Pesar

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Adrien sentia-se arrasado, mas Marinette estava quieta demais, totalmente apática e não falava nada. Eles tinham que sair do centro médico e Adrien ainda esperava que não fossem vistos saindo dali, que não ajudaria em nada. Esperou no canto mais discreto da recepção e ligou para Gustav para que parasse bem na frente. Embarcaram rápido no carro.

Adrien: -Por favor, Gustav, para a casa...

Marinette: -Podemos jantar? Não quero ... jantar com os meus pais agora...

Adrien assentiu, e passou outro destino ao motorista e mandou uma mensagem avisando que jantaria com a Marinette, pensou por alguns instantes e mandou uma mensagem para o celular da mãe dela também, e desligou o celular. Quando voltasse para casa... iria ouvir alguma coisa com certeza, mas Marinette precisava dele e ele não podia simplesmente deixar ela sozinha, não com essa notícia, não sem saber o que ela estava passando. E ainda estava com muito medo ... que Hawk Moth encontrasse nela mais uma vítima. Sempre teve uma suspeita muito forte que o miraculous o protegia de ser automatizado, poderia deixar o anel com ela? Por um dia?

Adrien não conhecia muitas lanchonetes e acabou pedindo que Gustav os levasse para um restaurante onde havia ido algumas vezes com os pais enquanto a mãe ainda estava em casa. O lugar não era direcionado para adolescentes, mas nunca iram deixar de aceitar Adrien Agreste ali sem motivo. Pelo menos, as mesas eram separadas e permitiam não serem vistos facilmente por terceiros curiosos... Era o tipo de lugar que o pai gostava de frequentar. O maitre deixou com ele os cardápios e ele perguntou a Marinette se ela não queria escolher algo mas ela negou com a cabeça. Ele buscou pelo cardápio e escolheu quaisquer dois pratos e alguma bebida, também não estava com fome. A mesa era redonda e o acento tipo sofá e assim que fez os pedidos e o garçom se afastou ele a abraçou. Ela continuava quieta e ele sentiu que algo umedecia a camiseta. E ele não sabia o que falar então não disse nada. Alguns instantes depois ela quebrou o silêncio, ainda abraçada.

Marinette: -Acho ... que eu molhei toda sua camiseta... - E ele sabia o que era isso, porque fazia a mesma coisa nas lutas como Chat Noir... Ela tentava quebrar a tensão, desfazer a situação com palavras.

Adrien: -Molhou... Mari, por favor, conversa comigo! Eu ... por mais que eu lamente... Eu não tenho a menor ideia de como te ajudar...

Marinette: - Minha mãe ... me deu dois cobertores de bebê, que foram meus... Eles estão ... guardados no meu armário.

Ele ouvi mas os olhos começavam a arder também, mas ele não queria chorar, ela precisava dele e ele precisava diminuir a tristeza dela, de alguma forma.

Adrien: -Você vai usá-los... só não vai ser agora. Nós ainda vamos passar por muitas coisas juntos... Vai ver ... só não era para ser agora...

Marinette: -Como eu vou contar isso para os meus pais?! Meu pai ... me deu um par de sapatinhos ... e claro, ele não ficou feliz com a notícia no começo... mas ele já estava... babando com a ideia! A culpa é minha eu devo ter feito algo que não deveria! Eu...

Adrien: -My princess, você ouviu a médica! Acontece! E se fosse algo que pudesse ser mudado, ou prevenido não seria tão comum quando ela disse... Não vai doer menos, se você achar que a culpa é sua... Não faz isso! Só vai te machucar mais...

Marinette: -Eu ... não tenho a menor ideia de como eu vou contar isso... para eles! Eu não vou conseguir... Eu...

Adrien: -Você não precisa fazer nada ainda... Não tem que contar hoje ou amanhã! Pode levar o tempo que precisar... -Ele sabia que isso não era exatamente verdade para um tempo mais longo, mas agora isso não importava realmente.

Quando os pedidos chegaram, o garçom não os interrompeu, apenas deixou os pratos na mesa. E passou algum tempo até que eles se acalmassem, mas nenhum dos dois estava com fome. Mas Adrien insistiu que ela comesse e comeu um pouco também, mesmo sem muita vontade. Em algum momento ele repensou e desistiu da ideia do anel... se ela ficasse protegida e ele desprotegido a situação não seria melhor. Depois ele pediu que Gustav fosse para casa dela para deixá-la em casa.

