Conduturas Cobríficas dos Subterrâneos de Emiós
Estação Invéria – 8º dia do ano 500
Temperatura: 25 grausA primeira a ser amarrada foi Cilla. A despeito das palavras tranquilizadoras de Yhari, a Piróssia estava nervosíssima: não parava de se debater, sacudindo as asas e as patas convulsivamente.
Seus grasnidos tornaram-se ainda mais agudos quando os três Dakis começaram a baixá-la no poço.
Morga observava o grande corpo plumado, que oscilava como um pêndulo. Assim que suas patas tocaram o fundo, a Piróssia baixou o pescoço e começou a bicar raivosamente o solo pedregoso.
— Agora, acalme-se! — Morga acariciou as plumas amarelas e a desamarrou, gritando aos garotos para recolher as bridas para baixar Wapi.
Cilla olhava ao redor e permanecia de bico aberto e com o pescoço completamente esticado. Wapi também se debateu muito quando chegou sua vez. Ao descer, ele bateu várias vezes a cabeça nas paredes rochosas e, ao chegar perto de Morga, emitiu um lamento agudíssimo e cuspiu uma pequena chama.
Mas ela o repreendeu severamente:
— NÃO! Você não pode fazer isso. Aqui pode ser perigoso!Com as plumas enegrecidas pela poeira, o Piróssio desengonçado posicionou-se ao lado de Cilla e observou o estranho mundo subterrâneo no qual haviam aterrissado; diante dele, havia somente um túnel compridíssimo em cujo centro corriam as grossas Conduturas fabricadas com Antimônio Soliuto, metal muito resistente extraído das Minas de Ambrósio. As Conduturas eram muito grandes e levavam soldas com fios de Cobre Xilante em diversos lugares.
Em poucos minutos, os garotos lograram baixar os outros avestruzes também e, em seguida, desceram Drima e Yhari. O último foi Horp, que amarrou a ponta das rédeas na árvore mais próxima ao poço e foi escorregando com muito cuidado, segurando-se firmemente. Quando sentiu os pés roçarem nas cabeças dos amigos, Horp largou as rédeas com um gesto rápido e saltou sobre o solo rochoso. Finalmente, os quatro Dakis estavam de novo unidos.
As luzes de Óleo Trimado oscilavam, e o gorgolejar proveniente das Conduturas juntava-se ao eco das vozes e dos passos. A viagem pelos subterrâneos de Emiós estava apenas começando.
Morga abriu a bolsa de viagem e pegou o mapa.
— Pronto, nós estamos aqui — disse, apontando a área das Poças de Esmerilha com o dedo. — Para ir para Áurea Nyos é preciso seguir o túnel central até chegar às margens do rio Hamandor.
Horp interrompeu-a:
— Mas aqui, onde o rio está indicado, há um desenho estranho. O que é isto?Morga olhou fixamente no mapa, examinou o ponto em questão e, semicerrando os olhos, respondeu:
— É uma voragem. As Conduturas seguem em maior profundidade sob o rio, prosseguindo em direção à Área Krop-1 do Centro Cripto e depois viram para o sul até o Mosteiro de Hamalios e a cidade de Mantrakor. Mas nós precisamos nos dirigir rumo ao noroeste, portanto, seguiremos pelas galerias que passam no subsolo das Montanhas da Cosmogonia Rochosa.— Vai ser uma viagem longuíssima. Será que iremos conseguir? — Drima estava muito preocupada.
— Temos de conseguir. Depois de vencer esses obstáculos, chegaremos sem problema a Áurea Nyos. Depois das montanhas, o subterrâneo será menos tortuoso porque acima das nossas cabeças teremos a imensa Floresta de Samhar. Eu a conheço bem: de cima da minha árvore nodosa costumava observar cada sopro de vento que movia as folhas e as plantas. — A garotinha voltou a dobrar o mapa, apertando-o contra si.
Yhari recordou a primeira vez que se encontraram junto da Quercus Alba e sentiu-se invadido por uma ternura que jamais sentira antes. O jovem Daki leu a mesma infinita inquietude nos olhos de Morga e jurou a si mesmo que apagaria a melancolia e a raiva desse olhar.
A Maga do Vento apertou o Gual e puxou a ponta de prata. O Obolho apareceu, envolvido como sempre por uma nuvem de vapor. Morga percebeu que a quarta portinhola estava como que enegrecida. Abriu-a e viu que o Ciodalo estava apagado. Naquela profundidade, era impossível receber e enviar mensagens.
— Só faltava essa! Não poderei entrar em contato com meu pai e Eremia durante todo o trajeto. — A garotinha fechou a portinhola e ficou parada um instante segurando o Obolho, que fumegava com dificuldade. A única coisa que conseguiu acalmá-la foi a certeza de que os frasquinhos com as substâncias alquímicas de Eremia estavam intactos. — Então, coragem, vamos. Precisamos chegar às margens do rio antes da alvorada — afirmou, pulando para a estreita passarela de pedra que ladeava as Conduturas.
Yhari seguiu-a, imitado por Drima e Horp e os quatro Piróssios, que se alinharam atrás deles.
O cheiro de mofo que emanava da rocha molhada não incomodava o grupo, que apreciava a temperatura branda do subsolo, de aproximadamente 25 graus. A friagem da estação Invéria não era sentida nas vísceras do Planeta.
Depois de percorrerem os dois primeiros quilômetros, os garotos encontraram uma bifurcação. A fileira de candeias de Óleo Trimado terminava justamente nesse cruzamento, além do qual reinava escuridão fechada que impedia avaliar a configuração de qualquer lado das galerias.
Morga voltou a pegar o mapa.
— Precisamos seguir para a esquerda, em direção noroeste, ultrapassar as margens do rio e prosseguir para a Área Krop-6X de Áurea Nyos.
Fim da Primeira Parte.
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Morga - A Maga do Vento
FantasyAno 500. Planeta Emiós. Morga tem 12 anos, cabelos curtos - negros como piche -, o rosto salteado com sardas roxas sobre a pele branca e olhos azuis. Ela vive em uma casa escondida na floresta com Eremia - a Bramante Branca dos poderosos achar, gove...