6. O Mapa e as Poças de Esmerilha - Quinta Parte.

0 0 0
                                    

Ela abriu as primeiras páginas, observou que nem sequer constava a data da publicação e percebeu que muitas páginas tinham sido arrancadas, e outras apresentavam sinais evidentes de que haviam sido queimadas.

Instintivamente, cheirou o livro e, por uma fração de segundo, sentiu-se projetada dentro de um vazio sem fim. A loja foi atravessada por uma brisa repentina, que Pliope atribuiu às frestas existentes em volta da porta.

O cheiro que emanava das páginas era intenso, e Morga fechou os olhos e viu, em sequência, uma série de imagens insólitas: pradarias verdes, estranhos animais que voavam, cidades abandonadas e recobertas de vegetação, montanhas altíssimas e uma grande extensão de água turquesa.

— Terra! — exclamou, sem se dar conta.

Pliope virou-se para a garotinha, Drima permaneceu imóvel segurando algumas folhas, Yhari e Horp largaram bruscamente duas alavancas e algumas porcas que haviam encontrado na cesta.

— O que você disse? — perguntou Pliope, franzindo o nariz.

Morga mordeu os lábios e, constrangida, respondeu:
— Nada, eu estava lendo este livro, que trata de uma... lenda.

— Ah, lendas. Sim, pois é, vocês garotinhos andam loucos por histórias fantásticas. — A Ancilante sacudiu a cabeça e começou a tirar o pó dos pequenos objetos expostos na estante atrás do balcão.

Drima ficou boquiaberta, Yhari e Horp aproximaram-se das garotas com o semblante sério.

— Você encontrou o livro certo? — Yhari estava ansioso por saber.

Morga abriu o volume e folheou as páginas: as imagens mostravam paisagens nunca vistas em Emiós, mas era difícil decifrar as legendas por causa das manchas e das queimaduras.

— Que raios de imagens são essas?! Não são Esfavilas! Parecem as que temos o costume de ver aqui em Emiós, nos quadros de avisos ou penduradas nas paredes... Mas como foram feitas? — Drima estava ficando cada vez mais curiosa.

— Estas não são Esfavilas; mostram lugares verdadeiros. Locais que não fazem parte de uma lenda. O planeta Terra existe realmente: era a isto que eu me referia hoje de manhã, mas Sasima não permitiu que eu o revelasse logo a vocês — sussurrou Morga.

— Terra? — repetiram em coro os demais.

Naquele instante, o sininho da loja tocou, e Lumira entrou. Ela estava acompanhada de Reful, um Daki de 15 anos de pele amarelada, cabelos curtos e escuros olhos amendoados. Reful era conhecido entre os garotos pela sua arrogância e prepotência. Ele ganhara cinco vezes consecutivas a competição dos pratinhos e por isso alimentava forte antipatia por Horp, que lhe arrancara a última vitória.

A palavra "Terra" ecoou novamente e, dessa vez, Pliope franziu a testa. Entretanto, não chegou a interferir, porque Lumira começou a falar primeiro:
— Vocês encontraram algum tesouro secreto? Ou um saquinho de terra fedorenta?

A risada histérica da antipática Daki fez Morga compreender que Lumira não tinha a menor ideia do que significava a palavra "Terra".

Drima reagiu com a calma que lhe era costumeira:
— Estamos somente matando o tempo olhando velhos objetos. Nada de importante.

Reful baixou o fecho ecler do macacão térmico até o meio do peito e, marrento, postou-se diante de Horp.

— Você está procurando um cérebro sobressalente? — provocou-o.

Horp teve a tentação de lhe desferir um empurrão, mas Yhari o deteve. Reful escrutinou Morga da cabeça aos pés e perguntou, estalando os dedos:
— Eu nunca vi você. Que sardas roxas estranhas tem no rosto... Você vai ser Gestal?

A garotinha anuiu e olhou para Yhari, constrangida.

— Você não fala? — insistiu Reful.

— Se ela não o faz é porque não quer. Sai fora, queremos ficar em paz pelo menos aqui.

A resposta imediata de Yhari provocou uma risada escandalosa por parte de Lumira.

Drima, compreendendo que a situação podia degenerar, pegou Lumira pela mão e a arrastou para uma pequena vitrine repleta de anéis muito antigos.

Fim da Quinta Parte.

Morga - A Maga do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora