A garotinha aproximou-se para ler, mas as únicas palavras que conseguiu decifrar foram as do título.
— É sânscrito... a língua antiga. É a linguagem dos códigos sagrados dos Fhar! — murmurou, recordando-se do que contara Eremia.
Observou que algumas frases estavam intercaladas com pequenos desenhos que representavam pedaços de mental cinzento. Não parecia tratar-se de prata, nem de chumbo e muito menos de gelo sâmico.
O mistério aguçou o interesse da Imperfeita. Mas, assim que tocou nas páginas, uma descarga elétrica envolveu suas mãos. Deu um salto para trás. Era impossível folhear aquele manuscrito e muito menos removê-lo do atril.
"Itérbio... mas o que é isso?", pensou, perplexa, enquanto inspirava o cheiro pútrido proveniente da jarra que continuava a flutuar sobre o fogo.
Tapou o nariz. "Que porcaria alquímica é esta que Okrad criou?"
A garotinha recolheu um dos bastõezinhos de madeira espalhados pelo chão e mergulhou-o no líquido vermelho. Alguns fragmentos acinzentados vieram à tona, quase liquefeitos, parecidos com os desenhos do manuscrito.
Quando Morga retirou o bastãozinho, percebeu que ele se tingira de preto.
"Uma poção vermelha que se torna preta... quem sabe para que serve?", pensava, reprimindo a ânsia de vômito.
Observou também que dentro de seis vidros havia pedaços de metal cinza idênticos aos da poção e do livro.
— Nunca vi um metal desse tipo! — murmurou.
Pegou alguns e, cheirando-os, sentiu o estômago se contrair: eram realmente esses fragmentos que fediam como carniças pútridas.
Franzindo o nariz, guardou-os na terceira portinhola do Obolho, junto com as substâncias vegetais e as pedras alquímicas.
— Eremia certamente conhece esse metal fedorento — disse, afastando-se da mesa para procurar uma saída.
Nesse momento, a luz do Glibine iluminou um pequeno nicho escavado no canto da parede esquerda. Dentro dele havia um documento contornado por um fio de ouro: era um diário em que Okrad anotava, havia quinhentos anos, locais e datas.
Fim da Décima Primeira Parte.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Morga - A Maga do Vento
FantasyAno 500. Planeta Emiós. Morga tem 12 anos, cabelos curtos - negros como piche -, o rosto salteado com sardas roxas sobre a pele branca e olhos azuis. Ela vive em uma casa escondida na floresta com Eremia - a Bramante Branca dos poderosos achar, gove...