —disse ele piscando.
—Mas, isso não é justo! —exclamei: — Assim, vou ficar curiosa. — disse com as batidas ainda no meu ouvido.
O Doutor sorriu, e mostrou os seus dentes amarelados de café, e com os cabelos grisalhos, sorriu e disse:
—Te vejo amanhã querida, e espero o que você tenha concluído o nosso exercício. —disse ele piscando, e saindo pela porta do consultório, me deixando completamente sozinha.
Eu dobrei os braços, e bufando, peguei o papel e a caneta, e logo comecei a anotar, depois de algumas letras escritas, o doutro chegou e então, com um sorriso aberto disse:
—E como vai a paciente mais talentosa? —perguntou ele sorrindo e anotando algumas informações na prancheta dele.
—Como se chama aquele psicólogo? — perguntei curiosa.
—Como?! — perguntou ele fingindo desentendimento.
—Não se faça! —exclamei: — Como se chama aquele psicólogo? —perguntei novamente.
—Presumo que não seja a minha área Cassie, se quer saber o nome dele, terá que perguntar. —Disse ele sorrindo e eu revirei os olhos, era nítido que o psicólogo misterioso pedira sigilo do seu nome.
—Ótimo! não quer me contar, então, não saberei. —Disse cruzando os braços.
—Muito bem. —disse o doutor simplesmente:— Vejamos, Doutora Hellen pediu para te receitar uma bandeja de maça no almoço, tarde, e janta, isso significa alguma coisa para você? — perguntou o doutor confuso olhando no meu prontuário.
Eu dei uma risada debochada, e então, disse:
—Não sei do que está falando doutor, achei que regia por aqui. —Disse erguendo a sobrancelhas e ele revirou os olhos: —Vejamos, ela também, ressaltou a importância de tomar o seu remédio de ansiedade e receitou também, uma vitamina e suplemente alimentar, e eu com o seu médico oficial, estou te receitando um outro remédio de glicose, porque está à beira de uma diabetes. —disse ele indicando a tampa da caneta e eu revirei os olhos, odiava tomar remédio controlado.
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Além das Aparências - Veja além das suas Aparências
RomanceVocê já parou para pensar que suas palavras podem interferir na vida de outra? Não acredita nisso? Tem certeza? Pois eu vou te contar uma história de uma garota normal, que ela me fez pensar duas vezes antes de responder alguém ou até mesmo fazer um...