6. O Mapa e as Poças de Esmerilha - Segunda Parte.

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— Bem, muito bem, mais garotinhos decidiram se divertir. Mas quem é que mora ali no fundo... naquela casa com a lanterna quebrada? — perguntou à queima-roupa para as Gestais que estavam às suas costas.

Nenhuma respondeu.

— Então? Eu fiz uma pergunta! — exclamou, irritado.

Sasima deu um passo à frente.

— No número 299 mora Morga, 12 anos, futura Gestal. É uma Daki muito séria e respeitosa. — Sasima esperava que o Pramago não fizesse mais perguntas.

E, com efeito, Lefório não quis se deter sobre quem era Morga, porém mandou que a lanterna quebrada fosse consertada o quanto antes, explicando que a iluminação das casas era fundamental para a visibilidade noturna e diurna, tendo em vista o tempo horrível que escurecia o céu.

Sem saber que eram observados pelo Fhar, Yhari, Drima e Horp faziam roncar os motores das Kombas e esperavam que a amiga saísse.

Morga ouviu o barulho, passou o Creme Antalgia, amarrou as botas anfíbias e despediu-se de Wapi, que estava absolutamente infeliz de ter de ficar mais tempo sem sair ao ar livre: ele queria procurar Cilla. Mas a Piróssia de Yhari também ficara em casa devido à tormenta de neve.

A garotinha acariciou o avestruz.

— Meu gingão, eu volto logo.

Wapi dobrou o pescoço para trás e pestanejou, fingindo-se ofendido.

A Maga do Vento lembrou-se de levar o saquinho contendo as pedras preciosas que Sasima lhe levara: usaria as gemas para fazer escambo nas lojinhas de Karash. Desceu, seguida pelo Obolho invisível. Sentia-se segura sabendo que ele permaneceria ao seu lado, porque poderia contar com as substâncias alquímicas contidas no pequeno dirigível de cristal em caso de emergência.

Quando chegou perto da porta desengonçada da cozinha, viu sua Komba. Gardênio explicara-lhe muito sumariamente como ligar o estranho velívolo e, por isto, tinha medo de não acertar. Observou o habitáculo interior através do vidro da frente, depois deu uma olhada pelas duas escotilhas laterais e examinou as asas metálicas dobradas. Convenceu-se de que não seria muito difícil pilotar.

Escancarou o portão de casa para dar passagem à Komba, levantou o fecho ecler do macacão térmico até o pescoço e saudou os três amigos que permaneciam nos velívolos, suspensos alguns metros acima do manto de neve. Os três responderam à saudação acenando as mãos atrás das pequenas escotilhas e sinalizaram que se apressasse.

Morga abriu a portinhola e acomodou-se no único assento, vermelho. No painel, havia uma tecla roxa e, do lado, uma alavanca preta. Ela colocou a mão sobre o volante e pressionou o botão com a outra: o motor pegou, fazendo sacolejar a Komba.

Nervosa e emocionada, ela deslizou lentamente a alavanca para a frente, o farol vermelho posicionado sob o vidro dianteiro acendeu-se e o ovo ergueu alguns centímetros, avançando para a saída. Mais um toquezinho na alavanca e as asas metálicas se abriram bruscamente, como se fossem acionadas por molas. O velívolo decolou desengonçadamente, partindo diretamente para cima da Komba de Drima. A jovem Ancilante agitou-se e, pela escotilha, acenou para a amiga que devia virar o volante. Ao girar para a esquerda, Morga inadvertidamente baixou a alavanca: o ovo voador colocou-se em posição vertical e partiu como um foguete, atravessando uma nuvem de neve que avançava ameaçadoramente.

Lefório ficou curioso dessa manobra arriscada.

— Aquela Daki... Morga... não sabe pilotar muito bem. Parece-me bastante imprudente.

Algumas Gestais resmungaram simplesmente, mas Sasima ficou muito séria. Morga acabara de despertar o interesse do Fhar, e isso não era absolutamente positivo.

Imersa na luz de chumbo da tormenta de gelo, a Maga do Vento arregalava os olhos e, maravilhada, observava pelo vidro da Komba os vórtices de neve que se agitavam, dispersando-se em mil aglomerados de cristais. Os fracos raios do sol filtravam-se entre as nuvens, ao passo que os das duas luas se entrecruzavam, criando raios azuis e vermelhos.

Fim da Segunda Parte.

Morga - A Maga do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora