— Ora, você conhece os Ambalis! Mas você acha que sabe usar a magia como um Fhar? Você não passa de uma criança humana insignificante e estúpida. O seu sangue é fraco. Você não pode entender nada da grandeza da verdadeira alquimia! — respondeu, quase relinchando.
A magia e a alquimia constituem o meu poder. Você realmente quer me desafiar?
Morga sentia a força explodir em cada nervo seu.
Okrad recolocou a Kaplá, pronto para enfrentar a Imperfeita.
— Mostre-se! Você não pode me vencer! Você não passa de um vermezinho humano, e vai se arrastar pedindo piedade!
Morga condensou seu pensamento e outra lufada de fogo invadiu o Kimiyerante como uma explosão estelar. As chamas fracionaram-se, formando dizeres incandescentes:
Ambalis e Códigos Sacros. Nenhum segredo me atormenta. Sou a Imperfeita, e tenho coração humano e mente mágica. O desafio apenas começou. Da próxima vez, prepare-se para me enfrentar.Morga encerrou com essa última advertência, pois já haviam se passado 15 minutos, e o fruto de Gnidium estava esfriando. A duração da magia do Vento de Fogo tinha terminado.
As chamas apagaram-se, absorvidas pelo vento da Imperfeita. Um silêncio sepulcral envolveu o laboratório. O cheiro do Itérbio voltou a se espalhar, e a voz de Morga dissolveu-se num eco.
— Maldita seja! — imprecou Okrad, virando o rosto mascarado para o teto. Passou as mãos pelas paredes de pedra em busca de alguma fissura e, procurando em todos os cantos, chegou ao pequeno vão que levava à cavidade escura. Bem sabia que ao puxar o puxador da segunda gaveta do móvel da sala octogonal o alçapão se abriria. Portanto, se a Imperfeita havia conseguido penetrar em sua torre, ela devia ter caído. — O anel partido, então... é dela!
Como um diabo enfurecido, pegou um candelabro e fez luz; Morga encolheu-se ao lado da parede.
— Saia! Vou mostrar para você do que sou capaz! — O ódio de Okrad condensou-se naquelas palavras como veneno.
A claridade das velas iluminava pedras e entulhos, mas não se via nem a sombra do corpo da garotinha, cingido no macacão térmico preto. O Grão-Medônio captava a energia daquela voz de fogo e inspirava, procurando sentir cheiros e sensações que pudessem orientá-lo para a Imperfeita, mas seu olfato o traiu por causa do terrível fedor que emanava do Itérbio.
— Ela fugiu. Desapareceu como um fantasma! A Imperfeita é esperta e sabe usar a arte mágica melhor que nós, Fhar.
Inquieto, preocupado e ansioso, o Grão-Medônio olhava para o seu laboratório secreto, sem poder tolerar o fato de que tivesse sido descoberto logo pela Imperfeita. Assim, o anel partido e a presença da voz estavam relacionados.
A joia era da Imperfeita! Ele levou as mãos um pouco acima da jarra cheia de líquido vermelho, cheirou o odor pútrido do Itérbio e, com a boca espumando de raiva, jurou vingança.
Abatido, com o coração dilacerado pela vergonha de não ter capturado a garotinha da profecia, abandonou o Kimiyerante e voltou à Megorá ainda deserta.
Exausta, Morga permaneceu encolhida no escuro, sentindo a raiva de sempre castigar seu coração. Desafiar Okrad não fora fácil, mas o simples fato de ter conseguido perturbar o poderoso Fhar a deixara mais determinada do que nunca. Pensou em Yhari, perguntando-se onde tinha ido parar, junto com Drima e Horp. Ela não sabia que seus amigos estavam a salvo no laboratório de Telkia e temia por sua sorte. Sentiu o ímpeto de enviar uma mensagem para Eremia, mas a fraqueza a fez mergulhar num sono profundo. A magia do Vento de Fogo esgotara suas forças. Agora, o destino corria veloz, arrastando-a num vórtice de emoções e medos que lhe eram desconhecidos.
A reação e a vingança do Grão-Medônio não tardariam, e o seu olhar endiabrado vaticinava somente desgraças. Okrad desembocou na grade, certo de que a Imperfeita se manifestaria logo. Sua existência representava um perigo constante para todos os Fhar . Embriagado pelos seus pensamentos, viu que uma das suas criaturas se aproximava.
— Meu Senhor, somente uma Vádria e a Espilonga aterrissaram diante do grande portão de Áurea Nyos. Estamos aguardando a segunda Vádria.
Fim da Quarta Parte.
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Morga - A Maga do Vento
FantasyAno 500. Planeta Emiós. Morga tem 12 anos, cabelos curtos - negros como piche -, o rosto salteado com sardas roxas sobre a pele branca e olhos azuis. Ela vive em uma casa escondida na floresta com Eremia - a Bramante Branca dos poderosos achar, gove...