8. Heimfra e o Código Sagrado - Oitava Parte.

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— Sim, é verdade. As numerosas clonagens realizadas nos mil Supérstites da Terra produziram seres de vida breve, que são os homens e as mulheres que nós, Fhar, qualificamos como "utilmente perfeitos". O motivo é que, quando programamos essa seleção horrível, queríamos garantir que U'ndários, Ancilantes e Gestais servissem para os nossos fins e para nossa sobrevivência. A ilha Límbia não é o local da eternidade de vocês, como nós sempre alegamos. Aquele atol no oceano Orhanto não passa de um cemitério gigantesco. — Eremia sentou-se na única poltrona, ao lado da Cuba Biomágica, e juntou as mãos.

Morga apertou os punhos, enquanto seu Obolho soltava lufadas de vapor ao lado do da Bramante.

— Sim, é justo que a morte atinja os Fhar. Não merecem viver. Mas o meu coração fica dividido. Eu não quero que meu pai morra. E não desejo perder você tampouco, cara Eremia.

— A única esperança é regressar à Terra. Não pense na morte. Ao contrário, pense no futuro que a espera. Vocês ainda são garotinhos e podem realizar os seus sonhos. — A Bramante retirou sua Kaplá e mostrou seu rosto velho para os Dakis. Deslizou os dedos pelo kumkum vermelho e aguardou sua reação.

Drima, Horp e Yhari estremeceram: era a primeira vez que viam o rosto de um Fhar.

— Velha, cheia de rugas, com a pele flácida. Somente eu me recusei a permanecer jovem. O tempo deve seguir seu curso. A minha mente está fresca, mas o meu corpo pede para descansar. Estou cansada de mentir e estou pronta a continuar a minha vida somente em prol da verdade. — Os pequenos olhos reluzentes de Eremia escrutinavam os rostos dos garotos. Sua confissão despertou sentimentos fortes nos Dakis.

Drima observou os profundos sulcos que marcavam o rosto da Bramante.

— Mas a Kaplá não funciona?

— Eu a uso somente quando venho aqui a Áurea Nyos. Morga sempre me viu como sou na realidade. Os outros Fhar estão com o rosto jovem, não envelheceram. Mas não é possível atingir a eternidade usando uma máscara ou mergulhando o corpo numa Cuba Biomágica. A eternidade não pertence à humanidade. Vocês entendem? — A anciã nunca fora tão loquaz, o que surpreendeu Morga.

Horp e Yhari ficaram pensativos; as palavras de Eremia eram como pedras de fogo; a onda da verdade invadia os seus pensamentos, que estavam mudando rapidamente. Compreender a falsidade dos Fhar não era simples para meros garotinhos.

— Eu falei sobre a Terra e... — A velha Bramante foi interrompida por Morga.

— Na lojinha de Karash onde compramos o mapa das Conduturas Cobríficas havia também, no meio de outra papelada e livrinhos sobre lendas, um livro com fotos e imagens da Terra — comentou, abrindo a bolsa de viagem e entregando-lhe o exemplar.

Eremia folheou-o, incrédula.

— Quem será que o deixou por aí durante todo esse tempo? É um livro que tem mais de quinhentos anos, e é estranho que vocês o tenham encontrado numa lojinha — acrescentou, esboçando um sorriso ao rever o que sua memória não esquecera.

— Muito bem, estas fotos certamente não são de um mundo irreal. A Terra não é uma lenda e, para voltar para lá, será necessário ter força e coragem. Espero que a vida ainda possa existir sobre esse planeta que viu nascer a humanidade. Agora, vou lhes dizer o que fazer.

A Bramante levou a mão ao bolso interior do vestido branco e pegou uma Fituba amarela. Acendeu-a e fumou-a em grandes tragos. Depois, passou os dedos pelo kumkum vermelho e começou a explicar o que os garotinhos iriam ter de enfrentar, e, acima de tudo, detalhou qual seria o papel de Morga.

— Maga do Vento, abra o Gual e mostre a chave — ordenou secamente.

Morga obedeceu e, ao mover a mão, o anel brilhou em seu dedo, chamando a atenção de Eremia.

— Quem lhe deu esse anel?

— Eu o encontrei na Casa 299, era da minha mãe. Ela o escondeu dentro do armário. Ela ainda não sabe que está comigo. — Morga sorriu.

— Cuide bem dele. Assim que você revir Animea, tenho certeza de que ela ficará felicíssima — comentou a Bramante.

Fim da Oitava Parte.

Morga - A Maga do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora