CAPÍTULO 118

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Não tenho medo, nem esperança de morrer. Contudo, não posso continuar assim! Tenho que me lembrar de respirar, de manter o meu coração a bater! A luta tem sido longa e desejo tanto que acabe em breve!

O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë


AURORA

Podia sentir o sol na minha pele. Suave, morno.

Ao abrir os olhos, percebi estar deitada embaixo de uma árvore antiga. Eu conhecia aquela árvore. Ficava na fazenda dos meus pais, na Geórgia, e era para lá que Rick nos levava nos feriados.

Me lembro de pensar que fazia muito tempo desde a última vez que estivera ali com minha família.

Eu me sentei na grama macia, notando que um livro aberto descansava em meu colo. Quando olhei a capa, não pude deixar de sorrir. Era o meu favorito.

Era verão. A brisa fresca tocou meu rosto, bagunçando o meu cabelo e me fazendo inspirar profundo. Fechei os olhos por um momento, deixando aquela sensação diferente me abraçar.

— Você dormiu.

Aquela voz, tão conhecida e minha, me fez levantar os olhos para a pessoa que agora estava em minha frente, estendendo sua mão para mim. Aqueles olhos azuis-escuros, estreitos e carinhosos, me observando com o que parecia saudade.

— Acho que sim — eu disse, sendo puxada para cima.

As mãos firmes agarraram minha cintura e ele esfregou seu nariz no meu antes de beijar minha boca. O primeiro contato me roubou o ar e tive que agarrar sua camisa quando senti as pernas fraquejarem. Era sempre assim?

— Sua irmã está surtando — ele comentou com um riso irreverente, roçando a barba por fazer na minha orelha. — As crianças estão muito agitadas.

— E você me deixou dormir? Coitada da Lori.

— Você merecia um descanso depois do último plantão. — Acariciou o meu rosto. — E eu estava de olho no nosso pequeno furacão.

O nosso pequeno furacão.

Ele recolheu meu livro e a toalha, colocou embaixo de um braço e passou o outro pelos meus ombros. Enquanto cruzávamos a pequena distância grameada até a casa antiga da fazenda, eu não conseguia parar de olhar para ele.

Ele percebeu.

— O que foi?

— Você é o meu marido.

Ele riu. Ele ficava bem sorrindo.

— Agora que você se deu conta?

— E eu te amo.

— Ama mesmo. E eu ainda me pergunto o motivo.

— Porque você é tudo que eu preciso.

— E você é tudo com o que eu nunca poderia sonhar, e mesmo assim está aqui. — Ele me deu um beijo rápido, já estávamos passando pela porta lateral da casa. — Eu te amo.

Não sei explicar o que eu estava sentindo. Ao mesmo tempo em que sabia que aquela era a minha vida e tinha todas as lembranças que deveria ter, era como se... Droga, era como se não fosse real.

— Conseguiu descansar um pouco? — Lori apareceu assim que adentramos a cozinha, com um sorriso animado.

Seu cabelo escuro estava na altura do ombro, como o meu, e ela usava um vestido vermelho de verão com estampa de florezinhas brancas. Estava tão bonita e cheia de vida, e isso me fez sorrir de volta para ela.

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