A jovem maga respondeu, eufórica:
Descobri que isto aqui não é um porão. É o Kimiyerante, o laboratório secreto de Okrad, que desemboca na Megorá. Estou escondida entre as barras do afresco, observando e escutando. Espero ver você entrar.
[Símbolo Desconhecido] Morga.
O rosto da velhíssima Fhar iluminou-se debaixo da máscara de ferro e gelo sâmico. Os seus olhos turvados pelo tempo e cansaço tornaram-se límpidos como gotas de água. Saber que Okrad possuía um laboratório secreto era motivo de preocupação, mas ao mesmo tempo ela estava orgulhosa por ter criado a Imperfeita, que estava desafiando os poderosos e que não se detinha diante de nada. A charada transcrita por Morga ocultava, portanto, uma pérfida estratégia de Okrad. Eremia esboçou um gesto de desapontamento, porque estava claro que as chaves e as pedras que faltavam não se encontravam na torre do Grão-Medônio. Ela despediu-se bruscamente das duas Sentinelas que velavam o Fhar moribundo e correu para a Megorá, percorrendo as aleias de Áurea Nyos envolvida em seu manto argênteo, enquanto a aurora começava a despontar. As criaturas de fumaça que patrulhavam as torres viram-na passar como um raio luminoso e ninguém ousou pará-la.
Quando a Bramante voltou, todos os Fhar calaram-se. Okrad aguardava seu parecer sobre as condições dos doentes.
Eremia subiu até o último degrau e sentou-se em sua poltrona ao lado do Grão-Medônio. Enquanto retirava a capa, olhava para o grande afresco, tentando perceber se Morga podia ser vista. Mimetizada e habilmente escondida, a jovem maga estava mesmo ali, mas ninguém podia detectá-la.
Okrad estava incitando a Bramante a falar quando um ruído efervescente chamou sua atenção: Smartika estava prestes a reaparecer com o Transporte Pulverizador. A Pramaga materializou-se no centro da Megorá com suas Sentinelas, logo diante do afresco. Ela levantou a mão direita segurando o anel e, inesperadamente, removeu a Kaplá, mostrando seu rosto juvenil apesar da idade. Sua pele era lisa e cor de âmbar, tinha olhos verde-esmeralda, nariz delgado e lábios grandes e carnudos. Sob o leve véu que lhe cobria a cabeça entreviam-se cabelos escuros e ligeiramente ondulados.
— Egrégio Okrad, exímios colegas, tenho notícias importantes do Mosteiro de Hamalios e quero comunicá-las mostrando-lhes o meu rosto para que vocês vejam o quanto estou contente — proferiu num tom estridente.
Morga encontrava-se logo atrás dela, tão perto que podia sentir seu perfume meloso. Por detrás das grades, escrutinando os movimentos das Sentinelas, esperava que Smartika revelasse o que descobrira, rezando pela sorte de sua mãe.
O Grão-Medônio se pôs de pé, e Eremia sentiu sua boca secar com a sensação terrível de ver desmoronar todas as esperanças de uma hora para outra.
— Fale, então. Estamos ouvindo — exortou-a Okrad.
— O anel pertence à Gestal de nome Animea! Ela mesma o reconheceu — afirmou a Pramaga com extrema satisfação.
Todos os Fhar se viraram para o Grão-Medônio, pois não tinham a menor ideia de quem fosse Animea. Este nome não dizia nada a Okrad tampouco.
— E como foi que ela o perdeu em minha torre? Eu não recebo Gestais, e todos nós somos informados quando elas frequentam Áurea Nyos. Então, qual foi a explicação que ela forneceu?
Smartika fechou a mão que continha o anel.
— Ela mesma é quem contará o que aconteceu. Mandei-a vir dar o seu depoimento imediatamente. Sua Vádria já está a caminho, e dentro de poucas horas estará diante de vocês.
Morga agarrou-se às grades murmurando o nome de sua mãe. Contudo, o rumorejar das Sentinelas, que se viraram, desconfiadas, a fez retroceder. Desconsolada, olhou para o Glibine e o lenço perfumado de lágrimas de Animea. Por quanto tempo sua mãe teria de sofrer ainda para esconder que tinha uma filha? A jovem maga desejava desencadear todas as magias do vento, e sentia o desejo louco de usar os Ambalis e todas as alquimias violentas para aniquilar os Fhar. Prendeu a respiração e acalmou o coração, que parecia explodir cada vez que batia em seu peito.
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Morga - A Maga do Vento
FantasyAno 500. Planeta Emiós. Morga tem 12 anos, cabelos curtos - negros como piche -, o rosto salteado com sardas roxas sobre a pele branca e olhos azuis. Ela vive em uma casa escondida na floresta com Eremia - a Bramante Branca dos poderosos achar, gove...