7. Os Vermes Gigantes e a Viagem Subterrânea - Quarta Parte.

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Eles estavam encurralados. Encurralados mortalmente. Se Morga falhasse, a galeria que levava às margens do rio Hamandor se transformaria em seu túmulo dentro de poucos minutos.

A Maga do Vento concentrou-se e, segurando a vela acesa com a mão esquerda, verteu seis gotas de cera sobre a palma da mão direita; depois, pediu a Yhari para pingar três gotas de Cromo Váquio.

— Devo verter isto na sua mão? Não vai doer?

Os Dakis nunca haviam visto magia parecida. Somente os Fhar eram capazes de realizar prodígios extraordinários desse tipo.

— Anda logo! — Morga abriu a mão com a cera, e o garoto pingou a substância alquímica.

Um fio de fumaça avermelhada foi se enrolando em volta da mão e do braço da Maga do Vento, enquanto no fundo da galeria apareciam oito olhos brancos e luminescentes.

— AÍ ESTÃO! — berrou Drima, desesperada, escondendo-se atrás de Horp.

Os vermes eram quatro e deslizavam um por cima do outro lentamente. Sibilavam fechando parcialmente suas bocas infernais.

Morga caminhou em sua direção; Yhari tentou impedi-la, mas ela se desvencilhou e, saltando agilmente, subiu nas Conduturas Cobríficas, no centro da galeria. A substância amarela secretada pelos vermes impedia-a de equilibrar-se perfeitamente, as solas das botas anfíbias escorregavam perigosamente. Ela olhou para os monstros nojentos à sua frente e, soprando duas vezes sobre a mão direita envolvida pela fumaça, proferiu:

ARDEO

Produziu-se uma labareda, seguida de outra. Quatro esferas de fogo giraram em torno de Morga antes de se lançarem contra os vermes. Os rastos de vento incandescente seguiram as massas em chama, criando um potente impacto no ar estagnado da galeria: os sopros de Morga ardiam e não podiam falhar.

Três vermes foram atingidos na cabeça.

Uma explosão fulgurou no horizonte e o cheiro de carne queimada invadiu toda a galeria. A fumaça preta e o fedor do enxofre podre tornavam a respiração quase impossível. Os longos corpos moles dos vermes gigantes dissolveram-se, deixando para trás apenas uma papa cinzenta.

Envolta pela fumaça, Morga começou a tossir, e Drima gritou-lhe a plenos pulmões que ela devia recuar.

O perigo não terminara! O quarto verme, com a boca em chamas, ainda estava vivo e debatia-se, rolando de um lado para o outro. De repente, ele levantou a cabeça e, num impulso, conseguiu chegar a poucos passos da Maga do Vento.

Morga não conseguia respirar, estava sufocando com a fumaça. Ela cambaleou, suas pernas dobraram-se e ela caiu no chão, desmaiada.

O verme estava quase alcançando-a.

Yhari saltou sobre as Conduturas e colocou-se à frente da garotinha, atirando pedras e seixos contra o animal enfurecido. Horp, que encontrara um bloco de pedra bastante pesado, também foi a seu auxílio.

— Yhari, ajude-me a jogar isto nele. Vamos tentar atingi-lo na cabeça.

Em meio ao desespero e ao terror, os dois Dakis se uniram para enfrentar o monstro.

O bloco atingiu o verme nos olhos, afundando-lhe o focinho achatado, do qual pingava enxofre podre. O corpo viscoso desfaleceu sobre as Conduturas, e da sua boca em chamas saiu um último uivo estridente.

— ACERTAMOS! — comemoraram os dois garotos, erguendo os braços.

Apavorada, Drima correu em sua direção, seguida por Cilla e Wapi.

— Morga, Morga... responda. — A Ancilante lançara-se sobre a amiga, sacudindo-a.

Yhari ajoelhou-se e acariciou o rosto de Morga, que estava enegrecido pela fumaça. Nenhuma respiração saía de sua boquinha rosa semiaberta.

— Ela morreu! Ela morreu! — Dessa vez, Drima chorou.

As suas lágrimas eram cor-de-rosa como os olhos. Um novelo de sensações libertara-se num segundo, e a jovem Ancilante temeu pelo destino daquela garotinha que tinha arriscado a vida para salvar a deles.

Horp permanecia imóvel sem conseguir dizer nada. Tomado de um terror que não conseguia dominar, permanecia com os braços pendendo ao longo do corpo, de punhos fechados.

Yhari alisou os cabelos negros da Maga do Vento, baixou a cabeça e, como que guiado por um instinto antigo, pousou os lábios sobre os da garotinha. Soprou na boca de Morga uma, duas, três vezes.

— Não morra... Eu lhe peço... não me deixe — sussurrava, abraçando-a com amor.

Morga mexeu as pernas e tossiu. Quando abriu os olhos, o olhar dourado de Yhari foi a primeira coisa que viu ao voltar a respirar.

Gotas de felicidade molharam as sardas roxas: eram as lágrimas de Yhari, que caíam copiosamente sobre o rosto de Morga.

O garoto abraçava-a ainda:
— Você está respirando... sim, está viva!

Horp e Drima acocoraram-se ao lado de Morga e a comoção os venceu como aquele vento de fogo que aniquilara os vermes.

O Obolho girava enlouquecido sobre o corpo da Maga do Vento. Yhari deslocou-o, empurrando-o mais para o lado, e então pegou as mãos de Morga, ajudando-a a se levantar.

— Obrigada... mas... o que você fez comigo? — perguntou, passando as mãos sobre a boca.

— Eu soprei com força, fiz isso instintivamente — respondeu, constrangido.

Morga apertou ainda mais as mãos dele. Nada mais poderia separá-los.

Seu coração foi invadido por um impulso, um desejo, uma vontade que fez o Daki levar o rosto para a frente, sem raciocinar. Morga fez o mesmo.

Yhari beijou-a. Foi um toque levíssimo nos lábios rosados.

Depois, ele se retraiu sem poder acreditar no que havia feito. Aquele sopro não fora um procedimento para salvar a vida dela. Fora um beijo de amor.

Morga arregalou os olhos azuis e jurou a si mesma que não abandonaria Yhari por nenhuma razão do mundo.

Fim da Quarta Parte.

Morga - A Maga do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora