CAPÍTULO 34

10K 1K 317
                                    

Dia 53 a 54 depois do fim

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Dia 53 a 54 depois do fim

AURORA

Os gritos e soluços desolados de Patrícia preenchem a casa silenciosa. Ela perdeu o amor de sua vida, sua única família. E, provavelmente, nunca vai superar isso.

Ao mesmo tempo que me sinto feliz por Carl estar vivo, fico mal pelo homem que morreu. Ele era uma pessoa, amava alguém e era amado também. Não consigo nem imaginar o quanto Patrícia está sofrendo.

— Ottis foi uma das melhores pessoas que conheci na vida — ouço Beth falar para a mulher.

— Ele vai fazer muita falta — Maggie diz.

— Não acredito que isso está acontecendo. — Patrícia soluça. — Ele... ele não vai mais voltar para casa. Nunca mais vou abraçá-lo, nem acordar ao lado dele... Ottis está morto e eu nem pude me despedir...

Estou em pé em um canto da sala, mas não suporto mais ficar aqui. O choro de Patrícia é tão desesperador que faz o meu corpo todo estremecer. Saio silenciosamente e subo para o segundo andar.

Bato na porta e logo ela se abre. Shane está com a cabeça raspada. O vapor de dentro do banheiro escapa para o corredor.

O empurro para dentro e fecho a porta atrás de mim.

— O que aconteceu lá, Shane? O que você fez de ruim?

Ele me olha com atenção e se senta na tampa do sanitário, apoiando os cotovelos nos joelhos. Está ridículo com essas roupas enormes.

— Eram muitos mortos — fala, os olhos focados em algum ponto do azulejo. — Mesmo com alguns problemas, estava dando certo... Mas quando a gente estava saindo, Ottis torceu o tornozelo. Eu voltei para ajudá-lo. Ele me olhou nos olhos... — Shane engole em seco e fecha as pálpebras. — Ele olhou dentro dos meus olhos e disse "Corra, eu te dou cobertura. Precisamos chegar a tempo para salvar o garoto". Então Ottis me entregou a mochila com o respirador e eu corri. Quando olhei para trás, ele estava sendo devorado. Ouvi os gritos, os gemidos... Mas eu não parei.

— Ele se sacrificou para salvar o Carl. — Me encosto na porta e deslizo até me sentar no piso frio.

— Eu poderia ter voltado... Eu devia ter ajudado.

— Se você tivesse ficado lá, talvez tivesse morrido também. E o Carl não teria sobrevivido.

— Mesmo assim...

— Ficar se culpando não vai ajudar em nada.

Ficamos em silêncio por longos segundos.

— Que merda fez com seu cabelo?

— Meu cabelo? — Shane me olha atordoado.

— É, por que raspou? — Aponto para sua cabeça e ele passa a mão na careca, parecendo notar só agora o que fez.

Save MeOnde histórias criam vida. Descubra agora