—Então, o que vão fazer hoje? — perguntou Julia sorrindo para nós dois.
—Bem, nada, não é? Ou temos mais surpresas? — perguntei sorrindo e juntos caminhamos pela porta de entrada da escola.
—Eu gostaria de chamar as duas para sairmos hoje. Hoje é o desfile, a escola vai fechar mais cedo. —disse Louis: —E não tem treino de Lacrosse hoje, ou seja, estou livre. — Ele deu de ombros.
—Uau! Louis ficar longe da escola por duas semanas fez um milagre nele. —Comentou Julia brincando.
—E eu estou achando estranho. Ele só ficava com o grupo de Lacrosse, o que aconteceu? — perguntei olhando para ele.
—Bom, uma longa história. Tipo, depois da surra, fui proibido de andar com eles, e a escola fez uma espécie de medida protetiva contra eles. Faz sentido? — perguntou ele me olhando confuso.
—Faz e olha, sorte é sua. —comentou Julia e eu assenti.
—E você não corre risco de sair do lacrosse não né? — perguntei enquanto íamos em direção aos armários colocar o nosso material.
—Bem, não. Pelo menos, até agora. Já dei muito trabalho para a escola e minha fixa está suja. — disse ele dando de ombros.
—E como está o seu histórico? — perguntei dessa vez.
—Graças a Deus não está tão sujo assim, pelo menos, me garantiram que não. Só tenho que ficar longe daqueles caras. — disse ele e indo em direção ao armário dele.
—Acredita nele? — cochichou Julia.
—O que posso fazer? Você viu o que ele fez? Não posso simplesmente fingir que ele não existe. — disse cochichando de novo. : —Todos merecem uma segunda chance, Louis principalmente. — disse e ela assentiu com a cabeça.
—Então, somos amigos? — perguntou Louis segurando os livros de matemática dele e nós duas assentimos com a cabeça.
—Então, nos vemos na sala, — disse ele sorrindo e me dando um beijo na testa e um soquinho no ombro de Julia.
E foi caminhando em direção a sala de aula, enquanto, eu e Julia ficamos ali sorrindo para as costas dele. Até haver o primeiro toque de sinal, o que nos indicava que era hora de entrarmos na sala e esperarmos o segundo toque. Sara apareceu, chegando com um sorriso aberto, e então, disse:
—Olá meninas, gostaria de dizer que temos encontro hoje com o grupo e como vocês são participantes, quero ver vocês lá. — disse ela piscando e saindo antes mesmo que eu e Julia contrapormos.
Na porta do grupo de apoio, eu disse:
—Você tem certeza de que, é isso mesmo? — cochichei no ouvido de Julia enquanto ela colocava a mão na maçaneta.
—Já estamos aqui, não é? e também devemos isso a eles. — disse ela abrindo a porta.
O grupo todo se dirigiu a nós, era em torno de 10 alunos, atentos observando Sara em seu discurso. Eu gelei, e como um flashback, me vi no lugar de Sara, trazendo palavras fortes e encorajadoras para quem precisasse.Sara foi a última a notar a nossa presença ali, ela abriu um sorriso e então, abriu os braços e disse:
—Pessoal, quero que conheçam Cassie e Julia, fundadoras do “Além das Aparências”, o famoso grupo de apoio que nos levou a trazer este aqui. — disse ela sorrindo.
E uma chuva de aplausos ecoou por toda a sala, eu dei um sorriso tímido, e então, Sara pediu que eu falasse alguma coisa, atordoada fiquei olhando para a sala pequena, em puro e extremo pânico.
—Olá pessoal, eu sou a Cassie. Eu sei que talvez, estejam esperando um enorme discurso, mas, não é isso que eu quero dizer. Em poucas palavras, gostaria de reforçar a importância de um grupo de apoio como este. É importante cuidarmos desse grupo com amor, e apoio e carinho, vocês não estão sozinhos. Por um bom tempo, eu vivi sendo um fantasma, mas, também vivi um momento de destaque. O que nós de corpo gordo queremos, não é destaque, e sim, respeito, e principalmente, um lugar no meio de todos. Um tratamento igual, tudo isso é questão de posicionamento, e de receber o mesmo do que todos recebem. Não é destaque, e sim, respeito. E para conseguirmos tudo isso, primeiro, temos que nos aceitar. E nos respeitar. E, é isso. Bom grupo a todos. —Sorri e todos aplaudiram, e eu me sentei ao lado de Julia, que sorriu orgulhosamente do meu lado.
