8. Heimfra e o Código Sagrado - Penúltima Parte.

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Encharcados e com os cabelos pingando, perceberam que a parede móvel com o quadro havia ficado semiaberta.

— A passagem é essa. Foi por ali que as Sentinelas entraram! — exclamou Yhari.

Com muita prudência, Morga empurrou a parede, que deslizou para um lado. Atrás de um corredor mal-iluminado havia uma escada de mármore que levava para o exterior da torre.

O frio pungente enregelou os rostos e as mãos dos garotinhos, que não haviam tido tempo de passar o Creme Antalgia. Logo nariz e orelhas cobriram-se com uma pátina de cristais gelados. Drima não conseguia manter os olhos completamente abertos, Horp sentia seus lábios racharem e Yhari tinha dores nas orelhas, que já estavam praticamente congeladas.

— Está fazendo pelo menos 30 graus negativos. Se não nos apressarmos, vamos virar blocos de gelo — comentou Morga, esfregando as faces.

As luzes brancas e rosa da cidade de Áurea Nyos iluminavam perfeitamente as torres próximas, e a de Okrad era a mais visível. Imponente, com uma circunferência de pelo menos 50 metros, a residência do Grão-Medônio era também a mais alta.

Morga cheirou o ar, embora o seu nariz já estivesse gelado.

— Não sinto o cheiro das Sentinelas. Precisamos atravessar para alcançar a portaria da torre do Grão-Medônio. O Conciliábulo já deve ter começado, parece que não há mais nenhum Fhar chegando.

A garotinha deu um salto, seguido de outro, e seu corpo envolvido pelo macacão térmico foi refletido pelas luzes. Os outros três Dakis correram atrás dela.

Entraram na portaria que dava acesso à torre, escondendo-se atrás das duas estátuas de ouro que ladeavam o grande portão negro de entrada. Via-se luz pelas frestas.

— A Megorá deve ser ali dentro; nós precisamos procurar a portinha de alabastro, como Eremia mandou — lembrou a Maga do Vento em voz baixa.

Os quatro garotinhos correram enfileirados, velozes como esquilos, e depois de percorrerem alguns metros localizaram a portinha. O alabastro reluzia com reflexos dourados. Morga tirou o prego de ouro do bolso e inseriu-o na fechadura. Ouviram-se dois estalos e a porta abriu-se.

Uma música que lembrava a das Sinfobaixas pairava no ar, fazendo o coração de Morga sobressaltar-se. A garotinha temeu que Okrad estivesse ali e sinalizou aos demais para ficarem calados. Assim que entrou ela viu uma estátua de prata e mármore de mais de 2 metros de altura, que representava o próprio Okrad de capa negra e Kaplá. As mãos da estátua estavam fechadas em punhos e somente a da esquerda tinha o dedo mínimo erguido. A garotinha observou com temor a figura do Grão-Medônio e tentou imaginar como ele seria na realidade. Depois, continuou andando, procurando não fazer barulho, embora o assoalho de madeira rangesse. Com um salto alcançou o grande tapete verde em volta do qual havia pequenos lumes acesos. Olhou ao redor e na penumbra vislumbrou uma mesinha redonda sobre a qual tiquetaqueava um pêndulo. Na parede à sua frente brilhavam seis tochas. Ela pegou uma e sinalizou aos amigos, que aguardavam impacientemente, para que a seguissem.

Cada um pegou uma tocha e, escrutinando o ambiente, os amigos percorreram um corredor comprido e estreito. Subiram quatro degraus de mármore vermelho e chegaram a uma sala octogonal. Em quatro dos lados havia estantes que chegavam até o teto, ao passo que os outros quatro estavam ocupados por gavetas, prateleiras e um móvel em forma de pirâmide. No centro do cômodo girava uma esfera enorme, sustentada por pilastras de ouro. Morga levantou a tocha para ver melhor a quantidade de livros que Okrad tinha. Todos os volumes estavam perfeitamente encadernados de branco. Morga pegou um e percebeu que era de gesso. Pegou outro... igual.

Morga - A Maga do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora