CAMA DE PREGOS

23 3 0
                                    


O pano estampado com os olhos de Alice Cooper em preto finalmente caiu com os primeiros acordes de "Hello Hooray". Norman por um momento se distraiu do palco, observando Ally, seus olhos brilhavam e estava com o sorriso mais largo que já tinha visto. Ela percebeu, mas olhou de volta para ele apenas um segundo, não queria perder um único segundo de todo o show.

Ele sabia. Alice Cooper era algo como uma "banda de família" para Ally. Sua mãe tocava os discos favoritos desde quando era bem pequena. O que nunca deixava de impressionar Norman era o fato de ela nunca esquecer algum trecho de uma letra. Tinha cada vírgula, cada refrão de cor.

Alice Cooper girava um cetro preto durante o solo de guitarra em "Feed My Frankenstein", quando olhou para cima, no camarote onde estavam, fez uma saudação se curvando com o braço estendido segurando o cetro. Ally percebeu que era para Norman, Greg e Melissa. Ele jogou para o alto o cetro e se Norman se inclinasse mais um pouco poderia ter caído lá embaixo, mas conseguiu se reequilibrar, agradeceu a Alice pelo presente estendendo-o como um brinde.

Ao fim da música, as luzes diminuiram de novo até que não se pudesse enxergar nada no palco. Por um milésimo de segundo, Ally pensou que o show tinha terminado rápido demais. Alguns minutos depois, as luzes acendiam lentamente, vermelhas como antes. Era difícil distinguir, mas um som vinha dos teclados, um tanto fantasmagórico.

Havia visto apenas um show de Alice Cooper em São Paulo, mas havia sido há tanto tempo que se esquecera; era parte do show aqueles interlúdios. Abraçou Norman que estava ao seu lado. Greg estava em pé ao seu lado também e não custou-lhe nada abraçá-lo para agradecer por tê-los trazido.

Um pouco mais baixo da distorção de guitarra, a voz de Alice sussurrava:

"I love the way you hurt me.

My tears your wine.

Your thoughts would draw my plan for a cruise in vain.

Like talons in the pale moon shine above us.

My gained pleasure in pain is slowly vanished when

You sink deeper and deeper into a void you are venomous love"

(Eu amo o jeito que você me machuca

Minhas lágrimas, seu vinho

Seus pensamentos desenhariam meu plano para um cruzeiro em vão

Como garras no pálido brilho da lua sobre nós

Meu prazer ganho na dor vai lentamente desvanecendo quando

Você afunda mais e mais no vazio, você é amor venenoso)

Esqueceu-se completamente de onde estava, com quem ou quando. Norman ficou em seu outro lado, pois haviam trazido seu uísque e a cerveja de Ally. Quando começou o riff da canção, desistiu momentaneamente de se aproximar de Ally, que não conseguia se conter e dava pulinhos acompanhando a música.

"Yeah we're gonna fight

We do it every night

Baby, when you scratch

You know I'm gonna bite"

( A gente vai brigar

Como brigamos toda noite

Baby, se você me arranhar,

Você sabe que eu vou morder)

Quando finalmente ela parou de pular, Norman se aproximou, rindo da "macaquice" dela enquanto dava a garrafa de cerveja (ela já havia abandonado o uso de copo faz tempo) e abraçando-a cantarolaram juntos

"You can make me die

I can make you cry

Opposites atract

That's the reason why"

(Você consegue me matar

Eu consigo te fazer chorar

Os opostos se atraem

E esse é o porquê"

Ally se virou de costas para o palco, com os braços ao redor do pescoço dele. Ambos haviam notado já alguma "familiaridade" com aquela letra em específico.

"No one else could make you feel like I do, I do, I do

No one ever gets as deep inside you, as I do baby

Agora Norman que estava cantarolando, o polegar apontado para si mesmo, um olhar divertido e bêbado em Ally. Ela sacou na hora o que ele estava "identificando" e balançou a cabeça concordando.

Our love is a bed of nails

Love hurts good on a bed of nails

I'll lay you down and when all else fails

I'll drive you like a hammer on a bed of nails"

(Ninguém nunca fez você sentir como eu faço, eu faço

Ninguém nunca chegou tão fundo em você, baby

Nosso amor é como uma cama de pregos

O amor dói tão gostoso nessa cama de pregos

Vou deitar você quando nada mais funcionar

Vou para cima de você como um martelo em uma cama de pregos)

Ouviram o resto da música mas não viram quase mais nada daquela parte do show. Estavam ocupados demais se beijando como se precisassem de alguma reconciliação em silêncio. 

 

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.Onde histórias criam vida. Descubra agora