Oculta na escuridão, Morga seguia cada gesto seu, tremendo de nervoso. Mantinha a boca fechada e respirava pelo nariz, para evitar que o diabólico Fhar sentisse o seu hálito.
"Ele está criando outra fórmula para a eternidade!", pensou, estarrecida.
O Grão-Medônio recolocou a jarra para flutuar sobre o fogo e anotou seus loucos passos de magia no manuscrito. A garotinha fitava-o, odiando com todas as suas forças aquele ser que, visto de perfil e debruçado sobre a mesa, parecia um bruxo maléfico. Com aquele nariz recurvo e os cabelos brancos que lhe caíam sobre o rosto, ele divertia-se escrevendo a ignóbil fórmula da imortalidade.
"Itérbio. Metal desconhecido", matutou Morga, perguntando-se onde ficaria a jazida e como Okrad conseguira descobri-la à revelia dos outros Fhar.
— Doses variáveis, fervura longa. Mais um experimento e depois... — murmurava Okrad enquanto escrevia.
O cheiro pútrido do Itérbio saturou o Kimiyerante. Morga não aguentava mais, seus pulmões reclamavam ar limpo e fresco. O Obolho bufava ao seu lado, e o vapor poderia representar um perigo, pois se o Fhar o notasse, seria o seu fim! Contudo, ela não podia torná-lo invisível, já que podia precisar dos elementos alquímicos a qualquer momento.
Suando e com os olhos fixos em Okrad, ela pensou em sua mãe e nas suas lágrimas. Triste e com raiva, perdida naquela escuridão profunda, ouviu repentinamente as vozes harmoniosas e apavorantes das Sentinelas, que penetraram no porão como mau agouro:
— Meu Senhor, avistamos uma Vádria e uma Espilonga.Okrad endireitou as costas e voltou a fechar o manuscrito, deixando-o sobre o atril.
— Bem. Recebam os hóspedes e deem um jeito para que não passem ao lado das torres enlutadas. Mandem que eles esperem do lado de fora da Megorá até segundas ordens. Eu mesmo sairei para recebê-los.
As duas criaturas eram as únicas a conhecer a existência do Kimiyerante e sabiam que ele não devia ser descoberto pelos demais. A Imperalei proibia o uso de substâncias secretas, mas o Grão-Medônio havia convencido as Sentinelas de que ele podia realizar experimentos alquímicos úteis para todos os Fhar única e exclusivamente naquele local misterioso. Em troca do seu silêncio, ele prometera mais poder às criaturas. Assim, a avidez prevalecera também sobre o respeito às regras de Emiós.
As Sentinelas, sempre encapuzadas, retiraram-se, verificando que ninguém pudesse entrar no auditorium.
— Vamos ver o que Animea vai alegar. Ela não poderá mentir para mim — disse Okrad, recolocando a capa nos ombros. Ao pegar a Kaplá, percebeu uma presença.
A grande habilidade que o Fhar tinha para captar energias era imbatível e, naquele momento, o sangue ferveu em suas veias como Itérbio; a lembrança do vento dentro da Megorá o fez estacar.
Diante dos seus olhos passaram rapidíssimas imagens dos 500 anos vividos no pequeno planeta da Galáxia Esperimea. O tempo parecia desaparecer junto com as recordações de uma vida que agora estava prestes a estilhaçar-se em mil pedaços.
A magia de Morga estava no ar. A garotinha estava pronta para mostrar a que vinha é naturalmente decidiu invocar a Inféria Vox, um Vento de Fogo que produzia a voz do pensamento. Fez luz com o Glibine e abriu a terceira portinhola do Obolho, de onde tirou um único fruto de Gnidium. Colocou-o debaixo da língua e procurou não engolir a saliva. Em seguida, abriu a segunda portinhola e pegou a vasilhinha contendo o pó de Cricosola Verbante. Então, guardou o Glibine no bolso e, com um gesto rápido, apertou a ponta do Gual, fazendo desaparecer o pequeno dirigível de cristal.
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Morga - A Maga do Vento
FantasyAno 500. Planeta Emiós. Morga tem 12 anos, cabelos curtos - negros como piche -, o rosto salteado com sardas roxas sobre a pele branca e olhos azuis. Ela vive em uma casa escondida na floresta com Eremia - a Bramante Branca dos poderosos achar, gove...