Penúltimo Dia

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Naquela época do ano, não só o luar invadia a janela no último quarto, como o Sol também. Ally acordou com raios de sol quentes que piscavam em seus olhos à medida que as folhas das aveleiras se balançavam ao sabor do vento. Quando começou a desistir do sono e aceitar que era melhor se levantar, uma agulhada atravessou seu ombro e nuca.

"Quando foi que eu comecei a ter dor em toda parte?" pensou, e depois, divertida concluiu "Quando ele acordar vou avisar pra ele que ele está passando velhice para mim.". Tentou se levantar o mais devagar possível para não acordá-lo e não sofrer com mais algum outro mau jeito em algum músculo. Conseguiu finalmente ficar sentada na beira da cama, segurou a nuca enquanto movia a cabeça de um lado para o outro e deu um estalo tão forte que resmungou de dor.

- Bom dia... - ele resmungou com uma voz preguiçosa. - Cacete... - reclamou em seguida cobrindo os olhos com o antebraço.

- Quer que eu feche a janela para você dormir um pouco mais?

- Não, tudo bem. Mais alguém acordou?

- Até agora só eu e você.

Ele estendeu o braço, envolveu a cintura de Ally com o braço, puxando-a para si.

- Que tal acordarmos juntos então? - sussurrou em seu ouvido e beijou suavemente seu rosto. Ally sorriu deixando que ele continuasse beijando seu pescoço. Virou-se para ele, seus lábios próximos aos dele.

- Pensei que a noite passada nós sacrificamos uma noite de sono para isso... - sussurrou para a boca dele.

- Podemos sacrificar um pedacinho da manhã também. Você acordou, eu acordei...quem sabe temos alguns minutos...

- Vamos precisar de bem mais que alguns minutos...

- Talvez não.

Segurando o rosto dela, beijou-a mais uma vez, sua língua deslizando pela maciez de seus lábios, deixando-a morder e soltar seu lábio inferior. Quando faziam amor, era como se ele estivesse totalmente nas mãos dela e vice-versa. Sentiu uma ereção começando a crescer quando um choro alto começou a ecoar pelo corredor. Ally abriu os olhos já voltados para a porta.

- Talvez não? Acho que talvez não seja hoje o nosso dia de sorte...

- Só mais uns minutinhos...

- Norman, não...

- Só mais um beijo.

Ally beijou-o mais um pouco, soltando-se de seus braços em seguida. Atravessou a porta já de camiseta e tropeçando enquanto vestia a calcinha.

Ele ficou ali, apoiado no cotovelo, vendo-a partir. quando sumiu de sua vista, se jogou de costas, os braços para cima e um suspiro longo de um desejo que ficaria reprimido naquela manhã. "Que bela forma de acordar...um belo banho de água fria!" sussurrou para si mesmo, mais se divertindo com a situação insólita do que desapontado. Com algum esforço, levantou-se e viu a camisinha usada ao lado da cama. "Melhor colocar no lixo. Alguém pode achar que troquei de pele ou coisa do tipo" riu de si mesmo mais uma vez. Vestiu a calça de moletom preta que estava na cadeira ao lado da porta e seguiu pelo corredor. Ao mesmo tempo, um Ian sonolento abria a porta do quarto e ia em direção ao corredor.

- Bom dia, Ian, levantou cedo.

- Eu já vou escovar os dentes...- ia falar mais alguma coisa, mas um bocejo forte interrompeu.

- Não tem pressa, está muito cedo...volte para a cama mais um pouco.

O menino concordou sem sequer conseguir olhar para cima e olhar o rosto de Norman. Assim que ele entrou de volta, Norman entrou no banheiro e enrolou a camisinha usada que estava o tempo todo escondendo atrás de si em um pedaço de papel higiênico. Como se ouvisse uma espécie de fantasma, escutava a voz de Ally do outro lado da porta do quarto.

"Hold on, little girl

Show me what he's done to you

Stand up, little girl

A broken heart can't be that bad

When it's through, it's through

Fate will twist the both of you

So, come on, baby, come on over

Let me be the one to show you

I'm the one who wants to be with you

Deep inside I hope you feel it too"

Com dois passos em direção à porta, assistiu pela fresta enquanto Ally cantava para a bebê enquanto a amamentava, balançando devagar para frente e para trás. Pensou por um momento que não podia ter uma vida melhor que aquela. Em dúvida se entrava no quarto para participar daquele momento ou descer e preparar o café (sem café para ela, infelizmente por um lado, mas por outro, ainda não conseguia acertar o café), resolveu que o café podia esperar.

- Bela escolha musical... - disse depois de entrar, com a voz mais baixa que podia. Sentia como se tivessem pedrinhas na garganta. Ally levantou a cabeça com um sorriso leve.

- Quase um conselho amoroso para o futuro. Mas ninguém vai partir o coração da minha menininha, não é? - estava falando agora com a bebê.

Assim que ela parecia satisfeita, Norman se ofereceu para fazê-la arrotar. Ally abotoou a blusa que havia trocado para amamenta-la.

- Qual o plano para hoje, Shoo?

- Plano? Não...não tenho nada em mente, pelo menos por enquanto. Por que?

- Não sei... - respondeu com um bico invertido. - Talvez uma visita, o Jeffrey já deve ter voltado, o que acha?

- Melhor ligar primeiro, ele ficou fora por um bom tempo, não queremos atrapalhar o casal, certo?

- Vou ligar, mas primeiro preciso ouvir no mínimo dois arrotos...como vai ser, Izzy?

Parecendo uma resposta direta às súplicas do pai, a bebê arrotou bem alto, seguido de um pum mais alto ainda, que soou como um pano de chão sendo rasgado, fazendo Ally e Norman gargalharem.

- Cuidado com o que deseja - respondeu Ally. - Você provocou, agora a próxima fralda é toda sua. Divirta-se!

Deu um beijo rápido enquanto passava (na verdade, escapava) em direção à escada.

- É isso que eu recebo em troca, Priscilla? - ele gritou em direção à porta.

- Divirta-se, Elvis! Priscilla has left the building! - respondeu sem sequer olhar para trás.

Em seus braços, Izzy o observava como se ele fosse uma nova espécie de inseto, os olhos azuis dela fixos e curiosos nos olhos azuis dele.

- Não se preocupe, garota. Eu já recuperei boa parte da experiência. - disse enquanto olhava ao redor tentando organizar uma sequência lógica do que fazer. - Bem, pelo menos é o que eu acho. Onde fica o trocador, você sabe?

A bebê sorriu, exibindo as gengivinhas e espalhando à sua frente um bafinho de leite.

- Não, tudo bem. Vamos procurar então.

Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.Onde histórias criam vida. Descubra agora