Eremia e Smartika estavam sentadas respectivamente à direita e à esquerda dele. Lefório sentava ao lado de Serunte, depois havia a poltrona enlutada de Telkia e, mais adiante, o lugar de Grocil, responsável pelas Fábricas Côncavas e Leiterias Tortas da cidade de Wolmida. Os demais Fhar estavam comodamente instalados, comentando ruidosamente a morte dos colegas, enquanto os Obolhos flutuavam ao lado de cada poltrona.
Okrad se pôs de pé, suspendeu a Kaplá, colheu um cálice fumegante que passava rodopiando e sorveu a infusão de Perfollo Salubris, bebida purificadora feita de trevos de quatro folhas estrelados que cresciam na Área Krop-0 do Mosteiro de Hamalios. Então reposicionou a máscara e tomou a palavra:
— Prestemos nossa homenagem eterna aos nossos cinco colegas que abandonaram a vida por causa de um mal ainda obscuro e que ameaça todos nós. A cerimônia fúnebre foi interrompida por decisão minha. Tenho importantes comunicados para transmitir-lhes, mas, assim que o Conciliábulo terminar, dedicaremos nossos pensamentos aos defuntos e cuidaremos dos seis Fhar que apresentam sintomas da infecção.Okrad ergueu os braços para o alto e executou movimentos giratórios com as mãos, em sinal de respeito. Todos os Fhar o imitaram. O vórtice de ar criado pelos movimentos dos 89 governantes de Emiós fez os cálices e as bandejas oscilarem.
Quando o Grão-Medônio apoiou as mãos sobre os braços da poltrona, fez-se novamente silêncio.
Ouviu-se de novo a voz de Okrad:
— Desde sempre, temos negado a veracidade da antiga profecia e do vírus, porém a morte atingiu-nos inesperadamente. E nada pôde salvar nossos saudosos irmãos; as técnicas mágicas e a Medicina Kármica que nós usamos revelaram-se inúteis e ineficazes. Nem sequer a Albamax, a mágica alquímica utilizada em caso de perda dos sentidos, funcionou. Todos morreram em meio a dores atrozes, apesar de lhes serem ministradas abundantes doses do analgésico mais forte de que dispomos, a Adormida Branca. Os seus lábios enegreceram e incharam, tornando seu aspecto monstruoso, e eles morreram sufocados como se o vírus tivesse a capacidade de estrangulá-los. Isso convenceu-nos de que o Mal se encontra no ar. E se a Imperfeita realmente existe, precisamos encontrá-la e eliminá-la. Nada pode impedir o nosso destino. A imortalidade continua sendo o único objetivo da nossa vida, e devemos alcançá-la em nome e em memória do nosso queridíssimo professor Dan Fhar, a quem devemos gratidão eterna. Para tanto, mandei que a Pramaga Smartika efetuasse uma verificação cuidadosa das listagens do Mosteiro de Hamalios. Precisamos descobrir se alguma Gestal deu à luz uma Daki cuja existência nós desconheçamos. A mesma verificação será efetuada com Serunte, responsável pelos recém-nascidos levados ao Centro Cripto e Guardião de Hamalios. Já sabemos que, no curso dos últimos 15 anos, quarenta Dakis imperfeitos que apresentavam anomalias físicas e biológicas foram suprimidos.O Grão-Medônio foi interrompido por Smartika, que se ergueu agitando sua brilhante capa roxa. Ajeitou a Kaplá e o véu índigo que envolvia sua cabeça, e então pediu permissão para falar. O Grão-Medônio consentiu e voltou a sentar-se.
— Tentarei fornecer a todos vocês sem demora as listas das Gestais que pariram nos últimos anos. Mas já posso adiantar que minha atenção sempre foi absoluta. As Sentinelas sempre verificaram todas as coisas com rigor e todas as Ancilantes me são fiéis, de modo que posso contar com elas.
Em seguida, virando-se para Serunte, acrescentou:
— Espero que você também forneça informações exatas no que diz respeito à seleção dos recém-nascidos.Serunte, que estava com a Kaplá levantada, suava frio e sentia o coração subir-lhe à garganta. Entretanto, resolveu adotar a técnica alienante e se acalmou em poucos segundos. Apanhou um cálice de Zafínia Soprada e, tomando golinhos, ergueu-se. Baixou a máscara e respirou fundo. Seus olhos azuis pareciam perfurar a Kaplá. Afastou ligeiramente a bandana com um gesto elegante, depois tirou a capa deixando-a cair no chão e permaneceu com a túnica azul, que brilhava sob as luzes das lanternas.
— Em quinhentos anos de vida em Emiós, eu jamais detectei nenhum problema que colocasse nossa existência em risco. Desde sempre, os recém-nascidos são selecionados com base na Imperalei. Executarei a verificação solicitada com extremo cuidado.
Eremia fitava-o fixamente, e também pegou um pouco de Zafínia Soprada, que ingeriu de uma vez só. Ajeitou a máscara e olhou para Okrad, que permanecia impassível.
Smartika interrompeu-o bruscamente, em tom de desafio:
— Proponho usarmos o Transporte Pulverizador agora mesmo. Em pouco tempo vou conseguir recolher os documentos do Mosteiro de Hamalios, enquanto Serunte se dirigirá ao Centro Cripto. Deste modo poderemos entregar as listagens solicitadas o quanto antes.Okrad, que sempre tivera muito respeito por Smartika, anuiu.
— Parece-me uma decisão sábia. Enquanto vocês procuram os documentos, nós vamos prosseguir o Conciliábulo. Então, chamem suas Sentinelas e transfiram-se. — O Grão-Medônio mal teve tempo de terminar a frase e suas criaturas de fumaça entraram na Megorá.
Voando rente ao chão, posicionaram-se ao lado e falaram-lhe em voz baixa. Os demais Fhar assistiam à cena, perguntando-se o que poderia ter acontecido.
Eremia sentia energias irrompendo em seu estômago, e Serunte olhava em volta, desconfiado. Ambos pensavam em Morga.
Okrad levantou-se apertando alguma coisa na mão direita.
— Há uma intrusa em Áurea Nyos! Olhem, este anel foi encontrado na sala octogonal da minha torre. Certamente, pertence a uma Gestal ou uma Ancilante. E é claro que se trata de uma presença suspeita. Eu não autorizei o acesso à minha residência a ninguém.
Os Fhar agitaram-se, protestando.
Grocil, homem corpulento com muita força nas mãos, tomou a palavra:
— Eu tenho certeza de que os U'ndários das Fábricas Côncavas e as U'ndárias da cidade de Wolmida não podem nos trair. Trata-se dos melhores "utilmente perfeitos" de Emiós, e seguramente as mulheres não usam joias. Se a Imperfeita, a garotinha da profecia, realmente existe, ela deve estar se ocultando na Colônia Briosa e, infelizmente, Telkia faleceu sem poder nos fornecer informações suficientes sobre as Dakis. Mas você, Lefório, certamente tem notícias para nos dar — afirmou, apontando o Pramago com o dedo.Fim da Segunda Parte.
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Morga - A Maga do Vento
FantasyAno 500. Planeta Emiós. Morga tem 12 anos, cabelos curtos - negros como piche -, o rosto salteado com sardas roxas sobre a pele branca e olhos azuis. Ela vive em uma casa escondida na floresta com Eremia - a Bramante Branca dos poderosos achar, gove...