1. A Confissão da Bramante Branca - Penúltima Parte.

0 0 0
                                    

— Sim. Eu os estou enganando. E é por isso que você está aqui. Os seus pais sabiam que podiam contar comigo. Embora eu continue buscando a fórmula da eternidade, acredito que não seja absolutamente justo que nos sirvamos do povo de Emiós somente por egoísmo nosso. Os Fhar querem a imortalidade e estão pouco se lixando para os outros. Têm um único medo: que nasçam crianças diferentes que possam colocar em crise a própria lógica do seu poder. Você está entendendo bem o que estou falando? — A voz da Bramante Branca ficou fina, quase estridente.

— Então, eu tenho sorte. Fui salva por isso. Para ajudar você? — A força de caráter de Morga, sua inteligência e sua vontade absoluta de viver despertaram na xamã o desejo imperioso de agir.

— Você não vai ajudar somente a mim, porém a todo o povo de Emiós. Você representa um perigo para os Fhar. Você é imperfeita! — Eremia pronunciou essa palavra, que penetrou no coração de Morga como um punhal.

— IMPERFEITA! — gritou a garotinha.

— Sim. Agora, você já sabe o bastante. Poderá conversar com sua mãe e seu pai. Somente eles podem decidir o que fazer com a sua vida. — A xamã tocou o meio da testa, deslizando de leve sobre o kumkum vermelho, e virou-se de costas.

— É para isso que eles vêm para cá? Querem levar-me embora? — Morga já não sabia mais o que pensar.

— O vento falou com você, está acontecendo alguma coisa de grave. Eu também espero saber o que o destino nos reserva. Agora, vá dormir: temos dias pesados pela frente. — Eremia continuou a mexer nas suas misturebas de sempre e acendeu o Boca Chama, o forno para aquecer substâncias alquímicas, em que meteu uma forminha cheia de Aloe Feixosa.

A garotinha saiu do Panacedarium e ao subir a escada olhou para o jardim pela vidraça: a noite encobrira o céu, e a escuridão penetrou seu coração. Sentira-se tragada pelas trevas, pela escuridão que amava e que agora assemelhava-se ao oceano Orhanto.

Ao chegar a seu quarto viu Wapi, que adormecera sem se recolher ao seu refúgio quente, junto com todos os outros Piróssios, no prado de Eremia.

Fim da Penúltima Parte.

Morga - A Maga do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora