3. Os Olhos de Yhari - Segunda Parte.

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Yhari deu umas pancadinhas no pescoço de Cilla, sua lunática Piróssia, uma avestruz fêmea bastante esquisita, que abriu o bico e soltou um grasnido pior que o dos Gansos Palmados das Leiterias Tortas.

— Yhari, você está com 14 anos e não consegue fazê-la se calar. Você quer apear e andar pelo restante da viagem? Sabe muito bem que o Fhar Serunte gosta de silêncio — resmungou Gardênio, que caminhava a passos largos empunhando o Corcundoso, um bastão curvo de quase 2 metros de comprimento com o qual sondava o terreno para verificar a existência de buracos perigosos. O U'ndário não sentia muito frio e, embora a temperatura já tivesse caído para dez graus negativos, ele ainda não sentia necessidade nem de suco de Cantária nem de creme de Antalgia. Vestindo somente um grosso suéter de lã, calça larga e a clássica cartola preta que oscilava sobre os cachos acobreados de seus cabelos, enfrentava as lufadas de neve sem se alterar.

Horp, de pele escura, olhos azuis e dentes alvíssimos, tinha somente um ano a menos que Yhari. De gênio alegre, não conseguia conter a risada fragorosa: observava a indomável Cilla e segurava a barriga de tanto rir. Gardênio voltou a resmungar por causa do alarido dos Dakis e continuou a enfiar o Corcundoso nos amontoados fofos e brancos.

Serunte encabeçava a caravana, cavalgando um majestoso Dromante de olhos vermelhos e pelagem marrom, do mesmo tom que as árvores. O seu Obolho voava pelo seu lado, bufando, na altura da sua cabeça, permanecendo, porém, debaixo da grande Sombrinha Fleuro, uma capotinha impermeável especial montada sobre a corcunda do animal. O Fhar não temia as rajadas de neve, mas estava bastante aborrecido com o vociferar dos Dakis e do U'ndário. De repente, Serunte virou a cabeça e, através da máscara de ferro e gelo sâmico que encobria seu rosto, lançou um olhar severo para todos.

— Conseguimos atravessar as montanhas da Cosmogonia Rochosa sem encontrar animais ferozes, e eu não tenho a intenção de me estressar agora com suas baboseiras. Tenho pressa de chegar à casa de Eremia. Mexam-se! — Os olhos de Serunte eram de um azul profundo. Como os de Morga.

Fim da Segunda Parte.

Morga - A Maga do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora