— E por que estava com Eremia? — A pergunta de Drima deixou todos sem resposta.
Morga baixou a cabeça e beijou a esfera de cobre.
— Isso eu não sei, mas é claro que ela abre algo muito importante. — A Maga do Vento observava a esfera de cobre e, apertando-a contra o peito, emendou: — Nunca mais! Nunca mais vou perder este pingente. Eremia confia em mim. Ela soube me ensinar a arte alquímica com muita paciência e guardou em seu coração o segredo do meu nascimento. Quando chegarmos à Áurea Nyos, vocês vão entender o quanto ela está se arriscando também.
Wapi abriu o bico e cuspiu fogo roxo sobre a água do rio, como para puni-lo pelo que fizera à jovem maga e a Yhari. Cilla bateu as asas e grasnou para demonstrar que as Piróssias também tinham coragem para dar e vender.
— Vamos, já passou muito tempo desde que entramos nos subterrâneos. Talvez já seja madrugada. — Yhari levantou-se, resmungando por causa do rasgão em seu macacão térmico.
Entorpecidos pelo cansaço, os quatro amigos e os dois Piróssios prosseguiram, seguindo as margens do rio que corriam ao lado das Conduturas Cobríficas. Consultando sempre o mapa, compreenderam que estavam próximos ao subsolo das montanhas rochosas. O medo de encontrar algum animal monstruoso que vivia nas vísceras de Emiós tornou-se palpável. A cada mínimo barulho, todos estavam prontos a agir e enfrentar o enésimo perigo.
Contudo, eles não eram os únicos a se arriscar tanto. A alguns quilômetros dali, na superfície, o intrépido Gardênio também se metera em apuros para convencer os outros U'ndários a não se dirigirem para o poço.
— Eu irei por aquele lado e depois vou esperar pela chegada dos nossos companheiros. Eles vão saber nos ajudar com as Mecânias Fluantes; o pessoal das Fábricas Côncavas é verdadeiramente esperto — comentou, fingindo segurança diante do grupo.
Alguns U'ndários foram contra, e argumentavam que as impressões deixadas pelos Piróssios se dirigiam justamente para o poço e que, portanto, seria conveniente revistar a área inteira, palmo a palmo. Mas, no fim, Gardênio levou a melhor. Eles se dirigiram para a zona de cogumelos de Ômbria deixando o barbudo ruivo cuidar do bosquezinho das Poças de Esmerilha.
Gardênio foi afundando o Corcundoso dentro dos montes de neve e chegou ao poço. Viu as rédeas amarradas e presas numa árvore. A estranha corda entrava na boca do poço, e ficava pendendo ali.
Ele debruçou-se e, olhando para baixo, compreendeu que os garotinhos haviam conseguido fugir sem problema, levando consigo os Piróssios. Recolheu as rédeas e enrolou-as, pensando em Morga e seus amigos. "Muito bem, corram, corram. Agora, ninguém mais vai poder detê-los."
Uma rajada de vento gelado deslocou sua cartola afundada na cabeça, e a lembrança de Morga voltou-lhe muito límpida.
— A filha de Serunte! É incrível que uma garotinha seja realmente capaz de mudar a vida em Emiós.
— O que você está resmungando, velho barbudo?
A voz aguda provinha de trás de Gardênio. Era um U'ndário das Fábricas Côncavas que ele não encontrava havia muito tempo. Atrás dele seguia o grupo que se aprontava para trabalhar nas Mecânias Fluantes.
— Bem-vindo, meu caro. Bem-vindos todos vocês. Agora, vamos começar logo o trabalho. A ordem do Pramago Lefório é de resolver o problema o mais depressa possível. — Gardênio continuou com as rédeas debaixo do braço e se afastou, dirigindo-se para as Poças de Esmerilha.
A equipe de U'ndários chegara no horário combinado e nenhum deles deixou de notar que Gardênio segurava um bolo de rédeas de Piróssios debaixo do braço. Ninguém fez perguntas, pois o céu ameaçava uma nova nevasca e não havia tempo a perder.
Armados de pesadas ferramentas e grandes alicates, os U'ndários das Fábricas Côncavas passaram a verificar as gigantescas máquinas travadas por sabe-se lá que falha. O cheiro acídulo do Masmi era mais enjoativo que nunca, e trabalhar por horas a fio nas Poças de Esmerilha era um serviço que não agradava a ninguém. Todos se recordavam das provações por que haviam passado quando Dakis, mas sabiam que se as Mecânias permanecessem paradas o frio intenso criaria graves prejuízos e problemas para todas as cidades de Emiós.
Fim da Décima Segunda Parte.
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Morga - A Maga do Vento
FantasyAno 500. Planeta Emiós. Morga tem 12 anos, cabelos curtos - negros como piche -, o rosto salteado com sardas roxas sobre a pele branca e olhos azuis. Ela vive em uma casa escondida na floresta com Eremia - a Bramante Branca dos poderosos achar, gove...