5. O Engano e a Verdade - Décima Segunda Parte.

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Quando desceram a escada e chegaram ao hall de entrada, Morga viu a Komba, parecida a um grande ovo branco e brilhoso.

— Gardênio, você vai me ensinar como é que se usa?

— É fácil: há um botão para dar partida no motor, um pedal para frear ou acelerar e, naturalmente, um volante. Você não vai ter problema. Mas agora vamos. Hoje de manhã, certamente, não vai poder usá-la por causa deste mau tempo — explicou o U'ndário.

Os primeiros a saírem da Casa 299 foram os três Dakis, seguidos pela Gestal, Gardênio e Morga. As rajadas de neve eram como chicotadas geladas, e a tempestade de gelo envolvia a paisagem inteira, de tal forma que não deixava sequer entrever a cidade próxima de Karash. As botas de Morga afundavam na neve, e o vento sideral penetrava-lhe nos pulmões, gelando suas veias. Ela olhou ao redor e por um momento sentiu-se perdida na tormenta, e a angústia de viver um destino tão pesado a entristeceu. Somente os olhos negros listrados de ouro de Yhari fizeram seu coração bater acelerado. Ela sorriu e ele retribuiu, enquanto os flocos de neve caíam ao redor deles como pedaços de nuvens.

Com dificuldade extrema, o pequeno grupo chegou diante da Casa 101. Do lado de fora havia uma fila enorme de garotinhos, e todos aguardavam para entrar na grande Aula Máxima, que se localizava no pavimento térreo.

Apressadamente, os Dakis entraram um após o outro, e Gardênio e Sasima avançaram decididos, fazendo sinal a Morga para ficar tranquila e, principalmente, para não fazer perguntas.

Assim que a jovem maga entrou, viu que na parede da direita havia um grande monitor azul no qual constavam os turnos de trabalho nas Minas de Ambrioso e nas Poças de Esmerilha. À sua frente havia uma ampla escada de vidro sustentada por enormes colunas de Anastásio Luxo, um cristal azul brilhosíssimo, que levava aos andares superiores. As paredes da sala de entrada eram laranja e sobre elas sobressaíam, além das lâmpadas encarnadas, uns quadros de diferentes dimensões que representavam as várias paisagens de Emiós.

À esquerda, sob um grande arco de madeira marchetada, aglomeravam-se grupos de garotinhos que procuravam um lugar para sentar-se na Aula Máxima, que já estava abarrotada. Todas as poltronas revestidas de Veludo Bagatela preto se achavam ocupadas.

Yhari estendeu a mão para Morga.

— Venha, vamos mais para a frente; ficaremos em pé, mas pelo menos tentaremos nos aproximar do palco.

Ela sentia falta de ar, jamais estivera no meio de tamanha confusão, entre centenas de garotinhos. Havia jovens Ancilantes muito parecidas com Drima e, por causa de sua timidez, elas eram vítimas dos empurrões que os Dakis davam para abrir passagem. O vozerio era insuportável, mas o silêncio se restabeleceu de repente, quando duas Sentinelas chegaram com suas longas vestimentas que tocavam o chão. Morga olhou para elas, estupefata: voavam alguns centímetros acima do solo.

Uma estava envolvida numa capa de um amarelo brilhante, enquanto a outra vestia uma túnica vermelho-púrpura. Ambas usavam capuzes com o sinal alquímico x e o seu rosto era evanescente: nenhum traço marcava o nariz ou a boca. Tinham rostos de fumaça acinzentada da qual despontavam olhos verdes muito luminosos. As mãos também eram de vapor, e elas desfilavam entre os Dakis, gesticulando como marionetes.

A criatura de fumaça com a túnica e o capuz vermelhos passou logo ao lado de Morga, que permaneceu imóvel embora sentisse um calafrio gelado subindo-lhe pela coluna. A Sentinela virou-se como se tivesse suspeitado de alguma coisa e pousou seus olhos verdes nos da garota. Depois ela seguiu adiante, imediatamente deixando atrás de si uma onda de vapor que atingiu o rosto de Morga, que espirrou, incomodada. Temendo que ela reagisse, Yhari apertou seu braço e, aproximando-se dela, sussurrou:
— Fique quieta. São as Sentinelas do Pramago Lefório, que é o Fhar responsável pelas Poças de Esmerilha. Espero que não tenham detectado a presença do seu Obolho invisível.

Morga - A Maga do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora