ESTRANHO

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Mesmo que o lado direito do ouvido escutasse que ele havia exagerado e que não fazia sentido aquela briga por ciúmes, o lado esquerdo insistia mais alto, mesmo que tentasse no final de tudo, não escutar nenhum dos dois. Era desgastante o esforço dobrado para ler o script e gravar as cenas tentando silenciar o burburinho em sua mente.

Mas Ally...ele sempre soube lidar com alguns de seus defeitos, mas sem dúvida o mais grave era o orgulho. A teimosia perdia por pouco. Mas o orgulho podia ser insuportável. Sempre que tinha algum intervalo entre as gravações, ou precisavam fazer algum ajuste nas luzes ou nas marcações no cenário, aproveitava para deixar uma mensagem ou ligar para ela. Nenhuma vez ela atendeu, nenhuma vez respondeu.

Era de fato um desafio gravar aquele filme. Não estava acostumado a ser o mocinho, muito menos um par romântico, pelo menos não naquela abordagem. Perguntou-se por um momento enquanto olhava pela vigésima vez o celular sem nenhuma resposta de Ally, se talvez quando voltasse para casa ela estaria disposta a ouvi-lo contar sobre as aventuras do novo set.

Talvez não. Afinal, ciúmes por ciúmes, Jeffrey havia apontado um erro grave: ele não havia reagido à altura dela quando soube que Diane o beijou.

— Problemas em casa?

Falando no diabo...

— Bem...queria dizer que não. Nada que você não conheça também.

— Mudaram algumas coisas no papel do Joshua. A Fabiénne vai entrar em maiores detalhes depois, mas algumas das mudanças estão aqui. Anotei para você também não se perder pelo menos na próxima cena.

Ele franziu o cenho para ler. Sentia que ela estava perto demais, mas não fazia sentido criar mais estranhamento. Afinal, era sua colega naquele trabalho. Se ela não era profissional, ele seria.

— Bem, nada que seja impossível. — ele comentou enquanto lia a cena mais erotica que gravariam naquele dia. — Seria esse o motivo da mudança no papel do seu marido?

Ela apenas levantou os ombros com uma expressão conformada. Ele ficou em silêncio, se limitando a responder espelhando o gesto, enrolou o script como um canudo nas mãos e se afastou para o trailer, fingindo bater continência para agradecer a ela.

Quando entrou no trailer, jogou o celular em cima da mesa. A palavra "desisto" ecoava em forma de pensamento.

Não demorou mais do que quinze minutos até que ouvisse uma batida na porta. Diane esperava no lado de fora, ainda estava com a maquiagem da cena anterior, mas vestia uma calça jeans e uma camiseta simples. Por um momento, pensou que era Ally, até ver o rosto de Diane. Podia até mesmo parecer que uma havia emprestado as roupas para a outra.

— Pelo visto as coisas vão demorar mais que o previsto. Pensei em ir comer alguma coisa enquanto isso, se quiser...

— ...E o seu marido? — Norman tentava sempre reforçar essa distância, mas por algum motivo, parecia que algum vento soprava como se fosse uma simples nuvem de fumaça.

— Ele não parece querer a minha companhia por enquanto. Para ser totalmente honesta, muito menos a sua... — ela respondeu com um riso que Norman não pôde evitar corresponder pelo absurdo da situação.

Bem, não estava cometendo nenhum crime, e além do mais, Diane havia percebido seu erro quase imediatamente naquela noite. Não houve mais nenhuma tentativa e na verdade, todo o clima no set era bem agradável. Na maioria das vezes, Norman se sentia um covarde fugindo dela quando ela se aproximava quando não estavam atuando. Boa parte ele considerava depois ser impressão dele, ou um excesso de cautela. Não havia nada que indicasse claramente algo além de parceria de trabalho.

Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.Onde histórias criam vida. Descubra agora