4. Os Ambalis e a Antiga Profecia - Quarta Parte.

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A garotinha olhou fixamente pela janela por mais um instante e depois se virou, fechando o Flatus. Com as mãos apoiadas na capa vermelha, bufou:
— Você tem realmente que falar comigo agora? Eu queria revisar a magia do vento. Embora eu mesma tenha escrito as fórmulas e as saiba de cor, gostaria de fazer alguns experimentos antes de partir para a Colônia Briosa.

— Você vai fazer seus experimentos depois. Agora, controle sua respiração, relaxe a mente e ouça o que vou ler. Seu pai me encarregou de fazê-lo, e posso lhe garantir que não é fácil ter de pronunciar estas palavras. — Eremia desenrolou o documento e começou a ler com voz trêmula.

Morte infecta. Traição honesta. Mãos jovens.
Palavras azuis escreverão a liberdade do retorno.
Nos olhos de uma jovem Imperfeita
nascida por amor
ler-se-á o fim dos Fhar.

A Bramante Branca voltou a enrolar o papel e, depois, pegou as mãos de Morga, apertando-as nas suas.

— É a antiga profecia que há séculos nos assusta, a nós, Fhar. Okrad, o Grão-Medônio, alega que este documento é falso, e todos os outros concordam com ele. Nenhum deles quer ouvir falar nisto. Somente eu e seu pai estamos convencidos de que a profecia diz mesmo a verdade.

As mãos de Morga ficaram geladas.

— A jovem Imperfeita sou eu. Certo?

— Sim. Não há dúvida. — Eremia levantou-se do tapete e, apertando o documento, sacudiu a cabeça.

— O que é Morte Infecta? — A garota saltou em pé.

— Não sei. Como você sabe, nós, Fhar, não falamos em morte. O seu nascimento estava previsto nesta profecia. É difícil prever o que vai acontecer agora — respondeu a Bramante.

— Meu pai corre o risco de morrer? — Morga estava aterrorizada.

— Espero que não. Mas a traição honesta a que se refere a profecia é certamente a minha e a do seu pai em relação aos outros Fhar. Eu também estou em perigo. — Eremia cobriu o rosto com as mãos, que tremiam como folhas ao vento.

— Eu entendo. Vocês cometeram uma traição ao me salvar, e agora eu... terei de salvar o povo de Emiós! Mas como é que eu posso fazer isso? É uma loucura! — A garotinha sentia um turbilhão dentro do peito. O destino da profecia corria em seu sangue humano.

— A magia e a alquimia vão ajudá-la. Você precisa ir embora desta casa porque é demasiadamente arriscado que fique aqui. Caso seja descoberta, será o fim de todos nós. Na Colônia Briosa, você vai viver com os outros Dakis e será mais difícil os Fhar a descobrirem. Vai precisar ficar bem alerta. — Eremia aproximou-se da porta, mas Morga a interrompeu.

— Não entendo o que preciso fazer! — repetiu a garotinha.

— A profecia vai se realizar e você saberá como agir. — A xamã não quis explicar mais nada.

— Você vai me deixar assim? Eu preciso saber! O que significa que as palavras azuis escreverão a liberdade do retorno? — implorava Morga.

Eremia olhou-a com uma mistura de ternura e desespero.

— O vento lhe dirá. Há um céu azul à espera. Você o verá.

A jovem maga abriu os braços em sinal de rendição. Não conseguia mesmo compreender o que ela devia e podia fazer.

— O céu da Terra? Mas como é que se consegue voltar para esse planeta?

— A liberdade está no retorno — sentenciou a Bramante, triste e orgulhosa, passando os dedos na chave de bronze verde que pendia de sua pulseira.

Morga - A Maga do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora