Os Dakis despediram-se de Serunte inclinando a cabeça e retomaram o galope na direção da Área Krop-2. A luz da alvorada beijava a neve, o sol e a lua azul não brilhavam; somente o astro vermelho nascia radiante no céu cinza, emitindo reflexos rosados que coloriam toda a paisagem.
Os olhos dourados de Yhari resplandeciam como pérolas; a única imagem que lhe vinha à cabeça era a misteriosa garotinha que lhe caíra nos braços.
Puxou as rédeas, e Cilla saiu saltitando velozmente. O vento frio chicoteou o rosto do garoto. Yhari olhou para a frente e mentalmente voltou a ouvir a voz da desconhecida que se apoderara dos seus pensamentos.
Naquele instante, a quilômetros dali, os raios da lua vermelha tocaram as janelas do quarto de Morga.
A aurora surpreendeu a Maga do Vento e a Bramante Branca ainda acordadas, folheando livros de alquimia alienante. A garotinha precisava se preparar para a viagem à Colônia Briosa, e isto incluía uma revisão cuidadosa das fórmulas mágicas. Eram técnicas que deviam ser usadas com absoluta parcimônia para não levantar suspeitas entre os Dakis que encontraria.
A xamã pegou o livro de magia mais precioso dos Fhar, a Alchemios Brevis. Afagou a capa preta antes de abri-lo.
Morga prendeu a respiração.
— Eu posso finalmente lê-lo também? — perguntou num murmúrio.
— Sim. Agora você pode. Eu estava esperando por este momento desde que você era pequenina, mas não sabia se iria acontecer de fato — respondeu Eremia, transgredindo mais uma vez as regras dos Fhar. Até então, jamais mostrara a Morga todas aquelas fórmulas mágicas extraordinárias.
A Alchemios Brevis era o manual que a Bramante escrevera após estudar durante anos as pedras, os líquidos e os metais do planeta Emiós. Continha a descrição minuciosa de gemas e substâncias indispensáveis para produzir poções eficientes. Todas elas estavam ligadas aos Ambalis, os números mágicos usados pelos Fhar. Os Mestres da Vida utilizavam as fórmulas da alquimia alienante e eram gratos a Eremia por tê-las inventado. Morga sabia da existência desse livro, porém jamais tentara usar pedras ou metais associando-os aos Ambalis. Somente Eremia e os outros Fhar podiam fazer isso.
— Estes são números especiais e cada um possui um significado específico. Agora, leia e aprenda. Você vai levar o livro e terá de praticar sozinha — explicou a Bramante, abrindo a Alchemios Brevis na página dedicada aos Ambalis.
A reverberação dos raios lunares acariciou as páginas amareladas do velho manual, e Morga logo se sentiu atraída por ele.
A garotinha leu os números com sofreguidão e estudou seus significados.
— Interessante, é realmente interessante.
Folheou o livro e ficou encantadíssima com a muito antiga escrita dos Fhar, elegante e artística. Repetiu em voz alta as várias descrições das substâncias.
— A que está associado o número 4? — perguntou a Bramante à queima-roupa.
— Vejamos, o 4 significa Força e se refere à Kernite Dênsia, um creme feito com Enxofre Sufulrado. Depois de fervida, é preciso deixar esfriar. O creme é usado para curar feridas e irritações. — A resposta da jovem maga foi correta.
Eremia pareceu satisfeita.
— Bem, espero que você consiga usar a alquimia com inteligência. Você não é Fhar, porém conhece a arte mágica.
— Mas para que servem os Ambalis? — A pergunta de Morga era pertinente.
Eremia levantou as mãos e, com gestos leves e elegantes, desenhou no ar linhas e círculos, vírgulas e pontos. Diante dos olhos de Morga, ela marcou todos os números com os dedos, do 0 ao 9. As marcas invisíveis, porém, não produziram efeito algum.
— Não entendo! — Exclamou a garotinha.
— Marcar o ar com os Ambalis significa ativar os símbolos mágicos que potenciam as fórmulas a que são associados. Quando você experimentar uma dessas poções, lembre-se de escrever os números agitando as mãos. Somente então você verá o que vai acontecer.
Fim da Segunda Parte.
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Morga - A Maga do Vento
FantasyAno 500. Planeta Emiós. Morga tem 12 anos, cabelos curtos - negros como piche -, o rosto salteado com sardas roxas sobre a pele branca e olhos azuis. Ela vive em uma casa escondida na floresta com Eremia - a Bramante Branca dos poderosos achar, gove...