— Mas como vamos fazer? Não dá para ver nada! — Horp passava as mãos pelas paredes para procurar um interruptor, mas não havia nenhum.
Aquele trecho que se estendia por sabe-se lá quantos quilômetros parecia não ter iluminação.
Drima avançou tateando e percebeu que a passarela ao lado das Conduturas ia estreitando-se cada vez mais: continuar seria perigoso, inclusive para os Piróssios.
— As Conduturas Cobríficas ocupam grande parte do túnel, e teremos de caminhar tomando cuidado para não escorregar — acrescentou a jovem Ancilante arregalando os olhos cor-de-rosa, que, na penumbra, brilhavam como estrelas.
— Usarei o Glibine, a luz vermelha nos ajudará a enxergar onde pisamos. — Morga segurou a pedra mágica como uma lanterna e entrou na galeria.
Depois de alguns metros o ar tornou-se mais denso, e Yhari, que estava logo atrás de Morga, desconfiou do cheiro parecido com ovo podre.
O chão da passarela tornou-se fervente, e das paredes rochosas escorregava uma estranha substância gosmenta:
— Que nojo! As rochas parecem cobertas de lodo.Morga cheirou o ar, sentiu uma descarga no cérebro e calafrios pelo corpo todo. Colocou a bolsa de viagem no chão e, acocorando-se, apontou o Glibine para o fundo da galeria. A luz avermelhada expandiu-se criando um halo perfeitamente redondo, que clareou as paredes gosmentas. A substância que escorria lentamente das pedras era de cor amarelada.
— Enxofre Granuloso! — exclamou instintivamente.
— Estamos correndo perigo? — quis saber Drima, agarrando-se a Horp, que estava à sua frente.
— Não sei, com esta luz é difícil saber o que há adiante. — Morga não queria assustar os amigos, mas sentia na pele o temor de que algo grave estava prestes a acontecer.
O gorgolejar das Conduturas e a substância pegajosa amarela alarmaram o grupo de garotinhos. A gosma aderia às botas, impedindo-os de caminhar de forma segura. Cilla voltou a grasnar, e Wapi acariciou o pescoço dela, esfregando sua cabeça nele. Os outros dois Piróssios também se agitavam tanto que suas patas escorregavam da passarela; eles corriam o risco de cair em cima das Conduturas.
Um barulho estridente proveniente do fundo do túnel impressionou a todos.
O halo do Glibine deformava o horizonte, e as sombras das rochas moviam-se como fantasmas.
— Olhem, lá no fundo há uma claridade verde. — Tomando cuidado para não cair, a Maga do Vento acelerou o passo, e as suas notas foram completamente envolvidas pela gosma amarela.
Os Piróssios avançavam com dificuldade, suas patas também grudavam no solo gosmento.
Depois de uma breve descida, a galeria alargou-se novamente, abrindo-se e formando um espaço oval que prosseguia sempre para a esquerda. Dessa vez, as candeias de Óleo Trimado eram menores e meio esverdeadas. Algumas soltavam borbulhas e, de vez em quando, apagavam-se.
— O cheiro de enxofre está aumentando. Eu não sei o que está provocando esse barulho estridente que vem lá do fundo. É melhor pararmos — afirmou Morga, virando-se para o grupo.
Wapi, Cilla e os outros Piróssios, aproveitando-se do largo oval, ultrapassaram os Dakis saltitando. Cilla deitou-se abaixo de uma das lâmpadas verdes e fechou os olhos. Wapi acocorou-se ao seu lado para tirar uma soneca.
O outro casal de avestruzes, porém, ficara curioso do barulho estridente que chegava intermitentemente e seguiu mais alguns metros.
— Vamos descansar e comer as Maçãs Corninas e alguns docinhos com especiarias que Gardênio nos deu — propôs Horp, que estava morrendo de fome.
Drima sentou-se no chão apoiando as costas na parede, e algumas pedrinhas despencaram do teto. Um ligeiro tremor fez oscilar as rochas. A jovem Ancilante limpou a cabeça calva e olhou para cima, desconfiada.
Morga voltou a sentir uma descarga no cérebro, e calafrios percorreram todo o seu corpo.
Fim da Segunda Parte.
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Morga - A Maga do Vento
FantasyAno 500. Planeta Emiós. Morga tem 12 anos, cabelos curtos - negros como piche -, o rosto salteado com sardas roxas sobre a pele branca e olhos azuis. Ela vive em uma casa escondida na floresta com Eremia - a Bramante Branca dos poderosos achar, gove...