Condenado

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- Amanhã a essa hora você vai estar tão longe...

- Pois é...Culpa sua, quem mandou ficar brigando comigo? Poderíamos ter curtido assim todos os dias. - Ele respondeu empurrando-a com o ombro.

- Você que começou... - ela apontava o dedo para ele e ele apontou de volta.

- Não, não foi você. Mas deixando esse assunto de lado um pouco...não é tanto tempo assim, uma semana, duas no máximo já vou estar aqui de novo.

- Mas aí começam as gravações e sabe-se lá quando você chegará em casa...

- Mas pelo menos vou estar a meia hora de distância, de moto ou carro, não um avião.

- Mesmo assim...duas semanas...Bom, já que você vai demorar tanto, melhor a gente aproveitar enquanto podemos.

- Onde vamos deixar as crianças?

Ally deu um tapa no ombro dele, fazendo-o se encolher com uma risada maldosa.

- Não é disso que eu estou falando! - retrucou. - Se bem que...Você falou em irmos visitar a Iza e o Jeff...

- Você disse que era melhor não...

- Eu disse para ver se eles estão a fim de receber visitas. É diferente...Mas caso eles estejam dispostos...

- Eles amam as crianças...

- Exatamente.

- E poderíamos...estar cansados demais...talvez a gente tire um cochilo depois do almoço.

- Seria uma boa...Quer dizer, para nos despedirmos.

- Nos despedirmos? Ally, eu vou para LA, NY e depois volto. Duas semanas...Credo...

- Só pensei que seria legal a gente comer algo que você quisesse e depois passarmos um tempo sozinhos...depois ficamos um pouco com as crianças e depois...bem...

- Falando assim parece que eu estou com a data marcada para a cadeira elétrica, Jesus...

- Pára!

- Olha só: tem tudo aí, a última refeição, uma visita íntima, e então os derradeiros últimos momentos com a família.

- E depois eu que sou dramática.

- Ué, eu só dei o nome aos bois.

Ally fez um gesto de desprezo enquanto continuavam sentados no quintal vendo o Ian, que mostrava seus brinquedos para Izzy explicando como brincaria com ela quando ela crescesse.

- Aquela sua conversa com ele naquela noite deu mais certo do que esperávamos.

- Pois é. Ele é especial, o Ian...Não imaginava que ele estava sofrendo tanto, mas ele entendeu mais do que eu pensava, aquela nossa conversa.

- O tanto que ele detestava a irmã, agora cai de amores.

- Pelo menos por enquanto...teremos problemas daqui a alguns anos, quando ela começar a namorar.

- Ou quando ele começar a namorar.

Norman concordou balançando a cabeça. Acendeu um cigarro e foi para um ponto um pouco mais distante para que a fumaça não chegasse nas crianças. Ally o seguiu e pegou um cigarro também.

- Voltou a fumar? Quando foi isso?

- Aquele dia que brigamos e você foi embora no meio da noite.

- Bem que eu notei que o cinzeiro estava mais cheio do que deixei.

- Mas é só de vez em quando. Quando fica inevitável, mesmo.

- E está inevitável agora?

- Totalmente. - ela disse enquanto soprava a fumaça do cigarro recém-aceso. - É um vício maldito, mas...puta merda, como funciona...

Norman balançou a cabeça desaprovando, mas sabia que não havia muito o que pudesse fazer. Tinha lá sua parcela de culpa, fumando escondido dentro de casa quando todos estavam dormindo.

Enquanto observavam as crianças, o celular dele tocou. Sentou-se no degrau da porta e Ally continuava observando os filhos. Izzy, sem entender muita coisa semideitada na cadeira de descanso, tinha uma bola azul em seu colo e Ian mostrava para ela como segurá-la com uma bola amarela nas mãos.

- Ele está cada vez maior. - murmurou para si mesma, lembrando-se de quando ele era um bebê do tamanho de Izzy, surpresa com as diferenças entre eles naquela fase.

- Shoo...preciso falar com você. - ele disse pegando-a pelo braço.

- O que foi?

- Acho que terei que fazer uma pequena mudança nos planos e pegar um vôo hoje à noite.

- Mas...você não ia amanhã?

- Recebi uma proposta para um filme novo. Vai ser rodado aqui mesmo, mas...

- Mas...?

- Primeiro preciso assinar o contrato. Sabe como são essas produtoras mais antigas, algumas coisas eles insistem em fazer à moda antiga.

- Mas vale a pena a proposta?

- Parece que sim. Mas só vou saber com mais detalhes amanhã, lá mesmo.

- Bom, se a proposta parece ser boa, melhor não perder tempo.

- Não precisa falar assim..."perder tempo"?

- Você entendeu o que eu quis dizer, Shoo. Só não deixe passar uma oportunidade. Está tudo bem.

- Mesmo? Tem certeza?

Ela balançou a cabeça assertivamente. Queria dizer com um sorriso que estava mesmo tudo bem, e apoiá-lo como sempre fez, mas por algum motivo naquela vez específica, não conseguia.

Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.Onde histórias criam vida. Descubra agora