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O fato de eu ter deixado de seguir o Joaquín e ter apagado todas as nossas fotos do meu Instagram não passaria despercebido por aqueles que pareciam viver apenas para vigiar cada movimento virtual das pessoas. Era como se minha vida fosse uma novela ao vivo para eles, especialmente para as páginas de fofoca. Mas, sinceramente, eu não esperava que aquilo fosse gerar tanta repercussão.

Estava no meio de um momento de distração, tentando escolher um penteado para o festival, quando meu pai me mandou uma mensagem seca e direta: "Acho que você deveria saber que está nos tópicos do Twitter." Meu coração acelerou. Não que fosse a primeira vez que meu nome aparecia na internet de forma inesperada, mas o tom dele parecia alarmado, o que fez com que minha curiosidade fosse instantânea.

Como eu tinha desativado minha conta no Twitter meses atrás, precisei pegar o celular do Lucas, para espiar o que estava acontecendo. Assim que entrei no tópico, lá estava o meu nome em letras garrafais, acompanhando várias publicações. Algumas eram de fãs do Joaquín, outras de gente que parecia nutrir uma obsessão coletiva por nós dois. Meus dedos rolaram pela tela numa velocidade que eu nem sabia ser possível, enquanto lia, quase sem respirar, a enxurrada de tweets. Não demorou muito para que eu começasse a me questionar: por que essas pessoas ligavam tanto para isso? Desde quando deixar de seguir alguém nas redes sociais se tornou o fim do mundo?

Aparentemente, a minha decisão de romper com o passado mesmo que de forma silenciosa, havia se tornado uma explosão de interpretações e, claro, teorias conspiratórias. "Ela só deixou de seguir porque ele deve ter traído." "Deve ter sido briga feia." "Pensei que ele seria diferente dos outros jogadores".

Algumas vezes, arregalei os olhos com o que li. Eram declarações cheias de certeza sobre uma vida que eles não conheciam de fato, baseadas apenas em suposições. A audácia era quase cômica, mas, ao mesmo tempo, me incomodava profundamente. Como alguém pode acreditar que sabe tanto sobre você, quando tudo o que têm são fragmentos cuidadosamente editados de uma realidade que ninguém viveu de verdade?

Respirei fundo e fechei o aplicativo, tentando me concentrar na maquiagem que estava pela metade. Mas, lá no fundo, aquela sensação de estar sendo constantemente vigiada me fez questionar algo mais profundo: será que eu estava disposta a lidar com isso sempre que escolhesse priorizar minha paz ao invés de agradar a audiência?

— Essa galera é terrível. — Lucas reclamou, revirando os olhos. — Tem gente te chamando de corna, sendo que não sabe de absolutamente nada. As pessoas acham que só porque você namorou um jogador, o término tem que ser sobre traição. É tão clichê que chega a ser ridículo.

Suspirei, tentando ignorar o peso das palavras dele, e voltei minha atenção ao celular. Abri minha pasta no Pinterest, cheia de ideias de penteados que eu tinha salvo para ocasiões especiais. Queria me concentrar no festival, nas coisas boas, mas minha mente estava inquieta, e minha falta de foco só piorava.

— Olha esse aqui. — falei, virando a tela para o Lucas. — Acho que ficaria perfeito em mim.

Mas ele não respondeu. Seus olhos continuavam colados na tela do próprio celular, ignorando completamente meu esforço de mudar o assunto.

— Lucas, será que você pode prestar atenção em mim, por favor? — reclamei, balançando o celular na frente dele.

— Desculpa, tava vendo aqui... — ele finalmente me olhou, mas o tom na voz dele entregava algo sério. — Acho que você deveria ver isso.

— Eu já disse que não quero mais ver essas coisas. — balancei a cabeça, decidida. — Essas pessoas vivem de suposições e fofoca. Nada disso me acrescenta.

Mesmo assim, ele insistiu, esticando o celular em minha direção. Relutante, olhei para a tela, e o que vi fez meu estômago revirar. Era um tweet que afirmava, com todas as letras, que nosso término estava ligado a uma traição. E pior: a pessoa dizia que tinha provas.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora