7. Os Vermes Gigantes e a Viagem Subterrânea - Sétima Parte.

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Lefório viu um pendente de cobre e uma chave antiga. Entre chamas e gritaria, ouviu a voz de uma Daki que incitava à rebelião.

O velhíssimo mago foi invadido pelo terror e, sem se dar conta, murmurou algumas poucas palavras:
— A profecia... o vírus... a Imperfeita. — Em seguida, desequilibrou-se, caindo como uma folha seca.

As duas Sentinelas acudiram-no, preocupadas.

— Não é nada, é só o efeito do Comoro Visko. Tive uma visão terrível. Preciso retornar imediatamente para Áurea Nyos e falar com Okrad. Há demasiadas coisas que não vão bem e todas são muito graves.

As Sentinelas captaram a inquietude de Lefório e começaram a aprontar o Transporte Pulverizador.

— Não esqueçam, mandem os U'ndários encontrar aqueles Dakis. Caso contrário, hão de se haver comigo! — Assim que o Fhar concluiu sua fala, uma Gestal e uma U'ndária que cuidavam da alimentação e do vestuário dos Dakis entraram no aposento suntuoso.

As Sentinelas sinalizaram que fossem embora, mas Lefório deixou que falassem:
— Espero que seja algo importante, eu não tenho tempo a perder.

As mulheres baixaram a cabeça com reverência e contaram quem eram os garotinhos desaparecidos.

— Trata-se de Horp, 13 anos, e Yhari, 14, que moram na Casa 15 — informou a U'ndária.

— Também falta uma jovem Ancilante, Drima, 12 anos, que vive com Lumira na Casa 207. Foi justamente esta última que acorreu para nos avisar que sua companheira não havia regressado — explicou a Gestal.

— E também não há sinal de Morga, 12 anos, que mora na Casa 299. Os quatro Dakis sumiram com os Piróssios, e não entendemos o motivo — complementou a U'ndária, amarrando o tradicional lenço florido na cabeça.

— Morga? Mas... é aquela garotinha boba que não sabe pilotar uma Komba e só faz besteiras nas Poças de Esmerilha! Mandem os U'ndários em expedição até Ômbria, eu não acho que o grupinho possa ter chegado mais longe. — Lefório levantou o dedo indicador, apontando a saída para as duas mulheres, que, aturdidas, ainda permaneceram imóveis por alguns segundos.

Lefório alterou-se. Aquele nome, Morga, fizera-o lembrar a alucinação que tivera pouco antes.

O espectro da profecia invadiu seu coração, e o pensamento de que a Imperfeita já poderia ter nascido em Emiós agitou-o de tal maneira que até a Kaplá estremeceu e correu o risco de cair no chão e revelar o seu rosto.

— Meu Senhor, podemos dizer a Lumira que agradecemos a colaboração? — A U'ndária aguardou outro sinal do Fhar.

— Sim, sim... digam-lhe que ela é uma Daki perfeita. E, agora, vão embora e procurem manter a Colônia tranquila até o meu regresso. E, principalmente, mandem consertar as Mecânias Fluantes, senão todas as cidades sofrerão com o frio — emendou Lefório distraidamente, enquanto se preparava para o Transporte Pulverizador.

— Mas a Pramaga Telkia não virá por muito tempo?

A pergunta da Gestal irritou-o.

— Não são assuntos que lhe digam respeito. — A resposta seca e cáustica soou agressiva como uma chicotada.

As duas mulheres se retiraram, empurradas pelas Sentinelas.

O Fhar posicionou-se no centro do aposento, pegou o Obolho e o segurou entre as mãos; as Sentinelas voaram para o seu lado e, naquele momento, Lefório pronunciou as palavras alquímicas que possibilitavam o deslocamento imediato entre a Colônia Briosa e a Cidade das Cem Torres. Eram palavras que continham a potência mágica dos Fhar, uma força energética que conseguia pulverizar o corpo e transferi-lo de um local a outro do planeta sem ter de viajar.

Lefório fechou os olhos e, modulando a voz, exclamou:

DUX AMOVEO
IN AUREA NYOS

As três figuras desapareceram, travadas por um clarão azul. No solo ficou apenas poeira incandescente.

A transferência do Fhar e das duas Sentinelas demorou alguns segundos. O Pramago estava ansioso para falar com o Grão-Medônio Okrad. Haviam acontecido demasiadas desgraças em pouco tempo, e o terror de que a verdade emergisse estava minando a falsa tranquilidade de Emiós.

Às sete da manhã, enquanto a maior parte dos Dakis ainda dormia, vinte U'ndários divididos em quatro grupos encaminharam-se com os seus Corcundosos na direção dos bosques adjacentes e da zona dos cogumelos gigantes de Ômbria, em busca dos garotinhos desaparecidos. Gardênio viu seus companheiros seguirem os rastros deixados pelos Piróssios na neve e não sabia o que fazer. Dentro de poucas horas, descobririam que as marcas das patas paravam no poço de acesso aos subterrâneos. Ele não pudera se juntar aos grupos de busca porque recebera ordem de cuidar das Mecânias com os U'ndários que chegariam das Fábricas Côncavas pela manhã. Correu a procurar Sasima, na esperança de que juntos pudessem encontrar uma solução.

— Mas para onde foram? Por que fugiram? — inquiriu a Gestal.

— Morga precisava ir para Áurea Nyos e os outros decidiram acompanhá-la pelos subterrâneos — explicou Gardênio sucintamente.

— Eu não posso fazer nada. — A Gestal andava de um lado para outro na sala das mercadorias, no andar térreo, debaixo dos pórticos do edifício central.

— Invente alguma coisa, você deve impedir que descubram para onde foram. Eu não posso ir com os U'ndários senão vão suspeitar de mim — insistia Gardênio.

— Eu, no bosque no meio da neve alta? Mas Gestal nenhuma faria uma coisa dessas! Ademais, nós e as Ancilantes estamos ocupadas com todos os Dakis, você sabe bem que com este tempo ruim eles não podem trabalhar nas Minas de Ambrioso; quando correr o boato de que quatro deles fugiram, vai ser uma confusão que não sei mesmo como vamos gerenciar. A Colônia está acéfala. Telkia não está aqui, Lefório foi embora e... — Sasima levou as mãos à fronte e sacudiu a cabeça.

— E então? Você quer que eles encontrem os garotos e os... punam?! Ou que descubram quem é Morga? — Gardênio estava irritado.

Fim da Sétima Parte.

Morga - A Maga do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora