Os quatro amigos correram, afundando as botas anfíbias na neve que cobria as ruas de Karash. Já eram três da tarde e o céu estava ficando cada vez mais cinzento. Os estabelecimentos estavam apinhados de Dakis. Lumira e Reful haviam ido comer num pequeno restaurante que servia sanduíches com ervas aromáticas. Da vitrine iluminada viram Morga e seus amigos correrem para o estacionamento. As suspeitas em torno de quem era Morga multiplicavam-se, inclusive porque ela levara um livro velho e chamuscado em troca de uma gema preciosa.
O voo de regresso foi bastante turbulento, as Kombas sacolejavam com as rajadas de vento e de neve. Os Dakis dispunham de apenas três horas para conversarem antes de terem de ir às Poças, e as perguntas que queriam fazer a Morga eram muitíssimas.
Os ovos voadores aterrissaram diante da Casa 299 e os garotinhos subiram à água-furtada, sem imaginar que as Kombas estacionadas do lado de fora seriam notadas por quem não devia. Com efeito, Lefório ainda estava diante da vidraça do apartamento central da colônia e, mais uma vez, ficou curioso com o comportamento do grupinho.
Wapi soltou um grasnado poderoso assim que viu Morga chegar, e cuspiu uma chama roxa que deixou uma marca escura no assoalho de madeira.
— Calma, calma. Eu sei que você quer sair, mas com o mau tempo não é possível — disse a garotinha afagando as plumas alvíssimas do avestruz, que realmente não aceitava permanecer segregado naquela água-furtada tão reduzida.
Drima colocou um punhado de Equisetum Arvense ao lado da lareira, e Wapi, pestanejando muito, comeu resmungando.
Sentados no chão ao lado do fogo, abriram o livro e estenderam o mapa. Morga mexia no anel e, com semblante abatido, comentou:
— Era da minha mãe. Eu o encontrei dentro do armário e nunca vou me separar dele. Estou dizendo isto para vocês porque esta joia representa a vida de Daki de minha mãe e eu quero devolvê-lo para ela. A vida dela, assim como a de todos os demais, foi marcada pela Imperalei. Quero um mundo diferente. Um mundo onde a liberdade venha antes de qualquer outra coisa.Fim da Nona Parte.
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Morga - A Maga do Vento
FantasyAno 500. Planeta Emiós. Morga tem 12 anos, cabelos curtos - negros como piche -, o rosto salteado com sardas roxas sobre a pele branca e olhos azuis. Ela vive em uma casa escondida na floresta com Eremia - a Bramante Branca dos poderosos achar, gove...