Capítulo 13: "Liberdade" - parte 1

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—Júlia você sabe o que você está fazendo né? — perguntei me sentando na porta da frente.  

—Louis, a parte mais legal de ser jovem é não saber o que está fazendo. Somente fazer. —disse ela colocando a chave na ignição.

—Belo discurso para uma série da Netflix Júlia, mas isso aqui é o mundo real. Não vai ter um diretor dizendo: "Corta”. —E ela suspirou e disse:

—Muito bem, muito bem. Olha, eu estou preocupada e tensa também, mas, é algo importante e necessário. Cassie merece completamente a nossa ajuda e o nosso esforço tá? — Comentou ela e eu assenti, de fato, eu precisava me controlar.  

Quando ela ligou o carro, o meu estomago se virou. E por vezes, eu sentia um frio na barriga e um nó no estomago sempre que eu via um carro de polícia, ou ela acelerava o carro para passar a tempo no sinal verde.  

—Olha, é uma jornada meia longa e cansativa, não pensei em todos os detalhes ainda e ficaria grata se você me ajudasse. —disse ela não tirando os olhos da frente.  

—E quando você diz detalhes você diz o fato da Cassie nos matar por sumirmos por tanto tempo? — perguntei e ela suspirou e disse:

—Esse é um dos detalhes mais aterrorizantes da nossa viagem. Por isso, presumo que seja sensato sumirmos de uma vez. — disse ela por fim.

—O quê?! Ficou maluca? — Exclamei olhando horrorizado para ela, totalmente incrédulo. 

  —Olha, é melhor sumirmos do que aparecermos e mentirmos na maior cara dura. —disse ela e por mais louco que fosse, eu não queria concordar com ela em hipótese alguma.  

—Júlia, acho que devêssemos dizer pelo menos, um “Oi”. Só para darmos um sinal de vida. —disse ainda insistindo no assunto.  

—Sinceramente? eu acho que deveríamos pensar em um jeito de irmos o mais rápido possível. Inclusive, você será o meu colega de trabalho. —disse ela orgulhosa com a ideia.  

—Colega de trabalho? ficou maluca? Olha, não é por nada não. Mas, quê trabalho? Só temos 16 anos! — exclamei suando frio. 

  —Você era mais legal quando era o capitão do time sabia? — comentou ela suspirando.

Entramos em uma rua que dava na lojinha de conveniência da cidade. Ali geralmente vendia roupas para caracterização do Halloween ou festivais do gênero. Assim que estacionamos em frente a loja, eu disse:

—Tá querendo pular Carnaval no Brasil? —perguntei confuso. 

  —Engraçadinho! — disse ela revirando os olhos: —Olha, como você gosta de ressaltar, só temos 16 anos. E com a aparência que temos não vai rolar. Por isso, estou pensando com os meus botões de arranjar um meio de ficarmos mais apresentáveis. —disse ela com calma e tranquilidade.

—Os seus botões estão caídos faz é tempo! —exclamei.  

—Já vi que você será um colega de viagem difícil de lidar, por isso, eu mesma vou. Fica aqui! — disse ela saindo do carro, e batendo a porta com força.  

Ainda não havia pensado direito em tudo aquilo, eu estava em um Celta prata, do pai da Júlia indo para Ohio que ficava mais ou menos uns 28,3 km disfarçados em uma empresa conceitual da moda, que era mundialmente conhecida, para ajudar a garota que eu gostava, era devidamente uma loucura! Júlia demorou uns 20 minutos dentro da loja, enquanto os nossos celulares não pararam de tocar, e vibrar e eu sabia quem estava por trás: Cassie! Olhei no meu celular, e havia algumas chamadas perdidas, fora, a quantidade de SMS que ela havia me enviado.

Eu realmente queria atendê-la, mas, se eu atendesse iria atrapalhar todo o conceito do plano e eu esperava que a surpresa em casa, deixasse ela bem atarefada. 

Júlia apareceu cheia de sacolas nos braços, entrou no carro e abri uma lata de coca cola gelada:

—Trouxe uma pra você também. — disse ela me entregando a sacola, com alguns salgados e doces para o trajeto.  

—Ah muito bem, obrigada pela gentileza. Nossos telefones tocarão o dia todo hoje, acho melhor irmos logo. —disse tenso.  

—Não está nenhum pouco curioso para saber o que eu escolhi para você usar? —perguntou ela com um olhar travesso.  

—Prefiro deixar para o momento certo, não quero sair correndo em direção da minha casa tão cedo. —disse e ela deu uma risada.  

Ligou o rádio, e então, fomos em direção finalmente de Ohio.

Assim que saímos da cidade, eu pude respirar e apreciar mais a vista. A estrada era o melhor meio de pararmos para refletir sobre a vida, ou cultivar sentimentos bons e boas esperanças. Foi então, que eu olhei para o céu azul e avistei os pássaros, e percebi que eu gostaria de saber como era voar, mas, não voar literalmente, mas sim, ser livre.

Já pensou em ser livre? em não ter essas coisas que te prendem e que te sufocam? sei lá, parece papo de pessoas que procuram sempre o lado bom da vida, não é? Não tenho nada contra elas, porém, sabemos que na prática não é tão fácil assim. Sabemos que, tudo que vimos e sentimos é pertencente há alguma coisa na nossa vida, ou até mesmo alguém. Sabemos também, que não dá para fugir do que pode nos acontecer, mesmo tendo o famoso “Livre Arbítrio”.

E sabemos também, que nossas atitudes ferem alguém sim, sinto lhe confrontar com essa triste realidade: Mas, você pode sim matar alguém. Todos nós somos assassinos, todos nós temos um lado assassino dentro de nós, e não me venha com o papo de que, não podemos influenciar na vida do outro, porque, no fundo sabemos que podemos.

E sobre a liberdade? bem, ela começa dentro de nós não é mesmo? tipo, temos que exercer essa liberdade para enfim, recebermos ela. É como o amor próprio, temos que sentir por nós, para enfim, transmitirmos para o outro. E a liberdade para mim, era dessa forma como eu vejo, temos que procurar um jeito de sermos livres, não acredito que seja completamente ou totalmente, mas, de alguma forma, passamos a vida inteira a procura da nossa liberdade, e nem sempre conseguimos.

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