Estava de pé olhando pela sacada os prédios e o movimento dos veículos pela cidade. Paris, podia ver a Torre ao longe. Por que um hospital tinha quartos com sacada? Mas a sacada era inteiramente fechada com vidros grossos principalmente naquela ala do hospital. A cabeça não doía mais, porém a lembrança do que tinha ocorrido era a coisa mais perturbadora que já tinha experimentado. Não tinha crenças muito fortes, era batizada protestante mas não era exatamente praticante se fosse admitir acreditar em algo seria espírita? E se fosse definir como se sentia agora diria que sua alma havia sido partida, e costurada outra vez, e presa no lugar, de onde não deveria ter sido mexida em primeiro momento, a força.
Ela estava na ala psiquiátrica do hospital e deveria voltar para o hotel ainda hoje. Mas, por conta de ter lembrança do ocorrido, a mantiveram ali, para registrar, saber e talvez tentar ajudar? Ajudar quem, se perguntava. Já tinha respondido diversos questionários várias vezes, dois psiquiatras já haviam feito testes, exames e pelo que entendeu ninguém chegou a conclusão nenhuma de nada.
Para tentar entender como estava e se sentia buscava organizar seus sentimentos e impressões de forma racional. Primeiro havia sentido uma enorme energia, como se pudesse ser qualquer um ou ter qualquer coisa que quisesse. Depois, as palavras sedutoras, tentadoras oferecendo ajuda, opções, poder, e quando ofertado o poder parecia de fato e não era possível vislumbrar seus limites dando a sensação de infinitude. Então a liberação de suas ambições mais profundas, como se fossem a única coisa mais certa a se fazer. E a perda completa de autonomia e controle sendo como estar amarrada e amordaçada ao banco de trás de um carro vendo tudo que se passava pelo vidro do pára-brisas, sem poder fazer nada. Os psiquiatras haviam insistido que Hawk Moth deveria ter acessado seu lado mais perverso fazendo com que externasse em ações sem controle, por estar sendo controlada. Mas ela sentia de outra forma.
O desejo de ser reconhecida estava lá, mas foi usado apenas para que Style Queen entrasse e se tomasse o comando. Enquanto Style Queen, Audrey Bourgeois deixou de existir não tinha nem a mesma aparência, nem as mesmas aspirações, ou a moral, ou sentimentos. Conhecia seus demônios e Style Queen não era um deles. Não porque não quisesse que fosse, mas porque não era realmente. Dentre seus demônios havia alguns que matariam Gabriel sem pestanejar, talvez existissem outros que "brincariam" com ele antes. Mas Adrien? Nem lembrava do nome dele direito... Mas na hora que Style o notou ela pode sentir o ódio e sede de sangue dela (ou... daquilo) e o argumento lógico para Hawk Moth era a ligação com Gabriel Agreste e ela sentiu a disputa interna entre Style e Hawk Moth pelo comando desde o momento que Style colocou as mãos no garoto. Era estranho, como se Style quisesse acessar Hawk Moth intimamente, pessoalmente de alguma forma através dele... Soube que outros akumas já haviam ido atrás do garoto e aproveitou seu Ipad para procurar as notícias relacionadas. Além de Style Queen o filho do Gabriel já havia sido alvo direto de outros dois akumas, Revanche e Gorizilla e ainda havia sido procurado por outros como Volpina, o próprio Gabriel akumatizado como Colecionador (embora nesse caso fosse discutível se o interesse seria do akuma ou do próprio Gabriel...) e o Homem -bolha (o garoto akumatizado era uma amigo de Adrien). Qual a importância desse garoto para que tantos akumas fossem atrás dele? Teria Gabriel percebido isso? Seria ele um alvo preferencial de Hawk Moth diretamente? A escolha de Style em não usar seu "poder especial" no garoto foi proposital ela queria atingi-lo não só machucar, queria humilhar, torturar se conseguisse. E em algum momento aquilo se tornou uma escalada de poder entre Style e Hawk Moth como se ambos disputassem o mesmo timão e no conflito o cetro se partiu esvaziando a essência de Style deixando para trás as sequelas da disputa em dor de cabeça, imagens e memórias que não eram dela e a sensação de estar no lugar errado dentro do seu próprio corpo.
Enfermeira: -Senhora Bourgeois? Os médicos já preencheram toda a documentação necessária e o senhor Bourgeois está aqui para levá-la para casa. -Era quinta feira no final de tarde, na terça tinha que ter definido diversos detalhes com Gabriel, para semana de moda. E agora já era tarde, provavelmente seria um evento perdido para ela, mais uma vez. Mas não é como se tivesse os dois dias novamente que conseguisse fazer algo que preste, não tinha uma boa estratégia no momento e pressentia que só estaria perdendo tempo em se esforçar mais uma vez...
