- Tudo bem, Norman... - respirou fundo, parado no meio da cozinha, os dedos entrelaçados puxando o cabelo para trás. - Você já ensaiou, já sabe tudo que vai acontecer, não precisa surtar, aliás, não é hora de surtar. Respira, isso...era isso, respirar...O que eu tô falando? É pra lembrar ela de respirar, não eu! Isso não vai dar certo, eu não tenho a menor ideia do que eu tô fazen...
Olhou ao redor, pegou uma panela e encheu de água da torneira. "Toalhas limpas, sempre falam que precisa de água morna e toalhas limpas, é isso...ah, sim, preciso ligar para a Dra. Jenny. Primeiro vou...o que diabos eu ia fazer? Caralho!" Olhou para o celular. Eram três da tarde. Guardou o celular de volta no bolso, ligou o fogão e pegou na gaveta mais panos de prato limpos. As toalhas estavam na área de serviço, mas depois ele as pegaria, quando fosse preciso. Sentia gotas de suor frio se agrupando na testa enquanto andava de um lado para o outro. Do nada, sentiu uma pontada forte no meio da barriga, como se tivesse engolido uma agulha que estava agora espetando com força de dentro para fora querendo sair. Era como se toda a casa estivesse girando ao seu redor quando o celular tocou. Tinha alguma coisa sobre o celular. Ainda estava tocando, mais do que três toques. Era sinal de emergência que haviam combinado? "Pelo amor de Deus, Norman, atende essa merda! O que deu em você?". Queria esbofetear o próprio rosto, mas estava difícil demais organizar os pensamentos e o que fazer em seguida, a ponto de nem isso conseguir comandar a si mesmo. Puxou o celular do bolso.
- Norman? Você me ligou?
- Doutora?
- Eu mesma.
- Acho que é melhor você correr aqui.
- Ela está em trabalho de parto?
- Ela disse que está com as cólicas de quando o bebê nasce. Acho que é isso, não?
- Posso falar com ela?
- Ela pediu para deixá-la descansar para "o que vem depois"... o que vem depois, Doutora?
- Depois do trabalho de parto? O bebê, lógico...
- Você não pode apenas vir para cá e resolver isso de uma vez?
- Norman, se ela disse que está precisando descansar...Bom...posso falar com ela, saber melhor o que está acontecendo...
- Oh, não, eu não estava falando dela, é que eu acho que não vou aguentar.
Ela não se incomodou em disfarçar a risada.
- Por quê? O que você está sentindo?
- Além de tudo estar girando, eu estar suando frio e parece que engoli um punhado de alfinetes?
- Você está em pânico, Norman, é isso?
- Parece mais que eu vou cair gelado e duro no chão a qualquer momento!
- Não precisa entrar em pânico, Norman. Tudo vai ficar bem, lembre-se, humanos nascem há muito tempo já. Vai ficar tudo bem...mas se for para salvar a sua vida...Me deixe falar com ela primeiro, aí se for necessário, eu já vou, tudo bem?
- Tem certeza que é seguro? Eu nunca fiz isso antes, e para falar bem a verdade, Doutora...eu não sei se eu consigo...
- Norman? - o tom era parecido com uma professora que não acredita que o cachorro comeu a lição de casa.
- Sim, doutora...
- Você consegue sim. Se a sua mulher consegue, você vai ter que conseguir também.
- Sim, senhora.
- Agora, deixe eu falar com ela. Se precisar falo com você em seguida.
Levando o celular em uma mão e uma pilha de panos de prato na outra, Norman disparou pela escada. Para sua surpresa e indignação, todo aquele cuidado para abrir a porta e não causar nenhum tipo de incômodo na esposa adormecida, Ally não só estava bem desperta, tão desperta quanto Ian, que estava sentado ao seu lado, a cabeça apoiada em seu ombro enquanto assistiam "Corra Que a Polícia Vem Aí 33 ⅓ - O Insulto Final" no notebook sobre a cama.
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Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.
ChickLitForam dois anos de esforços, tentado sustentar a relação e finalmente conquistar a confiança de Ally. Mas será que esses esforços bastavam? Com a relação evoluindo ao passo que a carreira de Norman avança, más decisões farão mal a todos. Mas será me...