Wapi abriu o bico e emitiu um lamento estrídulo, olhando a jovem amiga.
Morga pôs mais lenha na lareira, depois pegou um velho panelão que encontrou no chão. Estava sujo e cheio de teias de aranhas; ela o limpou com um pano velho e soprou em seu interior. Num canto da água-furtada, ao lado da cama, havia uma pequena pia de louça verde; ela abriu a torneira enferrujada, que borbotou esguichando uma água cinzenta. Embora a casa não tivesse sido usada por muito tempo, as Conduturas Cobríficas que aqueciam todas as moradias de Emiós funcionavam perfeitamente, mesmo que o planeta inteiro estivesse envolvido em gelo. Depois de alguns segundos, a água saiu da torneira límpida e quente. Morga tranquilizou-se e encheu o panelão pela metade. Por fim, levou as mãos ao peito e pegou o Gual, puxou a ponta de prata e o Obolho de cristal apareceu ao seu lado. Ela abriu a terceira portinhola, perscrutou os vários tipos de pedras, seixos e vegetais, localizou as ampolas, leu os rótulos e escolheu uma contendo pó de Kernite. Depois, inventariou as caixinhas de madeira e de bronze. Eram pequeníssimas. Pegou a que continha grânulos amarelos de Enxofre Sulfurado.
Com gestos lentos, verteu as duas substâncias dentro do panelão, que finalmente levou ao fogo. Os pós dissolveram-se exalando um cheiro acre e pungente. Com o auxílio de um bastãozinho de madeira, mexeu a papa, que se tornou marrom, até ficar cremosa.
Wapi retrocedeu, semicerrando os olhos; o cheiro era insuportável.
— Fique quieto, estou fazendo o que posso por você. Espero que não precisemos destes ingredientes com demasiada frequência, pois no Obolho há muitas outras substâncias alquímicas, porém só há mais duas ampolas de Kernite e duas caixinhas de Enxofre Sulfurado. — A jovem maga abriu a janela e apoiou o panelão sobre o peitoril de mármore que dava acesso aos telhados.
Uma rajada de vento varreu o aposento violentamente e resfriou instantaneamente a poção alquímica também. Depressa, a garotinha pegou o panelão e o botou no chão de madeira escura, e depois fechou a janela.
Fim da Segunda Parte.
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Morga - A Maga do Vento
FantasyAno 500. Planeta Emiós. Morga tem 12 anos, cabelos curtos - negros como piche -, o rosto salteado com sardas roxas sobre a pele branca e olhos azuis. Ela vive em uma casa escondida na floresta com Eremia - a Bramante Branca dos poderosos achar, gove...