—Isso foi deslumbrante Cassie! É inspirador saber que, temos que lutar pelos nossos direitos. Temos que saber, que o respeito se inicia com nós mesmos. E pensando nisso, eu trouxe um presente a vocês. — E ela se virou e abriu um a caixa atrás da mesa de professores, e então, ela tirou alguns sacos plásticos e tirou um espelho do saco.
—Este, é um presente meu para vocês, neste espelho faremos terapias de amor próprio e se inicia no dia de hoje. — Disse ela sorrindo abertamente e entregando os espelhos para cada uma de nós.
—Uau está bem parecido com o A.D.A não é mesmo? — perguntou Julia removendo o espelho redondo e dourado do saco plástico.
—Pois é, isso que é se inspirar não é mesmo? — perguntei sorrindo e Sara então prosseguiu sorrindo.
—Então, hoje iremos treinar a nossa imagem. Vamos notar, os nossos traços, a nossa cor, os detalhes. Não existe somente defeitos em nós. A nossa mente, precisa ser exercitada para vermos além daquilo que não gostamos em nós mesmos, e sim, aquilo de precioso também. Este, é o início do nosso tratamento, mais tarde, trago um espelho maior. Vamos lá? Quero, que cada um se olhe no espelho por uns 10 minutos, e depois, descreva verbalmente cada detalhe. — disse ela sorrindo e olhou no relógio, e então, marcou 10 minutos.
Eu removi o meu espelho do plástico, e hesitei para olhar no espelho, estarmos tão próxima de mim mesma me deixava tensa, e me deixava nervosa e repugnância. Abaixei o espelho um pouco, 10615 e o meu coração acelerou. Julia segurou no meu braço, e então, eu respirei fundo e então, me olhei no espelho novamente e não imaginava que me olhar no espelho seria tão difícil assim. Observando os meus traços, sobrancelhas grossas, rostos com poros, olhos castanhos, bochechas grandes, e bora de lábios carnudos. Sara então, continuou dizendo:
—Muito bem pessoal, olhem para vocês. E vejam quão lindos vocês são, traços únicos, traços que nenhuma outra pessoa tem. Vejam os seus olhos, o nariz, a curvatura da boca, a cor dos olhos, e as marcas de expressões em volta de cada cantinho de vocês. Cada parte de vocês, faz parte de quem vocês são. Olhem e vejam a beleza de vocês, esqueçam o que não gostam, e foquem naquilo que vocês acham consideravelmente bonito. — disse ela sorrindo com calma, e fazendo nela mesma.
A sala em silêncio, foi o suficiente para provar, que todos tinham dificuldades naquele exercício, era quase impossível de se notar beleza sendo que, na verdade, só enxergamos feiura e inferioridade. O relógio de Sara apitou, informando que os 10 minutos haviam acabado, e então, Sara começou a dizer:
—Nosso tempo acabou, e para vocês se sentirem encorajados. Vou começar por mim os detalhes tudo bem? — disse ela sorrindo e então, se olhou no espelho novamente, só que um pouco mais afastado do rosto:
—Muito bem, eu vejo um nariz pequeno, uma boca torta, e os olhos arredondados, vejo também um nariz grande, grande até demais. Mas, o que eu gosto em mim mesma, é as linhas em cima da minha testa, me deixam com uma feição suave e doce. Além do mais, a cor dos meus olhos, e a forma da minha boca. — disse ela sorrindo e então, se virou para nós e disse:
— Vamos por ordem alfabética. Alice, começa por você. — disse ela sorrindo e piscando gentilmente.
Alice começou a falar, e então, ficamos em silêncio e dando atenção a sua autoanálise, foi quando, um por um foi falando, e quando chegou na minha vez, o segundo sinal tocou, determinando o fim por hoje. Respirei aliviada, sai apressada do grupo, Julia veio atrás tentando acompanhar os meus passos. Novamente, veio embrulho do estomago, e corri para o banheiro, eu não estava pronta para me encarar ainda.
Não estava pronta para me olhar no espelho.
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Além das Aparências - Veja além das suas Aparências
RomanceVocê já parou para pensar que suas palavras podem interferir na vida de outra? Não acredita nisso? Tem certeza? Pois eu vou te contar uma história de uma garota normal, que ela me fez pensar duas vezes antes de responder alguém ou até mesmo fazer um...