Feito Louca

26 1 2
                                    


Enquanto ele tentava descobrir algum jeito de conversar com Ally sem que acabasse daquele jeito - afinal de contas, tudo tinha que ser do jeito dela ou ele estava forçando a barra como ela havia dito?- aproveitava aquele único momento para abrir uma das janelas da sala, sentar-se no peitoril e acender um cigarro. Pela janela podia ver a luz amarelada da pequena luminária ao lado da cama. Talvez Izzy tivesse acordado, ou Ally não conseguisse dormir. Bastou alguns minutos e a luz apagou. Levantou-se e seguiu em direção às escadas, virando como de costume para a esquerda (não sem antes dar uma espiada no quarto de Ian, como também era de costume), mas parou na escuridão do corredor e deu meia-volta.

Talvez fosse melhor não. Poderiam começar outra discussão, e se com isso a bebê acordasse, não ficaria nada melhor.

Haviam opções melhores, o quarto de Mingus, que parecia resistir a visita-los ultimamente, ou o quarto de hóspedes no final do corredor. Seria esse último. Pegou do armário embutido duas cobertas (era estranhamente frio aquele quarto, afinal ficava no lado oposto da casa e o Sol chegava ali só no final da tarde, já bem enfraquecido), tirou a camisa e a calça, deitou-se e se cobriu esperando que o sono chegasse logo, e quem sabe, depois de uma boa noite de sono tudo fosse resolvido com mais facilidade.

Não ouviu a porta do quarto se abrir, nem os passos no corredor, mas as duas batidas fracas na porta fechada o acordaram de um estado semi adormecido e o ruído áspero de alguma coisa passando por baixo da porta despertou a sua atenção por inteiro. Era um pedaço de papelão, identificou rapidamente pelo pedaço liso, rasgado da caixa onde estava guardado o aparelho de doppler que havia comprado quando Ally estava grávida. Virou-o para a parte áspera onde estava escrito:

"EU AINDA TE AMO. FEITO LOUCA."

Apertou os olhos, forçando a ler mais de perto, talvez tivesse mais alguma coisa escrita em letras menores. Ela adorava deixar algo entre as linhas ou ser subjetiva sempre que tivesse uma chance. Quando foi que ela havia permitido que ele desse a última palavra em qualquer discussão? Era pior que o melhor advogado do mundo.

Mas não havia nada. Apenas a mensagem, clara, simples e direta: "Ainda te amo, feito louca".

Sentou-se de volta na beirada da cama, respirou fundo e inclinou a cabeça para trás. Estava exausto daquilo e precisava juntar coragem para resolver tudo naquela mesma noite. Enquanto brigavam e discutiam todos os dias, esses mesmos dias estavam passando sem se importar se precisavam de mais ou de menos tempo. Não queria de forma alguma pegar um avião para LA se perguntando se ela ainda o odiava ou sem saber o que encontraria ao votar para casa. Tinha isso em mente quando abriu a porta para chama-la no quarto e resolverem aquilo. Já era óbvio que não precisaria acordá-la.

Não foi necessário. Ela o esperava no outro lado da porta, as costas apoiadas na parede e os braços cruzados sobre o peito.

- Já estava começando a achar que estava dormindo. Ia deitar e deixar para amanhã.

Com uma expressão de descrença no rosto e o queixo um pouco para baixo, ficou ali, segurando a maçaneta da porta, sem saber o que dizer. Coçou a nuca um pouco, enquanto tentaa achar algo que pudesse dizer. Estava cansado de pisar em ovos.

- Eu...bom, não sei...você me deixou confuso agora.

- Eu sei. Estava pensando nisso...quer dizer, quando foi que a gente começou a se perder assim?

- Bem...talvez seja melhor você entrar, para não acordar ninguém. É uma boa forma de começarmos.

Com um sorriso desanimado que estava mais nos lábios do que nos olhos, ela abaixou a cabeça um pouco antes de passar por ele para entrar no quarto. Sentou-se na beirada da cama com os dedos cruzados entre os joelhos. Sentiu que estava corando como uma menininha de 10 anos, odiava se sentir assim, mas não havia escolha.

Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.Onde histórias criam vida. Descubra agora