Chegando a casa dela, Sabine abriu a porta eles se despediram com um selinho e ela subiu direto para o quarto dizendo que estava muito cansada. Depois que a porta do quarto dela fechou Sabine acabou perguntando para ele.

Sabine: Aconteceu alguma coisa? Ela não sai para jantar sem avisar...

Adrien: - Eu ... Ela... não vai querer falar sobre isso tão cedo... ela perdeu o bebê. - Aquela frase soou estranha para ele. Mas dizia o suficiente para que os pais dela não dessem mais cobertores ou sapatinhos... Era claro que eles sabiam que havia algo de errado pela forma que ela agiu hoje, eles eram muito mais atentos do que o pai dele. Mas sem saber o que, só iriam encher ela de perguntas e sabendo seriam mais carinhosos com ela. Naquele momento pareceu o certo a falar.

Na volta para casa o silêncio era frio, Gustav não falava nada, como de costume e Adrien se perguntava o quanto ele sabia e se tinha entendido o que se passava ou se ele simplesmente não se importava. A noite dele ainda não havia acabado e ele sabia disso.

A casa estava praticamente apagada e apenas a janela do escritório estava clara. Assim que entrou Adrien notou a porta do escritório entreaberta e ele sabia que aquilo não era só um convite. Não tinha a menor vontade de ver o pai agora, sabia que a forma que usou para avisá-lo e desligar o celular depois era motivo suficiente para que estivesse enfurecido. Mas tentar se esquivar só pioraria as coisas. Bateu na porta assim mesmo.

Gabriel: -Entre, Adrien. - Gabriel olhava para ele e parecia impaciente. - Então ... decidiram comemorar depois da consulta? Foi bom o jantar?

Comemorar? A garganta dele se fechou em um nó e ele não conseguia falar nada, os olhos queimavam e ele já via embaçado pelas lágrimas que se formavam. E repetia em pensamento que o pai não sabia que ela tinha perdido, não sabia... Gabriel virou-se de costas e continuou falando.

Gabriel: -Vocês devem achar lindo, romântico terem um filho com dezesseis! O que você faria no meu lugar se tivesse recebido essa mensagem no celular e depois notasse que o seu estava desligado?! Eu ... não sei mais o que fazer com você. - disse balançando a cabeça mas ainda de costas. - Terça, quarta e quinta você almoça e janta em casa. Se eu receber mais um recado dessa forma porque você decidiram celebrar juntos eu transfiro você de colégio! Agora ... pode sair, antes que eu mude de ideia!

Adrien: - Boa n-noite ... pai. - Ele não conseguiu evitar a falha da voz entre as palavras, a garganta ainda se recusava a responder como deveria. Mas Gabriel estava de costas e não viu as lágrimas que corriam pelo rosto. E Adrien saiu rápido dali subindo para o quarto e fechando a porta atrás de si.

[...]

No quarto, ele fez as coisas de forma automática, teria que ir para escola no dia seguinte poderia até procurar alguma desculpa para não ir, mas não queria e nem podia deixar ela sozinha assim. Tentou argumentar mentalmente por alguns instantes que era melhor assim, ela não perderia o ano, eles não tinham planejado aquilo e que aquela não era a hora. Mas aquilo não diminuía o que ele estava sentindo! A gravidez tinha sido uma notícia totalmente inesperada, mas aquela notícia tinha aberto a fresta de uma porta a atrás daquela porta havia um lugar pequeno, mas quente e iluminado onde estava a Marinette com uma adorável criança nos braços, com olhos verdes e cabelos azulados. Uma alternativa muitas vezes mais acolhedora do que o último ano naquela casa onde a única pessoa que se importava com ele não era capaz de olhar nos olhos nos momentos mais necessários... Mas agora aquela porta estava fechada e as únicas coisas que ele sentia eram pura solidão e vazio.

Ele abraçou a gata preta e branca, a única coisa abraçável daquele quarto e naquele momento era a coisa mais amigável que tinha... Ele chorava como já não se lembrava mais de ter chorado, com a cara enfiada na pelúcia quando sentiu um leve afagar nos cabelos e um ronronado na cabeça. Plagg havia ficado quieto desde a consulta até agora e demonstrava que mesmo assim estava ali. E acabou dormindo assim algum tempo depois.  

Endless Miraculous LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora