Era uma coisa estranha estar de volta a NY, não por parecer novo, ou por ser o mesmo lugar, mas porque ficava uma sensação estranha de estar voltando ao ponto de partida. Era estranho como nunca se sentiu em nenhuma grande mudança até o dia que Norman concordou com a mudança para Senoia. Era uma espécie estranha de saudades de uma longa caminhada noturna nas margens do rio Manhattan tentando achar um jeito de pedir para ele aquela mudança.
Até aquela noite, não tinha a menor ideia do quanto ele estava disposto por ela. Mas não era o momento de passar por mais nostalgias; tivera mais que o suficiente em São Paulo, só faltou voltar para a casinha em Osasco que talvez nem existisse mais e agradecia em seu íntimo por ter saído de lá. Não gostava da cidade, nem do bairro, apenas da casa. Por isso passou tanto tempo fechada lá sem reclamar.
Mas aquele apartamento e a vista da varanda para a cidade lá embaixo e ao redor ainda eram agradáveis, apesar de ainda soprarem os últimos ventos do inverno que começava a se despedir.
Não era ruim, mas não se imaginava voltando a morar lá, ao contrário de Norman que parecia um bichinho voltando para o habitat depois de um período em cativeiro. Ela mal precisava se movimentar se dependesse dele: mal entrou e já colocara as malas nos quartos, ligou para o filho e tirou toda a roupa de cama para acomodar os dois pequenos.
— Estava pensando em Outubro. — Comentou enquanto saía e acendia um cigarro. — O que acha?
— Do que estamos falando? — Ela respondeu rindo um pouco. Sabia muito bem do que ele estava falando.
— Ora essa, do casamento. Você disse que estava decidida, ou já mudou isso?
— Eu não esqueci, mas aparentemente você se esqueceu de algo.
Ele cruzou os braços na varanda, soprando a fumaça olhando para ela com um olhar perdido.
— Você disse que iria escolher o momento de me pedir. — Ela mal terminou a frase e ele estava com a palma da mão cobrindo o rosto vermelho. — E também disse que você é quem mandava agora. Mas nada importante, não esquenta com isso, foi só há umas 12 horas atrás, acontece!
— Eu esqueço de confiar na sua memória....
— você esquece muitas coisas mesmo...
— Hey! Não precisava concordar...
— Bom, como você mesmo disse, é sua escolha, no seu momento...vou me ocupar com outras coisas enquanto isso...falando nisso...
— O apartamento da Iza?
Ela concordou em silêncio, apenas com cabeça.
— Vou precisar que você fique com as crianças, ou a Marianne?
— Você vai quando?
— Daqui a umas duas ou três horas. Só vou descansar um pouco antes...Aproveitar que todos estão dormindo...O quarto ainda é no mesmo lugar?
— Como sempre foi.
Ally foi se deitar um pouco, aninhando-se ao lado da bebê com os bracinhos abertos no meio da cama. Cobriu-a com o mesmo cobertor que cobria o filho, que dormia enrolado com as pernas (que estavam cada vez mais compridas) dobradas ao lado e a cabeça debaixo do travesseiro, pegou uma outra manta para se enroscar ao lado deles.
Na varanda, o telefone de Norman começava a tocar, uma ligação que já esperava.
— Babaca, como é? Já está em casa?
— De volta às origens.
— E como foi em São Paulo?
— Foi... — tragou o cigarro enquanto pensava no que iria dizer. — Acho que foi bem intenso.
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Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.
ChickLitForam dois anos de esforços, tentado sustentar a relação e finalmente conquistar a confiança de Ally. Mas será que esses esforços bastavam? Com a relação evoluindo ao passo que a carreira de Norman avança, más decisões farão mal a todos. Mas será me...