5. O Engano e a Verdade - Oitava Parte.

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Repentinamente, ouviram barulhos provenientes da entrada; as pessoas misteriosas haviam avançado demais.

Gardênio precipitou-se para a escada e gritou a plenos pulmões:
— VOCÊS? O QUE ESTÃO FAZENDO AQUI?

Morga apertou-se contra Sasima.

— Quem será? Quantos são?

— Não sei. Com certeza ouviram tudo — respondeu a Gestal, acariciando-lhe os cabelos.

— Loucos! São uns garotinhos desmiolados! — bradou o U'ndário, zangadíssimo, enquanto arrastava três Dakis escada acima.

— Yhari! — Exclamou Morga, estarrecida, quando o viu entrando na água-furtada.

Atrás do garoto vinha seu amigo Horp, com os olhos verdes arregalados. Morga reconheceu-o, embora o tivesse visto apenas de relance pela janela de seu quartinho, na casa de Eremia. Por causa daqueles olhos e da pele morena, era impossível não se lembrar dele.

Mas a Maga do Vento ficou pasma ao ver a garotinha que os acompanhava: tinha olhos cor-de-rosa e era completamente careca. Lembrou-se de Mesia, a Ancilante amiga de sua mãe, pois aquela Daki era idêntica a ela.

As circunstâncias eram bastante constrangedoras, e Morga não havia previsto toda essa confusão. Ademais, ela não se dera conta de que o Obolho permanecera bem visível.

— Você conhece Yhari? E também sabe quem são os outros dois? — Sasima virou-se para Morga dando sinais de extrema preocupação. Não era possível que a misteriosa filha de Serunte e Animea tivesse amigos.

Yhari e os outros dois permaneceram como que hipnotizados pela visão do Obolho que flutuava ao lado de Morga. O jovem passou as mãos pelos cabelos.

— Nós nos vimos ontem de noite. Mas Morga não sabe quem são os meus companheiros — acrescentou imediatamente depois, olhando com intensidade para a jovem maga.

Ele não queria revelar o segredo de que eles já se conheciam . E, depois daquilo que ele e os outros dois haviam escutado e visto, a coisa não estava para brincadeiras. Para Yhari, aquilo fora como um raio na escuridão, e em sua mente abriu-se um mundo novo. Em poucos instantes, ele havia entendido por que essa estranha garotinha o marcara tanto. Os seus olhos azuis, os seus silêncios, o mistério que a rondava como uma aura mágica agora faziam sentido. E o fato de ela possuir um Obolho deixava claro, de uma vez por todas, que Morga não era como todas as outras garotinhas de Emiós.

Ele sentia-se inexplicavelmente atraído por ela e ao mesmo tempo tinha medo daquilo que ainda não sabia. O passado de Morga era obscuro: fora criada pela Bramante Branca, tinha sentimentos e seus pensamentos constituíam um enigma.

Com orgulho misturado a temor, apresentou seus amigos:
— Ele é Horp; está com 13 anos e ganhou a última competição de pratinhos na zona viscosa de Ômbria. Moramos na Casa 15 e nos tornaremos U'ndários competentíssimos. Ela é Drima, tem 12 anos e, como vocês podem ver, é uma jovem Ancilante. Ela tem muita prática em enfiar-se nas cavas das Minas de Ambrioso. Drima mora na Casa 207 com uma garotinha antipática chamada Lumira, futura U'ndária.

Sasima rodeou os três Dakis, esquadrinhando-os da cabeça aos pés.

— Sim, eu me lembro de vocês. Quando vocês entraram para a Colônia Briosa, eu fazia parte do grupo de acolhida, juntamente com outras Gestais e a Pramaga Telkia. — Sasima postou-se diante de Yhari e, muito séria, indagou que motivo os levara até a casa de Morga.

— Eu queria apresentá-la a estes dois e, tendo em vista que há uma tempestade de neve, poderíamos ter um pouco de tempo para nos divertimos.

Morga - A Maga do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora