A vista dos meus amigos foi a melhor coisa que já me aconteceu, estar perto deles, saber das novidades e até mesmo as notícias ruins me fazia sentir mais próxima da realidade do que estar nesse hospital. Eu sei que eu precisava melhorar, ainda sentia o nervosismo, ainda sentia vontade de vomitar, eu não sabia como eu estava aparentemente, na verdade, não sabia que eu estava tão mal quanto me falaram. O meu desejo era de levantar, e sair correndo para vomitar, e para piorar a comida do hospital era péssima o que me fazia ter nojo da comida, e de mim mesma. A terapeuta veio mais cedo hoje, com um sorriso aberto, sentou ao meu lado e disse:
—Olá Cassie, como está hoje? — perguntou ela sentando na poltronas e cruzou as pernas. Hellen era uma mulher de 52 anos, (pelo menos, era o que aparentava), tinha cabelo crespos, e era negra como eu, longas pernas e magra. Eu suspirei, e disse:
—Estou bem. — disse secamente.
Ainda não tinha pego confiança nela, eu sei que pareço dificultar as coisas. Mas é bem verdade que, não se confia em ninguém da noite para o dia. E eu estava longe de facilitar para ela, então, sim, eu dizia que estava bem, mesmo querendo vomitar o almoço do hospital. Não somente por ser horrível, mas, por ser comida e por pensar que qualquer comida que eu comia, poderia me dar um peso a mais do que o normal.
—Olha Cassie, você não precisa mentir para mim está bem? —falou ela me olhando com atenção.
—E não estou mentindo, realmente eu estou bem. — disse erguendo a sobrancelha.
—Eu recebi umas instruções bem severas sobre o estado clínico que você tem. — disse ela erguendo a sobrancelha novamente.
—Então, deve ter se confundido com outra paciente sabe? Até porque, eu estou perfeitamente normal. — disse dando os ombros.
—Ah está mesmo? Então, me diga Cassie, como uma moça de 16 anos, geneticamente de corpo gordo, perde 36 Kg por mês? —perguntou a terapeuta e eu não soube responder.
—Bom, talvez, porque essa garota, esteja insatisfeita consigo mesmo e queira perder peso. Cuidar da sua saúde não é errado?! — questionei depois de um tempo.
Ela torceu o nariz, e então, ela sorriu e disse:
—Muito bem, então, poderia se colocar de pé? — sugeriu a terapeuta, que ficou de pé, e abriu a porta do quarto.
Confusa, eu não compreendi muito bem onde a doutora queria chegar. E, por minha vez e birra pura, eu me coloquei de pé, apenas me segurando no soro que estava na minha veia. A doutor abriu a porta, e puxou um carrinho que era bem maior do que ela, o objeto estava coberto com um tecido bem grosso branco.
Intrigada, eu olhei pra ela e disse:
—O que é isso doutora? —perguntei confusa e intrigada.
—Sua realidade. — disse ela: — puxe o tecido Cassie, se você está bem, não há nada o que temer. — disse ela dando os ombros e saindo do quarto e fechando a porta.
Eu ergui os olhos para o objeto, o coração batia na boca, eu dei um passo para trás, e me sentei na cama. A terapeuta, abriu a porta do quarto, e eu estava deitada na cama de cabeça baixa.
—O que houve querida? Porque você não puxou o tecido? Pode puxar. — disse ela sem compreender.
—Ah...eu... senti.... _ mas não consegui completar.
—Medo?! —sugeriu ela a palavra. E eu confirmei com a cabeça, e uma lágrima caiu dos meus olhos. E logo eu senti o enjoo vindo com força.
—Eu sinto muito, mas, eu preciso... — disse suspirando.
&Do que você precisa Cassie? — perguntou ela me olhando com atenção.
—Eu preciso fazer. — disse com as mãos trêmulas : —Eu preciso por pra fora. — disse confessando e o enjoo veio fortemente.
Na minha cabeça, os pensamentos rodeavam com força:
“Faça! Você não pode suportar. Você é fraca.”
“sua idiota! Você é inútil e gorda e feia. Ninguém gosta de você.”
“Ninguém gosta de gente gorda, ninguém gosta de gente como você. Só ficam para trás.”
“quem contrataria alguém como você? Quem deixaria entrar na sala de aula? Seu corpo é a sua prisão.”
“Você precisa acabar com isso.”
“Sua gorda, feia, inútil.”
“além de ser gorda, é negra. Onde já se viu?! Deveria acabar com isso logo.”
Minhas mãos começaram a tremer, o meu peito começou a arfar, o meu coração começou a acelerar. Eu só queria me livrar daquilo, eu sentia nojo de mim mesma. Sentia nojo de quem eu era. E para variar, junto com o enjoo veio a fome, uma fome terrível, incontrolável, uma fome fora do comum, fora do padrão. Eu queria comer.
—Cassie? Você está com fome? — perguntou a terapeuta.
—Eu estou, com muita fome. Por favor, me dê comida. — disse suplicando.
—Não Cassie, você não esta com fome. É só o seu cérebro te enganando. Lute!
Resiste! & disse a terapeuta colocando as mãos no meu ombro.&Eu não consigo! Eu estou com tanta fome. O meu estômago está doendo de tanta fome. — disse colocando a mão na barriga e me inclinando para frente.
A doutora, saiu do quarto, e quando voltou, ela estava com uma bandeja nas mãos.
Aquilo, me intrigou, e então, ela disse:
—Vou lhe dar algo está bem? E preciso que você se esforce. Todas as vezes que você sentir fome, por favor, coma. —disse ela me olhando e eu não compreendi.
Ela tirou da bandeja, uma maçã. Incrédula, eu ergui a sobrancelha e disse:
—Uma maçã? Mas, eu preciso de mais! — Exclamei e ela sorriu e disse:
—Então, coma mais. — disse ela sorrindo com paciência.
Eu olhei para a bandeja, e então, peguei a primeira maça, olhei nela e dei a primeira mordida.
Eu já havia comido uma maça antes, mas comer pela fome ou necessidade já era diferente. Quando eu acabei a primeira maça, a terapeuta me olhou e disse:
—E aí? O que achou? —perguntou ela a mim.
A sensação era estranha: ao mesmo tempo que eu sentia a falta de alguma coisa, eu estava saciada, e não sabia ao certo descrever.
—Tem mais? — perguntei e a terapeuta mostrou a bandeja, e eu peguei mais maça.
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Além das Aparências - Veja além das suas Aparências
RomanceVocê já parou para pensar que suas palavras podem interferir na vida de outra? Não acredita nisso? Tem certeza? Pois eu vou te contar uma história de uma garota normal, que ela me fez pensar duas vezes antes de responder alguém ou até mesmo fazer um...