Por mais que em época de gravações Norman estivesse acostumado com os horários invertidos, trabalhar até amanhecer, dormir a tarde toda e todas as mudanças de fuso horário possíveis seguindo o calendário caótico de gravações (que já eram caoticamente organizados e mais caóticos ainda quando as gravações começavam - um dia chove demais, no outro alguém está gripado e não pôde vir - desorganizando as escalas de cenas de um dia para outro), não havia nada pior do que quando o fuso horário era alterado durante a folga.
Quando finalmente havia pegado no sono devia ser por volta de 3 da madrugada. Passou a maior parte da noite lendo (escondido) textos novos que havia percebido Ally escrevendo. Mingus e Ian jogavam videogame na tarde anterior e o tectectec do bater à máquina havia sido a trilha sonora da casa o dia todo. Antes de dormir, estivera fazendo mentalmente o "inventário do dia", tudo que Ally estivera fazendo, de quantas vezes ele trouxe mais almofadas para ajuda-la a achar uma posição confortável para continuar escrevendo. Os e-mails de trabalho, as correspondências de fãs, e mais uma vez: Ally estava cada vez maior. Quanto maior estava a barriga dela, menor estava a paciência.
Mas naquela manhã ela o acordou com uma doçura que agora era um episódio raro. Aquilo era bom, mesmo que não tivesse sido por acaso: era a manhã agendada para uma consulta no Obstetra que Ally estava ansiosa, faria também um primeiro ultrassom 3d. Ver o rostinho daquela menina que estava sugando toda a energia e a flexibilidade de Ally fez com que ela dormisse cedo e acordasse disposta. Acordou Norman com uma xícara de café, um pão "queimadinho" e as roupas dele já esticadas no encosto da cadeira.
Enquanto esperavam na sala, mais uma vez ele estava ali observando ao redor. As revistas femininas em um canto, pôsteres sobre a importância do auto-exame na parede, e mais na linha do horizonte direto, uma senhora com cara de poucos amigos estava de braços cruzados olhando para o chão. Ally havia apoiado um livro sobre a barriga, as pernas esticadas no chão.
- Shoo, eu juro por Deus, estale esses dedos mais uma vez e vou usá-los como colar igual um índio!
Ele se virou para ela. Olhou para os dedos que estava estralando entre as pernas. O olfato de Ally não havia mudado muito, mas os ouvidos estavam mais aguçados do que os de um morcego.
- Ally e Norman?
De novo estava ali a simpática Dra. Jennifer. A franja loira quase cobrindo os olhos e o jaleco como sempre imaculado. Com um cumprimento rápido, entraram na sala.
- Agora falta bem pouco, Ally...os exames estão ok, nenhum sinal de diabetes...vamos ver...a pressão está normal, até um pouco baixinha, na verdade. Como você tem se sentido?
- Fora os incômodos de sempre, um pouco de azia...está tudo indo bem, na verdade.
- Tem dormido bem?
- Bem e bastante. Acho que cuidar de uma criança enquanto tem outra aqui dentro tem suas vantagens...tenho um pouco de dificuldade para achar uma posição, porque eu costumo dormir de bruços, mas acabo dando um jeito...
- Ela apoia uma parte da barriga na minha, na verdade. Ué, é verdade, não me olha assim!
- E quanto a você, Norman, como estão indo as coisas?
- Um pouco ansioso na verdade. Fora o fato de ela estar um pouco quieta ultimamente, estou tentando dar espaço para ela. E é gostoso dormir com ela apoiando a barriga em mim, é como se eu estivesse com uma melancia quentinha no meu colo.
- Uma melancia quentinha...
Ally notou que a médica estava anotando aquilo e olhou para ele com a boca curvada para baixo.
- E como você quer fazer isso agora? Vamos fazer o ensaio primeiro ou depois do ultrassom?
- E-e-ensaio? Ninguém me falou nada sobre um ensaio. Como assim, ensaio?
- Do parto, Shoo...eu te disse que começaríamos assim que entrasse na 36a semana.
De repente ele parecia ficar mais branco ao mesmo tempo que as bochechas estavam mais vermelhas.
- Não é nada de mais, Norman. Eu vou explicando passo a passo, como se tivesse um roteiro: quando começam as contrações, a bolsa gestacional romper, até quando chegar na fase do expulsivo. Digamos que é uma...primeira leitura do script: para quando a cena estiver mesmo acontecendo você saber o que fazer, entende?
- Podemos fazer o ultrassom antes?
Ele olhava para Ally e para a médica, que olhavam para ele de volta.
- Por que vocês estão olhando para mim desse jeito? Vocês estão me assustando.
Ally riu enquanto se apoiava nos braços da cadeira para se levantar.
- Você vai se assustar muito ainda até o parto, Shoo. Mas se pudermos evitar um desmaio, melhor.
Enquanto Ally subia na balança e a médica a ajudava, Norman mais uma vez perambulava pela parede oposta no consultório observando os pôsteres.
- Já que estamos falando nisso, o pôster do meio te dará uma boa idéia do que vai acontecer, Sr. Reedus - disse a médica causando um susto nele. Em nenhum momento ela desviou a atenção das anotações que fazia do peso e altura de Ally. - Está com uma evolução boa.
- Nos últimos meses eu resolvi que era melhor não fumar mais nenhum cigarro ao invés de um por dia. Fiquei com medo.
- Você ganhou mais peso do que na última consulta, mesmo. Vamos ver como está esse ganho de peso na garotinha.
Ally desceu da balança e seguiu com a médica para a cadeira de rodas que desta vez já estava pronta. Norman se adiantou em ajuda-la a se sentar enquanto a médica segurava a cadeira e empurraram em direção à sala do ultrassom.
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Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.
ChickLitForam dois anos de esforços, tentado sustentar a relação e finalmente conquistar a confiança de Ally. Mas será que esses esforços bastavam? Com a relação evoluindo ao passo que a carreira de Norman avança, más decisões farão mal a todos. Mas será me...