8. Heimfra e o Código Sagrado - Primeira Parte.

0 0 0
                                    

Áurea Nyos
Estação Invéria – 8º dia do ano 500
Temperatura: 30 graus abaixo de zero
Lua azul-cinza e lua vermelha diurnas

O pôr do sol coloria o céu de um roxo tênue. As grossas nuvens de tormenta haviam se deslocado para o sul, e as duas luas, a azul e a vermelha, abriam espaço para a branca, da qual só se entrevia uma nesga. Morga escalou os grandes blocos de pedra do resto da galeria e saiu num prado coberto de cristais de gelo contornado por altíssimas árvores revestidas de neve. O Obolho rodopiou algumas vezes esguichando fumaça e vapor, pronto para receber novas mensagens.

Ao olhar à sua frente, a Maga do Vento viu um aglomerado de torres majestosas sobre as quais sobressaíam as bandeiras congeladas pelo frio: os símbolos dos Fhar eram bem visíveis e assinalavam as moradias dos poderosos habitantes da Área Krop-6X.

Cada torre era diferente da outra e todas eram adornadas com estátuas e gravações. Capitéis, arcos e pórticos, vidraças de diversas cores, janelas enormes e minúsculas emolduradas em mármore e pedras preciosas. Numerosas pontes ligavam uma torre à outra, sendo que algumas eram cobertas com pequenos telhados de mármore preto, enquanto outras pareciam simples passarelas penduradas com grossas cordas trançadas. A despeito da friagem, havia muita vegetação, e a Floresta de Samhar, que se estendia até a última das cem torres, estava imersa em silêncio. Do portão de entrada de mais de 4 metros de altura, no qual alternavam-se barras de ferro e prata, pendiam estalactites alvas que brilhavam sob os raios do sol poente.

A entrada de Áurea Nyos era imponente e provocava certa inquietação: esse portão tão majestoso fora erguido para defender a cidade dos Fhar.

Wapi baixou o pescoço e apoiou a cabeça nas costas de Morga, pressionando-a ligeiramente com o bico. A garotinha acariciou-o.

— Nós conseguimos, meu gingão. Agora, ainda vamos precisar de coragem para entrar. Mas não tenha medo, eu nunca o deixarei sozinho.

A jovem maga inalou o ar, e o cheiro de morte penetrou até seu estômago: o vírus da profecia estava presente, e Morga detectou-o com os seus sentidos apurados como espiões.

Foi percorrida por um calafrio: dentro de Áurea Nyos estava se cumprindo o destino dos Fhar, e ela era a portadora da sua desventura.

Yhari, ladeado por Cilla, aproximou-se de Morga.

— Eu preciso encontrar um abrigo agora mesmo; o frio está penetrando no macacão térmico pelo rasgão, e minha perna esquerda está congelando.

— Passe um pouco de Creme Antalgia, isto a protegerá. Procure resistir, Eremia virá buscar-nos o quanto antes — encorajou-o a garotinha, colocando as mãos sobre a perna gelada do Daki.

Yhari aceitou o conselho e pegou o pote de pomada na esperança de que funcionasse também na perna. Horp e Drima chegaram-se aos dois amigos, mas o problema de Yhari não os impediu de apreciar a paisagem incrível: boquiabertos, fitavam as torres dos Mestres de Vida. Depois de ter passado aproximadamente vinte horas nos subterrâneos, eles se sentiam felizes por estar finalmente ao ar livre, mas o ar frio que penetrava em seus pulmões transmitia-lhes somente uma ilusão de liberdade reencontrada. A cidade dos Fhar era o coração de uma ditadura que estava prestes a desabar, e nada tinha sabor de alegria e felicidade.

— Vocês já estiveram aqui, não é? — perguntou a Maga do Vento.

Fim da Primeira Parte.

Morga - A Maga do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora