Então, voltou a mexer no Ciodalo e, alguns segundos depois, ouviu-se distintamente o som do apito do Obolho de Morga.
A velha Fhar ajoelhou-se e botou as mãos sobre o assoalho, afastando os dedos. Fechou os olhos e murmurou uma frase incompreensível: em volta de suas mãos formou-se um círculo de luz azulada que se transformou numa água gelatinosa e brilhante. Eremia começou a tremer como se estivesse tendo uma crise nervosa, o que levou o vestido branco e a capa prateada a se moverem como ondas. Em seguida, abriu a boca e emitiu um longo som rouco. Então, juntou as mãos, e a água gelatinosa desapareceu de chofre.
Os três Dakis permaneciam imóveis, observando a magia da Bramante.
— Se ela ainda estiver viva, vai responder já. O chamado alquímico da Albamax não falha. Nós, Fhar, o usamos apenas quando um de nós perde os sentidos, que é um evento raríssimo. Na minha longa vida, jamais precisei utilizá-lo — explicou a velha Fhar, tossindo.
Alguns metros abaixo do assoalho, dentro de um local sem luz, a jovem maga escancarou a boca e respirou. Em seguida, abriu os olhos e sentiu uma dor profunda na cabeça. O chamado alquímico da Albamax funcionara. Embora não fosse uma Fhar, o poder mágico herdado do pai fluía no sangue de Morga. A garota passou a mão pelos cabelos e sentiu sangue nos dedos. Viu algo luminoso logo acima; era o Obolho, que apitava. Com um esforço desmedido, ergueu um braço e agarrou o pequeno dirigível de cristal, de onde extraiu o Ciodalo e finalmente leu as mensagens fluorescentes de Eremia. Estava circundada por escuridão, mas não teve medo, pois desde sempre a obscuridade lhe pertencera. Respirava profundamente, imaginando encontrar-se sobre a Quercus Alba, e, ao cheirar o ar, sentiu um odor pungente e nauseabundo: era idêntico ao que penetrara em suas narinas quando abrira o livro verde de Okrad que continha a Prima Chartum Psicha. Ela intuiu que aquele cheiro tão desagradável tinha poder maléfico. A garotinha sentiu necessidade do seu vento para poder se recuperar plenamente, mas aquele porão poeirento e úmido abrigava somente energias negativas que lembravam a morte.
Criou coragem e respondeu à Bramante em poucas frases:
Estou ferida na cabeça e sangrando. Encontro-me num local sem luz e malcheiroso. Creio tratar-se do porão da torre. Agora, vou tentar me deslocar em busca da saída.
[Símbolo Desconhecido] Morga.
Quando o Ciodalo de Eremia cintilou, Yhari, Drima e Horp abraçaram-se pela comoção: Morga continuava viva, e nada estava perdido.
A Bramante dominou sua emoção.
— Bem, agora é preciso fazê-la sair dali. Mas eu nunca soube que a torre de Okrad tivesse um porão; não vejo a utilidade que possa ter — resmungou, desconfiada. Depois, alisando seu kumkum vermelho, enviou outra mensagem:
Morga, abra a segunda portinhola do Obolho. Seguramente, há nela uma caixinha de prata com o creme coagulante Quêbulas Ferma. Espalhe um pouco sobre o ferimento. Você precisa ficar bem e ser forte. Mas devo lhe dar uma notícia ruim: você perdeu o anel de sua mãe, que foi achado pelas Sentinelas de Okrad. O Grão-Medônio ordenou que Smartika descubra a quem pertence. Seu pai encontra-se no Centro Cripto para verificar as listagens de nascimentos. Lefório, por seu lado, retornou à Colônia Briosa para ter notícias do desaparecimento de vocês.
Temo que a situação piore a cada minuto.
Tente sair daí[Símbolo Desconhecido] Eremia.
A reação de Morga foi de estupor e raiva. Ter perdido o anel de Animea sem ter se dado conta irritou-a. Pensou que sua mãe agora corria grave perigo e que a situação também era arriscada para o seu pai.
Fim da Oitava Parte.
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Morga - A Maga do Vento
FantasyAno 500. Planeta Emiós. Morga tem 12 anos, cabelos curtos - negros como piche -, o rosto salteado com sardas roxas sobre a pele branca e olhos azuis. Ela vive em uma casa escondida na floresta com Eremia - a Bramante Branca dos poderosos achar, gove...