[...]
No jantar, Audrey acompanhou André e Chlóe comeu pouco, evitou álcool tomando apenas água com gás. Sua presença causava um clima estranho na mesa de jantar. Ela e André ainda eram casados, era melhor um prefeito com uma mulher de negócios ausente do que um divorciado e para ela, não fazia muita diferença. Não se sabia se ao longo do tempo se algum dos dois ou ambos tinham tido amantes ou não. Em caso positivo, tinham sido discretos suficiente. Audrey não morava mais em Paris faziam dez anos, mas ela sempre voltava para lá periodicamente e ficava no Le Grand Paris e Chlóe sempre via o pai babar por ela nessas ocasiões. Quando se ressentia dupla e silenciosamente por não ter o carinho e atenção da mãe e perder os do pai. Assim que acabaram de jantar ela se levantou da mesa para voltar ao quarto. Ainda tinha que estudar mais um pouco para a prova do dia seguinte.
Audrey: -Chlóe, querida, eu ... por favor, gostaria de conversar um pouco com você, posso passar no seu quarto quando for subir? Ou pedir que te chamem para você vir ao meu quarto?
Chlóe: -Uh? Conversar? - Isso foi tão esquisito! Ela nunca pedia sempre mandava, e bem, nunca conversavam... Lembrou da cena ridícula de alguns anos antes quando ela estava fora de Paris, Jean Baptiste pediu a uma das camareiras que explicasse para ela sobre menstruação e absorventes... Sobre o que diabos ela queria conversar agora? - Tudo bem mãe, vou estar estudando no meu quarto, é a última semana de aulas tenhos provas.
Audrey: -Certo querida, não vou me demorar muito, te vejo logo.
[...]
Quando Audrey bateu a porta ela logo abriu para que entrasse.
Audrey: -Seu quarto é ... arrumado. Você ainda tem o Senhor Pelúcia!! - Céus! Claro que meu quarto é arrumado, as camareiras arrumam minha cama todas as manhãs e o que você quer com o MEU urso de pelúcia antigo?!
Chlóe: -Audrey, o que você gostaria de conversar?
Audrey: -Audrey?! Ooh Chlóe, meu botãozinho! Eu sinto muito! Você pode ... , por favor,... pode me chamar de mãe?...
Chlóe: - Mãe, o que temos para conversar? Sinceramente, não sei.
Audrey: -Eu ... queria pedir desculpas, por ter sido tão ausente durante tanto tempo! Por não ter estado lá nas horas que eu deveria...
Chlóe: -Eu ... Ok mas eu realmente tenho que estudar e não querendo dispensar sua companhia, mas simplesmente não sei o que você espera de mim desta vez.
Audrey: -Eu pensei nisso antes mesmo de voltar para Paris, mas daí me envolvi no trabalho antes de conversar com você, o que eu não deveria ter feito. Passou muito tempo e tudo que eu queria ter feito, conquistado não aconteceu da maneira que eu queria e esperava. E eu perdi toda sua infância! Eu ... deixei de te dar todo o carinho que eu deveria e agora eu mal conheço minha própria filha!! Eu não espero nada de você porque não tenho esse direito, mas mesmo assim gostaria de te pedir para considerar algo. Depois da semana de moda, eu tenho que retornar para Madrid, mas queria passar algum tempo com você ... Serão férias escolares pensei se você não gostaria de conhecer onde eu moro e talvez passar algum tempo comigo, mesmo não sendo melhores amigas ou como uma mãe deveria ser... Você estaria a um voo de duas horas de Paris, poderia retornar quando quisesse. Além disso, são férias então poderíamos ir para Valência ou Málaga em algum momento.
Chlóe: -Eu ... realmente ... Você realmente quer que eu vá?! Mãe... você nunca me convidou para conhecer sua casa! Nem sei o que responder! Eu ... não sei!
Audrey: -Queria te falar para você ter tempo para pensar. Não precisa decidir nada agora minha florzinha! Só não queria te pegar de surpresa, nem que você fosse por "obrigação". Eu sei que sempre fiz cobranças demais a você e entendo que errei muito com isso, mas filhos não vem com manual de instruções e não é tão fácil saber o que e quando pedir... Eu ... vou deixar você estudar agora, você tem prova amanhã! Boa noite, Chlóe!
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Endless Miraculous Love
FanfictionNa Festa da Primavera Marinette tenta se declarar, mas Chlóe percebe o que está acontecendo. Uma brincadeira de mau gosto desencadeia toda uma série de eventos que acabam por mudar a vida de Marinette e Adrien.