Capitulo 18: "Misterioso"

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Assim que eu deitei na cama do hospital, eu estava mais calma. O doutor esporadicamente vinha me ver e conversava sobre o meu estado clinico, aparentemente a Bulimia ainda estava em ação. E eu podia sentir a presença dela dentro de mim, me deixando vulnerável, foi então, que eu respirava mais fundo do que o normal, e eu realmente não sabia se eu respirasse lentamente ela poderia acordar.

Para você entender melhor, a Bulimia para mim era como um leão que dorme quieto em uma jaula, a jaula no caso sou eu, e o leão a bulimia, e qualquer pessoa que passa pela jaula, corre o risco de acorda-lo e ele faminto nos devora. Por isso, a Bulimia para mim era como um leão, onde a qualquer momento, poderia acordar e fazer um estrago. A pior parte disso tudo, era os pensamentos, acumulados a cada minuto que se passavam, era como se vozes gritavam na minha cabeça constantemente, dizendo somente coisas depreciativas e negativas e com isso, o meu leão acordava. Pela manhã, minha mãe tinha vindo me visitar logo depois da sessão de terapia, e pela tarde, depois da visita do meu médico, uma outra médica veio me ver, o psicólogo. Eu sempre achei que terapia fosse para os fracos, sempre achei que fosse para pessoas que não fossem boas o suficiente, ou, fortes o suficiente. E foi só depois de ver o primeiro resultado positivo, eu pude mudar de ideia. 

—Olá Cassie, é um prazer conhecê-la — disse o psicólogo esticando as mãos para me cumprimentar.

—Olá... — disse confusa e receosa. 

—Deve estar se perguntando o porquê eu estou aqui sendo que já tem uma terapeuta. — disse ele, e eu somente assenti com a cabeça: —Bom, digamos que porque ser muito jovem e o caso é grave, fui recomendado a estar aqui como o seu psicólogo, já a Sra.
Hellen, é a sua nutricionista e a sua orientadora no seu distúrbio. — disse ele pacientemente, mas, a palavra distúrbio me fez ter medo, mexeu comigo. 

—Certo. E o que o Sr. vai fazer comigo? — perguntei erguendo a sobrancelha.  

Ele deu um sorriso simpático e então, disse:

—Bem, primeiramente vamos conversar está bem? Há quanto tempo sofre? —perguntou ele me olhando e pegando um caderno de anotações.  

Eu parei, e comecei a pensar há quanto tempo eu estava sofrendo com isso, foi então que eu disse muito sinceramente:

  —Vejamos, eu não faço a menor ideia de o quanto eu estou passando por isso. O que eu sei, é que faz muito tempo e parece uma eternidade. — disse e ele concordou. 

—E diga-me, o que você sente? —Perguntou ele me olhando com atenção, e por vezes, balançava os pés e parava.

—Com relação ao quê? —Perguntei confusa.  

—Com a Bulimia, o que você sente com relação a ela? —perguntou ele a mim me observando e por alguns tempos anotava algo no caderno.

  —Bem, eu sinto que ela é uma intrusa conquistando o seu espaço, sinto que a qualquer momento esse vírus vai me dominar e eu vou perder o total controle. Eu me sinto em uma linha invisível onde, a qualquer passo que eu der, ela arrebenta e eu caio dentro desse buraco que é a Bulimia. Ou seja, eu sinto que todas as moléculas do meu corpo pedem para isso. E minha mente, vive me dizendo que era necessário fazer. —disse suspirando.  

—Uma boa descrição, e agora, me diga: Como são esses pensamentos? E o que você sente com relação a si própria? —perguntou ele com atenção.

   —Eu me sinto feia, dispensável, não quista, a que não é do padrão de beleza. Ninguém gosta de pessoas gordas entende? —Comentei suspirando e os meus olhos se encheram de lágrimas:

— E sobre os meus pensamentos? bom, eles só me revelam exatamente isso, o quanto sou feia e totalmente não mereço ter nada, principalmente na minha área. — disse confessando, de certa forma, eu sentia que eu estava me aliviando.

