Capitulo 6: "Surpresa Cassie" - parte 3

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—Então, o que vão fazer hoje? — perguntou Julia sorrindo para nós dois. 

—Bem, nada, não é? Ou temos mais surpresas? — perguntei sorrindo e juntos caminhamos pela porta de entrada da escola.

  —Eu gostaria de chamar as duas para sairmos hoje. Hoje é o desfile, a escola vai fechar mais cedo. —disse Louis: —E  não tem treino de Lacrosse hoje, ou seja, estou livre. — Ele deu de ombros.

  —Uau! Louis ficar longe da escola por duas semanas fez um milagre nele. —Comentou Julia brincando.

  —E eu estou achando estranho. Ele só ficava com o grupo de Lacrosse, o que aconteceu? — perguntei olhando para ele. 

—Bom, uma longa história. Tipo, depois da surra, fui proibido de andar com eles, e a escola fez uma espécie de medida protetiva contra eles. Faz sentido? — perguntou ele me olhando confuso. 

—Faz e olha, sorte é sua. —comentou Julia e eu assenti.

  —E você não corre risco de sair do lacrosse não né? — perguntei enquanto íamos em direção aos armários colocar o nosso material. 

—Bem, não. Pelo menos, até agora. Já dei muito trabalho para a escola e minha fixa está suja. — disse ele dando de ombros.  

—E como está o seu histórico? — perguntei dessa vez. 

—Graças a Deus não está tão sujo assim, pelo menos, me garantiram que não. Só tenho que ficar longe daqueles caras. — disse ele e indo em direção ao armário dele.  

—Acredita nele? — cochichou Julia.

  —O que posso fazer? Você viu o que ele fez? Não posso simplesmente fingir que ele não existe. — disse cochichando de novo. : —Todos merecem uma segunda chance, Louis principalmente. — disse e ela assentiu com a cabeça. 

—Então, somos amigos? — perguntou Louis segurando os livros de matemática dele e nós duas assentimos com a cabeça. 

—Então, nos vemos na sala, — disse ele sorrindo e me dando um beijo na testa e um soquinho no ombro de Julia.  

E foi caminhando em direção a sala de aula, enquanto, eu e Julia ficamos ali sorrindo para as costas dele. Até haver o primeiro toque de sinal, o que nos indicava que era hora de entrarmos na sala e esperarmos o segundo toque. Sara apareceu, chegando com um sorriso aberto, e então, disse:

—Olá meninas, gostaria de dizer que temos encontro hoje com o grupo e como vocês são participantes, quero ver vocês lá. — disse ela piscando e saindo antes mesmo que eu e Julia contrapormos.  

Na porta do grupo de apoio, eu disse:

  —Você tem certeza de que, é isso mesmo? — cochichei no ouvido de Julia enquanto ela colocava a mão na maçaneta. 

—Já estamos aqui, não é? e também devemos isso a eles. — disse ela abrindo a porta.
 
O grupo todo se dirigiu a nós, era em torno de 10 alunos, atentos observando Sara em seu discurso. Eu gelei, e como um flashback, me vi no lugar de Sara, trazendo palavras fortes e encorajadoras para quem precisasse.

Sara foi a última a notar a nossa presença ali, ela abriu um sorriso e então, abriu os braços e disse:

  —Pessoal, quero que conheçam Cassie e Julia, fundadoras do “Além das Aparências”, o famoso grupo de apoio que nos levou a trazer este aqui. — disse ela sorrindo. 

E uma chuva de aplausos ecoou por toda a sala, eu dei um sorriso tímido, e então, Sara pediu que eu falasse alguma coisa, atordoada fiquei olhando para a sala pequena, em puro e extremo pânico.

  —Olá pessoal, eu sou a Cassie. Eu sei que talvez, estejam esperando um enorme discurso, mas, não é isso que eu quero dizer. Em poucas palavras, gostaria de reforçar a importância de um grupo de apoio como este. É importante cuidarmos desse grupo com amor, e apoio e carinho, vocês não estão sozinhos. Por um bom tempo, eu vivi sendo um fantasma, mas, também vivi um momento de destaque. O que nós de corpo gordo queremos, não é destaque, e sim, respeito, e principalmente, um lugar no meio de todos. Um tratamento igual, tudo isso é questão de posicionamento, e de receber o mesmo do que todos recebem. Não é destaque, e sim, respeito. E para conseguirmos tudo isso, primeiro, temos que nos aceitar. E nos respeitar. E, é isso. Bom grupo a todos. —Sorri e todos aplaudiram, e eu me sentei ao lado de Julia, que sorriu orgulhosamente do meu lado.

   —Isso foi deslumbrante Cassie! É inspirador saber que, temos que lutar pelos nossos direitos. Temos que saber, que o respeito se inicia com nós mesmos. E pensando nisso, eu trouxe um presente a vocês. — E ela se virou e abriu um a caixa atrás da mesa de professores, e então, ela tirou alguns sacos plásticos e tirou um espelho do saco.

—Este, é um presente meu para vocês, neste espelho faremos terapias de amor próprio e se inicia no dia de hoje. — Disse ela sorrindo abertamente e entregando os espelhos para cada uma de nós. 

—Uau está bem parecido com o A.D.A não é mesmo? — perguntou Julia removendo o espelho redondo e dourado do saco plástico. 

—Pois é, isso que é se inspirar não é mesmo? — perguntei sorrindo e Sara então prosseguiu sorrindo. 

—Então, hoje iremos treinar a nossa imagem. Vamos notar, os nossos traços, a nossa cor, os detalhes. Não existe somente defeitos em nós. A nossa mente, precisa ser exercitada para vermos além daquilo que não gostamos em nós mesmos, e sim, aquilo de precioso também. Este, é o início do nosso tratamento, mais tarde, trago um espelho maior. Vamos lá? Quero, que cada um se olhe no espelho por uns 10 minutos, e depois, descreva verbalmente cada detalhe. — disse ela sorrindo e olhou no relógio, e então, marcou 10 minutos.  

Eu removi o meu espelho do plástico, e hesitei para olhar no espelho, estarmos tão próxima de mim mesma me deixava tensa, e me deixava nervosa e repugnância. Abaixei o espelho um pouco, 10615 e o meu coração acelerou. Julia segurou no meu braço, e então, eu respirei fundo e então, me olhei no espelho novamente e não imaginava que me olhar no espelho seria tão difícil assim. Observando os meus traços, sobrancelhas grossas, rostos com poros, olhos castanhos, bochechas grandes, e bora de lábios carnudos. Sara então, continuou dizendo:

  —Muito bem pessoal, olhem para vocês. E vejam quão lindos vocês são, traços únicos, traços que nenhuma outra pessoa tem. Vejam os seus olhos, o nariz, a curvatura da boca, a cor dos olhos, e as marcas de expressões em volta de cada cantinho de vocês. Cada parte de vocês, faz parte de quem vocês são. Olhem e vejam a beleza de vocês, esqueçam o que não gostam, e foquem naquilo que vocês acham consideravelmente bonito. — disse ela sorrindo com calma, e fazendo nela mesma.  

A sala em silêncio, foi o suficiente para provar, que todos tinham dificuldades naquele exercício, era quase impossível de se notar beleza sendo que, na verdade, só enxergamos feiura e inferioridade. O relógio de Sara apitou, informando que os 10 minutos haviam acabado, e então, Sara começou a dizer:

  —Nosso tempo acabou, e para vocês se sentirem encorajados. Vou começar por mim os detalhes tudo bem? — disse ela sorrindo e então, se olhou no espelho novamente, só que um pouco mais afastado do rosto:

—Muito bem, eu vejo um nariz pequeno, uma boca torta, e os olhos arredondados, vejo também um nariz grande, grande até demais. Mas, o que eu gosto em mim mesma, é as linhas em cima da minha testa, me deixam com uma feição suave e doce. Além do mais, a cor dos meus olhos, e a forma da minha boca. — disse ela sorrindo e então, se virou para nós e disse:

— Vamos por ordem alfabética. Alice, começa por você. — disse ela sorrindo e piscando gentilmente.  

Alice começou a falar, e então, ficamos em silêncio e dando atenção a sua autoanálise, foi quando, um por um foi falando, e quando chegou na minha vez, o segundo sinal tocou, determinando o fim por hoje. Respirei aliviada, sai apressada do grupo, Julia veio atrás tentando acompanhar os meus passos. Novamente, veio embrulho do estomago, e corri para o banheiro, eu não estava pronta para me encarar ainda.

  Não estava pronta para me olhar no espelho.

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