—Sabe que isso não é verdade, não é? — perguntou ele me olhando com atenção, e eu neguei com a cabeça firmemente:

—Eu sei que é verdade, eu posso sentir dentro de mim. —disse com firmeza na voz e ele ergueu a sobrancelha e se levantou.

Ele caminhou em direção ao embrulho ao lado da minha cama e disse:

—O que é isto? —perguntou ele curioso e se virou, eu dei um sorriso tímido e disse:

—É o embrulho da Sra. Hellen. Presumo que ela vá fazer alguma coisa com relação a isso. —disse por fim.

—E não está curiosa de saber o que tem aqui? —perguntou ele indicando com o dedo o objeto.

  —Não sei o porquê, mas, este objeto me deixa nervosa. —disse suspirando e o meu coração acelerou as batidas.

  —Mesmo sem saber o que é? E se for algo bom? — perguntou ele me olhando e o som das batidas do meu coração aumentavam sob o meu peito.

  _Bom, se for algo bom, ela não deixaria embrulhado, não é? — perguntei retoricamente, e o psicólogo sorriu e se virou e em direção para se sentar na poltrona.

—Muito bem Cassie, lhe deixarei uma lição de casa está bem? — perguntou ele sorrindo docemente: — Quero que escreva suas qualidades e os seus defeitos no papel, não precisa dize-los em voz alta. — disse ele gentilmente.  

—E o Sr. só vai me pedir isto? — questionei sem compreender: —Eu nem sei o seu nome. —disse debochando. 

—Prefiro guardar segredo, como este embrulho da Sra. Hellen. Espero que descubra no mesmo tempo em que, você descubra o que tem por baixo desse pano. —disse ele piscando. 

—Mas, isso não é justo! —exclamei: — Assim, vou ficar curiosa. — disse com as batidas ainda no meu ouvido. 

O Doutor sorriu, e mostrou os seus dentes amarelados de café, e com os cabelos grisalhos, sorriu e disse:

—Te vejo amanhã querida, e espero o que você tenha concluído o nosso exercício. —disse ele piscando, e saindo pela porta do consultório, me deixando completamente sozinha.  

Eu dobrei os braços, e bufando, peguei o papel e a caneta, e logo comecei a anotar, depois de algumas letras escritas, o doutro chegou e então, com um sorriso aberto disse:

—E como vai a paciente mais talentosa? —perguntou ele sorrindo e anotando algumas informações na prancheta dele.

—Como se chama aquele psicólogo? — perguntei curiosa.

  —Como?! — perguntou ele fingindo desentendimento.  

—Não se faça! —exclamei: — Como se chama aquele psicólogo? —perguntei novamente.  

—Presumo que não seja a minha área Cassie, se quer saber o nome dele, terá que perguntar. —Disse ele sorrindo e eu revirei os olhos, era nítido que o psicólogo misterioso pedira sigilo do seu nome.

  —Ótimo! não quer me contar, então, não saberei. —Disse cruzando os braços.

—Muito bem. —disse o doutor simplesmente:— Vejamos, Doutora Hellen pediu para te receitar uma bandeja de maça no almoço, tarde, e janta, isso significa alguma coisa para você? — perguntou o doutor confuso olhando no meu prontuário.

Eu dei uma risada debochada, e então, disse:

—Não sei do que está falando doutor, achei que regia por aqui. —Disse erguendo a sobrancelhas e ele revirou os olhos: —Vejamos, ela também, ressaltou a importância de tomar o seu remédio de ansiedade e receitou também, uma vitamina e suplemente alimentar, e eu com o seu médico oficial, estou te receitando um outro remédio de glicose, porque está à beira de uma diabetes. —disse ele indicando a tampa da caneta e eu revirei os olhos, odiava tomar remédio controlado.

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